Chegamos ao fim de junho, mês em que se celebra o dia mundial do Meio Ambiente. Nessa data simbólica, aproveitamos para lembrar a sociedade desse tema para pensar nos impactos do modelo de cidade que estamos produzindo, bem como somos frágeis diante da força dos eventos climáticos extremos.
Quando digo “estamos”, refiro-me a todos nós que fazemos parte dessa trama complexa chamada cidade: poder público, empresas, comunidades, moradores... todos somos agentes da dinâmica que a constitui. Legislações, hábitos de consumo, estilo de vida, discursos e exemplos que seguimos e apoiamos em processos eleitorais, são fundamentais para o retrato que temos hoje em relação ao meio ambiente.
Sou defensor da tese do ‘pense global, aja local’. Poderia ilustrar a urgência das consequências do nosso modelo de desenvolvimento falando sobre as enchentes no sul, o fato de 2023 ter sido o ano mais quente já registrado no mundo e as grandes secas afetando a produção de alimentos, enfim, dezenas de outros exemplos que você certamente também se lembrará se pensar na enxurrada (literalmente) de eventos vistos nos últimos anos. Localmente, é impossível não pensar no sofrimento com as temperaturas, que são intensificadas ano após ano. Cuiabá sempre foi uma cidade quente, mas não há precedente para o que está acontecendo.
Há uma brincadeira popular entre os cuiabanos ao se referir as estações do ano na cidade, elas são descritas como calor, mormaço, verão e inferno. Infelizmente estamos cada vez mais próximos dessa realidade. No ano passado fomos o epicentro da onda de calor, tivemos o dia mais quente do mundo registrado em nossa cidade e o verão desse ano registrou a maior média de temperatura dos últimos 30 anos. O prognóstico para os próximos meses? Devemos ter dias muito mais quentes do que o habitual e chuvas abaixo da média histórica. As consequências do colapso climático serão sentidas em maior ou menor proporção em cada local, estamos em uma cidade que sempre foi quente, com médias maiores que outras, mas estamos caminhando a passos largos para um cenário ainda mais desastroso.
Quando falamos em cidade e estratégias locais, o primeiro passo é diagnosticar e reconhecer o problema. A partir disso, estruturar planos ambientais focados em mudanças climáticas e executar ações concretas. Infelizmente, ainda estamos muito longe dessa realidade. Não bastasse nosso atraso em buscar reverter as mudanças climáticas, o planejamento e a gestão urbana nem sequer tocam nos desafios colocados pelos eventos extremos. Por outro lado, enquanto sociedade caminhamos para hábitos de consumo cada vez mais insustentáveis e uma busca por identidade política que circula exclusivamente por vieses ideológicos, e não por boas soluções.
Em ano eleitoral, aconselho aos leitores que valorizem discussões e propostas sérias sobre meio ambiente e clima. É importante acompanharmos se os gestores públicos têm ações e propostas para lidar com esse desafio, mas não nos esqueçamos das nossas próprias ações e dos discursos que reproduzimos. As consequências do descaso com o meio ambiente estão aí, em formato de crise climática. Reconhecê-las é a única solução para implantar estratégias que amenizem a situação, garantindo conforto e qualidade de vida para nós e para os futuros habitantes das nossa Cuiabrasa.