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Artigos / Colunas / Patricia Capitanio

11/05/2023 às 08:23

Mãe, desperte a consciência financeira do seu filho!

Ser mãe também é cuidar do futuro financeiro dos filhos. Podemos usar o cenário atual brasileiro, que aponta para um superendividamento de 78,3% das famílias (Pesquisa CNC, 2023), para iniciar um novo projeto: a educação financeira das nossas crianças e dos jovens. A proposta é transformar o caos em aprendizado para toda a família. 

Na primeira infância, as atividades podem envolver a compreensão de valores e a noção de troca com os brinquedos, por exemplo. Quando a criança entende a diferença entre os números e já sabe que 10 é “mais caro” do que 5 (reais), fale abertamente sobre a importância do dinheiro. Mostre de maneira positiva o quanto ele nos proporciona coisas muito legais e importantes. 

Na adolescência, é necessário ser mais didático sobre planejamento a longo prazo, conta em banco e crédito responsável. Os jovens precisam ter mais autonomia para fazer escolhas e até oportunidade de “errar”, mas devem estar cientes de que cartão de crédito, limite da conta e empréstimo pessoal são, hoje, grandes vilões no endividamento. Ou seja, não é brincadeira, não! 

Um bom método para ajudar seu filho a ter habilidade com dinheiro é utilizar uma mesada semanal ou mensal, que pode começar por volta dos 3 ou 4 anos de idade. Assim, ele começa a administrar as próprias finanças. É importante deixar claro “o que a mesada cobre” e “quais expectativas em relação ao dinheiro”. O valor justo depende de fatores como idade da criança, necessidades e despesas da família. 

Os pais precisam cumprir a palavra e não falhar nenhuma semana ou mês, além de não “pegarem emprestado” esse dinheiro. A minha orientação é definir um montante que não comprometa a renda da família e que sirva de “exercício” para trabalhar noções de imediatismo e recompensa. Leve seu filho a internalizar as perguntas mágicas para o sucesso financeiro: ‘Eu realmente quero?’, ‘Eu preciso?’, ‘Eu posso?’. 

Construir um mural dos sonhos pode ser algo divertido e lúdico para fazer as crianças. Elas poderão aprender a importância de não satisfazer uma vontade imediata para realizar algo muito mais legal lá na frente (bicicleta, videogame, televisão, viagem). Portanto, a mesada não se trata de “dar dinheiro” e sim oportunizar aprendizados, entre eles, sobre poupar, investir e doar; que dinheiro é um meio para realizar objetivos; e que teremos de aprender a dizer “não”. 

Esse processo de construção de uma nova mentalidade pode ser decisivo na qualidade de vida do indivíduo, levando-o a gerir seus recursos de maneira consciente, responsável e saudável na vida adulta. Deste modo, seu filho poderá compreender que é possível construir um patrimônio em longo prazo por meio de boas escolhas e dos famosos “juros compostos”. Ser rico é bom e pode nos garantir uma velhice tranquila, concorda? Já se planejou para isso? 

Infelizmente, observo que muitas vezes a educação das crianças é pautada por alguns exageros, seja para tentar compensar algo de ruim que aconteceu na própria infância (“Não vou deixar faltar nada aos meus filhos”) ou na tentativa de justificar a ausência ou falta de afetividade. No entanto, estimular o consumismo pode ser tornar um hábito muito perigoso e gerar sofrimento ao seu filho. 

Visão de futuro é tudo para crianças e jovens. O quanto antes pensarem sobre o dinheiro da faculdade, do primeiro carro, da casa própria, de viagens de intercâmbio e outros sonhos que eles podem ter ao longo da vida melhor. Não é correto os pais se endividarem para fazer nada disso, o melhor é trazer seu filho para traçar planos usando o dinheiro da mesada e desenvolvendo desde cedo o empreendedorismo. 

Pense que a vida financeira é reflexo do que vivemos na infância, nossos pais ensinaram o valor dinheiro a partir da forma como falavam e lidavam com a vida financeira. Poupar, pedir desconto, conferir troco, negociar e avaliar juros do cartão precisam ser uma prática rotineira. Quando não somos educados para lidar com dinheiro, quando isso é um tabu, viramos alvos vulneráveis de armadilhas e golpes. 

Gosto de exemplificar usando uma tirinha do cartunista argentino Quino, em que a personagem Mafalda – uma menina muito questionadora - liga a televisão e é bombardeada por várias mensagens: “Use! Compre! Beba! Coma! Prove!”. “O que eles pensam que nós somos?” “O que nós somos?” “Os malditos sabem que ainda não sabemos”. Mãezinha, se você quer que seu filho seja bem-sucedido, precisa despertar a consciência financeira nele hoje! 

Patricia Capitanio

Patricia Capitanio
* graduada em Ciências Contábeis, com MBA em Auditoria e perícia Contábil, Liderança e Coaching e Gestão Organizacional, palestrante, escritora, mentora e consultora em gestão financeira 
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