A festa do Divino Espírito Santo, cujas origens remontam ao tempo do Brasil Império, é a mais antiga e tradicional festa cultural-religiosa de Cuiabá, com 190 anos de existência. Ela acontece anualmente no período do Tempo Pascal, nos dias que antecedem a solenidade de Pentecostes, a festa litúrgica da Igreja Católica, em que se celebra a vinda do Espírito Santo.
O Coxipó do Ouro é uma aprazível localidade há 27 km de Cuiabá, situada à margem do rio de mesmo nome, em cujas águas, límpidas e frias, o cuiabano se refresca do calor, nos finais de semana. Filha direta do Coxipó do Ouro, Cuiabá nasceu do Arraial de Forquilha, criado pelo Bandeirante Paulista, PASCOAL MOREIRA CABRAL, no dia 08 de abril de 1719.
Visando o resgate dessa tradição religiosa e cultural da comunidade-mãe-de-Cuiabá, um grupo de filhos naturais e adotivos do Coxipó do Ouro resolveu retomar, com todas as pompas e circunstâncias, a realização das FESTAS DO SENHOR DIVINO, DE SÃO BENEDITO E NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, como eram realizadas antigamente.
"Eu conheci essa festa no início da década de 70, quando ainda namorava a minha atual esposa, Mariley. Naqueles tempos, Cipriano de Freitas, André de Freitas, Tenente João Pedroso, Mario Amorim, Adolfo Vilela e tantos outros, eram os troncos das famílias tradicionais da localidade, e se sucediam na responsabilidade pela realização da festa. Eram três dias de festa. De muita fartura, muita comida, música, dança e alegria. Vinha gente de todas as partes.
De Cuiabá, de Chapada dos Guimarães e de outros municípios. A comida era gratuita, gostosa e abundante. Trabalhava-se dia e noite. Durante o baile de sábado, havia o Leilão de Mesa das prendas doadas pelos fiéis e colaboradores. No baile, regado a cerveja, licor de leite e cachaça, o famoso arrastapé comia solto a noite inteira. No domingo, havia missa, almoço e leilão de gado. Infelizmente, os patriarcas se foram para o andar de cima e as novas gerações, com o tempo, perderam o encanto com a comunidade. Pouco a pouco a festa se tornou um tímido arremedo daquele acontecimento de outrora. O Ranchão foi derrubado. A velha Igreja quase caiu. Os apetrechos utilizados na realização da festa ou estragaram ou desapareceram", diz Maurides Celso Leite - festeiro de 2012.
"Meus avós Benedito Santana Pedroso e Benedita de Oliveira Pedroso se conheceram atraves da festa do Divino Espirito Santo do Coxipo do Ouro em 16 de maio de 1942 e consecutivamente o irmao Joao Batista Pedroso conheceu a Ana Benedita Pedroso (ambos irmaos de meus avós), naquele tempo a unica forma de locomoção era através de cavalo e desta forma os dois casais tiveram lindas historia com direito a duas bodas de ouros e muitas emoções", informa Thiago Calaça Pedroso - Imperador 2017.
Os amigos conhecidos como Seo Renato e Seo Joaquim se consideram o pé e a mão da festa, na qual são voluntários há mais de 50 anos.
Joaquim Paz Martins da Cruz, o Seo Jaoquim, de 78 anos, atualmente toca percussão durante a passagem da bandeira, mas já fez de tudo um pouco na festa do Divino do Coxipó do Ouro. Ele coordena a atividade à frente da esmola dos devotos, com propriedade de um barzinho na entrada do Distrito e as funções de raizeiro e benzedor.
Em 62 anos acompanhando a bandeira e 55 anos exercendo a função de sanfoneiro do Divino, Renato Soares do Nascimento, o Seo Renato (já falecido), falava com orgulho sobre a comunidade. Ele contou que no Coxipó foi celebrada a primeira missa de Cuiabá, ainda pelos bandeirantes, que vieram à procura do ouro. Seo Renato que, aos 74 anos, ainda atuava como pedreiro e lavrador, cantava e abençoava os trabalhos na peregrinação da bandeira. Ele fez história e deixou uma herança cultural e religiosa na região.