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Artigos / Colunas / Vivaldo Lopes

28/03/2019 às 23:08

Exuberância Irracional

Em meados dos anos 1990, Alan Greespan, o mitológico presidente do Federal Reserve (FED), o Banco Central americano, utilizou pela primeira vez o termo “exuberância irracional” para descrever a bolha econômica surgida no mercado de capitais americano com o estratoférico crescimento das ações das jovens empresas de internet e tecnologia. Usou o termo para afirmar que as empresas não tinham sustentabilidade financeira na mesma proporção da fama que obtiveram em curto espaço de tempo. O tempo deu razão a Greespan.

Tenho participado de seminários, encontros e colóquios com empresários, analistas econômicos, analistas políticos, estudantes, e uma pergunta tem sido recorrente: qual a razão de tantas empresas ligadas ao agronegócio entrarem em recuperação judicial, se este setor é a locomotiva da economia do Estado, o que mais cresce e o que mais acumula riquezas.

Os dados que analisei confirmam que grande parte das empresas que pediram recuperação judicial tinham como atividade principal o agronegócio, forneciam insumos para o setor ou localizavam-se em cidades que floresceram em torno do agro. Algumas, inclusive, de grande porte, consideradas gigantes do setor.

É inquestionável a força do agro na atividade econômica do Estado. Estudo da Fundação Getúlio Vargas, confirma que a cadeia produtiva do agro responde por 50,6% do PIB do Estado. Dados da economia dos estados divulgados pelo IBGE indicam que no período de 2002 a 2016 o PIB de Mato Grosso teve crescimento médio anual de 4,7%, enquanto o PIB do Brasil no mesmo período cresceu anualmente 2,5%. Nesse período, a atividade agropecuária apresentou crescimento médio anual de 5,9%.

Nos anos de 2005 e 2006 o agro sofreu a maior crise de sua história recente ocasionada por fatores como elevado endividamento, baixa liquidez, aumento dos custos financeiros, redução da demanda mundial e queda de preços. De 2007 até 2018 o setor viveu período de bonanza econômica, com aumento mundial do consumo de commodities agrícolas, puxado pela China, safras recordes, bons preços internacionais e farta oferta de crédito subsidiado. Nesse período consolidaram-se grupos empresariais locais e surgiram novos. Investimentos em pesquisas aplicadas, capacitação do capital humano e intercâmbios internacionais aumentaram exponencialmente a produtividade do setor e elevaram a competitividade das empresas a ponto de torná-las mais competitivas que as dos setores industrial e de serviços. Deixaram de ser simples fazendas e passaram a ser empresas globais. Além disso, o agro teve suas terras, seu principal ativo, supervalorizadas no mesmo período de tempo. Entre 2007 e 2018, de longe, as terras agrícolas foram os ativos que mais valorizaram em Mato Grosso.

Mesmo nesse cenário econômico tão favorável, proporcionalmente, o agro é setor que mais apresentou pedidos de recuperação judicial. Pode ser apenas a depuração natural que o mercado faz. Preserva os mais criativos e competentes e elimina os menos competentes ou que não acompanharam as atualizações tecnológica e de governança que um mundo tão competitivo está a exigir. Pode ser também que o segmento tenha vivido seu período de exuberância irracional e o choque de realidade está demonstrando que as bolhas econômicas têm prazo de validade. Como aliás, demonstra a história econômica, desde a primeira bolha, a das tulipas holandesas até a imobiliária americana de 2008.

Vivaldo Lopes

Vivaldo Lopes
Vivaldo Lopes, economista formado pela Universidade Federal de Mato Grosso. Pós-graduado em  MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/US.
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