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22/07/2020 às 14:52 | Atualizada: 22/07/2020 às 15:09

Quando dei por mim, já tinha 30

“Tenho sonhos adolescentes, mas as costas doem”. A frase que compõe uma das músicas mais populares da carreira solo da Sandy define bem o que estou sentindo ao chegar na casa dos 30 anos. Não tanto pela dor em partes do corpo (as costas doem já faz um tempo), mas pelos ideais que não envelheceram.

Nos últimos anos a malfadada “crise dos 30” é um assunto corriqueiro nos meus grupos de amigos (formados majoritariamente por nascidos no final da década de 80 e início dos anos 90). Todos sempre falam com temor sobre a chegada da idade. Eu, particularmente, estava ansioso para soprar as velinhas 3 e 0. Primeiro que adoro aniversários e segundo que sou aficionado por números redondos (10, 15, 20...).

Mas, para alguns, chegar aos 30 é ter a sensação de que a vida já deveria estar de outro jeito ou de que o espírito ainda é de um jovem de 18 anos. No entanto, a certeza é de que o tempo passa mais rápido do que deveria.

Particularmente, me surpreendo com a minha idade. Seja franco (a), olhando para minha foto, você diria que já tenho 30?! (por favor, mentiras sinceras me interessam)

Nasci em 1990, quando meus pais tinham 32 anos, o auge da responsabilidade. Pelo menos essa era a imagem que tinha dos que estavam nessa faixa etária. A gente foi educado com essa fantasia de que depois dos 30 não há mais espaço para a insegurança ou imaturidade, que tudo que poderia ser conquistado, já havia sido (ou perdido), mas sinto que isso mudou.

Me surpreendo com tudo pelo que sou responsável, mas ainda me sinto jovem (só sem paciência para os dramas dos 20 anos e a resistência para encarar festas lotadas e sem uma cadeira) e com uma eterna vontade de ligar para minha mãe resolver problemas, como o atraso na entrega de uma compra online.

Tentando listar as minhas maiores crises até aqui, lembro do período tenso do pré-vestibular, em que precisei escolher um curso que definiria o resto da minha vida. Aos 20 e poucos anos, conquistei a liberdade para assumir minha sexualidade. Dos 28 para 29, comecei a temer a estagnação da minha carreira profissional (medo de continuar fazendo algo que não me completa, só para garantir um salário no fim do mês).

Apesar do questionamento de que minha vida deveria ser outra (sempre melhor, né?!), acabo por me surpreender com as conquistas que já tive. Ano passado, por exemplo, viajando para Chapada dos Guimarães em meu carro, minha mãe me disse: “quem diria que um dia estaria viajando em seu próprio carro, hein, filho?!”.

Assim é a vida, por mais que haja planejamentos, nossas conquistas chegam no tempo que não podemos controlar. Quando nos damos conta, já aconteceu.

A gente espera que com 30 as coisas se transformem milagrosamente, mas é a mesma idealização de completar 18, quando você crê que, de repente, não vai precisar dar satisfação da sua vida para os seus pais. Chega meia-noite, já não é o dia do seu aniversário, e você continua obrigado a seguir sua rotina (que nesse período de pandemia tem sido infernal).

Sempre tive medo de morrer jovem, mas agora que não sou, será que tal medo acaba? Será que é a partir de agora que começo a paranoia de envelhecer? Por quanto tempo esses “sonhos adolescentes” vão continuar existindo? Bem, não sei responder tais questões.

No entanto, também me questiono se tais crises são reais ou até que ponto são meio que fomentadas, para que continuemos nos forçando a ser criativos e produtivos. Só sei que, na idade que estou, tenho conseguido respeitar mais o meu tempo e me cobrar menos por resultados que, na maioria das vezes, são idealizados.

Idealizei muitas coisas para essa fase da minha vida, algo bem parecido com aquele meme “expectativa x realidade”. Mas, como acho que preciso terminar esse texto com uma mensagem positiva (longe de querer parecer ser exemplo de algo), digo que completo 30 anos sendo a minha melhor versão e tendo um tanto ainda para ver!

 
 
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