O Papa Francisco, se tornou uma referência internacional em relação aos grandes desafios da humanidade neste momento da história, sobretudo em relação à crise socioambiental e climática. Em sua encíclica Laudato Si (louvado seja-2015), sobre o cuidado com a casa comum e na exortação “Laudate Deum”(Louvai a Deus-2023), sobre a crise climática, ele faz um chamamento para todos os homens de boa-vontade, para colaborar com a salvação do planeta, a nossa casa comum.
Porquanto, como somo seres vivos, somos parte do meio ambiente. Somos frutos do ar que respiramos, da água que bebemos e dos alimentos que consumimos. Portanto, a destruição do planeta é, também, nossa destruição. Há uma percepção clara que o avanço do aquecimento global vem causando eventos climáticos cada
vez mais extremos, com mais velocidade e mais intensidade. Não são castigos Divinos, mas consequências das ações ou intervenções nocivas e agressivas humanas na natureza.
Na verdade, os eventos climáticos extremos são vinganças da própria natureza contra sua depredação. É dentro deste contexto que se situa esta iniciativa do Papa Francisco de propor a celebração do “Tempo da criação”. Sem dúvida, é uma iniciativa educativa muito sugestiva e oportuna. O tempo da criação terá início no dia 1º de setembro, com a missa de abertura, às 9h, na Catedral e vai até o dia 4 de outubro, festa de S. Francisco de Assis, patrono da ecologia.
Em que consiste o tempo da criação? É tempo de reflexão, discussão e oração pelo planeta e pelo fortalecimento da consciência ecológica e ambiental. Os esforços das Instituições públicas de defesa do meio ambiente são louváveis e importantíssimos, porém, é indispensável e absolutamente necessária a participação, de cada cidadão. O tema para o Tempo da Criação de 2024 é: “ESPERAR E AGIR COM A CRIAÇÃO”. São as “primícias da esperança”, inspirado na Carta aos Romanos (8,19-25).
Os tempos em que vivemos mostram que não nos relacionamos com a Terra como um presente do nosso Criador, mas como um recurso a ser utilizado. Olhar a natureza só como instrumento de lucro, é uma relação deletéria com a natureza. “A Criação sofre”; devido ao nosso egoísmo e ações insustentáveis que a prejudicam, mas nos ensina que a esperança está presente na espera, na expectativa de um futuro melhor.
O sétimo mandamento da lei de Deus diz: Não furtarás”. Este mandamento da santa lei de Deus tem uma dimensão social e ambiental. Manda respeitar, também, a integridade da criação, não se apropriando, egoisticamente, dos bens da natureza, como os seres animados (vivos) e inanimados (solos, águas, ar, pedras), os animais e plantas, os quais estão, naturalmente, destinados ao bem comum da humanidade: passada, presente e futura (Catecismo da Igreja Católica, n. 2415). A encíclica Laudato Si afirma que hoje, “temos uma verdadeira dívida ecológica” (Ls,51).
Recordo, também, as palavras do secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, na COP 27: “estamos na estrada para o inferno climático. A humanidade tem uma escolha: cooperar ou perecer, ou é pacto de solidariedade climática, ou um pacto de suicídio coletivo”. Em 2021 criamos na Arquidiocese de Cuiabá, com ajuda de alguns leigos e leigas, com boa formação científica e ambiental, a pastoral da ecologia integral na arquidiocese de Cuiabá, inspirado no estudo da “laudato Si”.
A Pastoral da ecologia Integral é uma pastoral transversal e não setorial, isto é, perpassa todos os grupos, pastorais, movimentos e associações eclesiais. Ela busca mobilizar as forças vivas da Igreja para uma ação orgânica em defesa da natureza e da proteção ambiental. São temas que já fazem parte dos conteúdos da catequese das crianças. A pastoral da Ecologia lembra que Deus privilegiou Mato Grosso com sua obra criadora, emoldurando a nossa cidade verde com três ecossistemas: Pantanal, Cerrado e Amazônia.
Temos responsabilidade de preservar para as gerações futuras os encantos e exuberâncias desses três biomas naturais. É preciso pensar globalmente e agir localmente, cada um fazendo a sua parte e agindo no seu quadrado: limpando a calçada e o quintal, cuidando das plantas ornamentais das ruas, plantando arvores frutíferas, evitando queimar o lixo no quintal ou jogando-os nos córregos e organizando o lixo seletivo (orgânico e reciclável). São medidas simples, fáceis, e fazem a diferença no mosaico da sustentabilidade ambiental. A natureza agradece!