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04/12/2020 às 09:09

Quem decidiu o segundo turno

Uma das marcas desse pós-segundo turno em Cuiabá tem sido o apontamento de responsáveis pelo resultado final,  diante do acirramento e da virada inédita em cima da hora. Cada um tem seu “culpado favorito” pela derrota de Abílio Brunini (Podemos) ou vitória de Emanuel Pinheiro (MDB), a critério do leitor. Na segunda-feira o placar estava Abílio 48% x Emanuel 40% e na sexta empate em 45%. Esses 45% de cada somavam 90% e os votos válidos deram 50% a 50%, pela pesquisa Ibope. A urna trouxe resultado dentro da margem de erro e muito próximo disso.

Prefiro me concentrar no eleitorado evangélico. Este segmento foi uma das duas grandes forças motrizes da candidatura de Abílio Brunini, junto com aqueles que rejeitavam o prefeito Emanuel Pinheiro. Pelo fato dele ser evangélico e de ligação familiar com a cúpula da Assembleia de Deus. Cuiabá nunca tivera um candidato tão identificado com as igrejas evangélicas como ele e a vantagem eleitoral gerada ali sempre foi uma alavanca importante para o Abílio.

Portanto, era um setor do campo político que não poderia ter sido desprotegido pelo candidato do Podemos, uma vez que era a sua base fundamental. Ele focou mais naqueles que avaliam mal a administração Emanuel Pinheiro e/ou o rejeitavam, mas esqueceu dos irmãos de fé. Este erro acabou sendo fatal, como pretendo demonstrar.

A pesquisa de segunda (23) trouxe os seguintes resultados para esta faixa do eleitorado. 61% Abílio Brunini e 29% Emanuel Pinheiro. Uma diferença de 32% num grupo que representa 26% do total, de acordo com a referência adotada pelo Ibope. Quer dizer, era uma frente de 8,32% no colégio eleitoral. Uma vantagem muito valiosa numa eleição que terminou o primeiro turno com uma margem de 8.000 votos para o vencedor, ou 3% dos válidos.

Na pesquisa de sexta (27) Abílio caíra para 49% contra 43% de Emanuel Pinheiro nesse setor crítico. Estavam empatados, dentro da margem de erro de 4%. Abílio perdeu 12% e Emanuel ganhou 14% em 4 dias, num efeito combinado de 26%. Esse valor corresponde a 6,76% dos votos totais ou cerca de 7,4% dos válidos, sendo que o resultado final ficou em 2,5%. Portanto, esse deslocamento respondeu por três vezes a diferença entre os dois candidatos.

Neste caso temos que avaliar o impacto das acusações de corrupção dentro da igreja que Emanuel fez a Abílio, assim como a identificação do candidato do Podemos com o demônio, que seria o pai da mentira de acordo com um versículo do Evangelho de João lido pelo prefeito. Mas é preciso considerar ainda o chão de fábrica das campanhas, marcado pela relação com as chamadas lideranças. Boa parte dos líderes evangélicos priorizam voto em candidatos que pertencem a este grupo, mas outros não. Acabam sendo mais abertos para negociação. A meu ver este foi o fator fundamental para explicar o resultado, porque é um setor que Abílio teve e poderia ter garantido até o domingo. Além dos méritos da campanha de Emanuel em abordá-lo.

Houve variações em outros segmentos também, como os eleitores com curso superior, onde a diferença pró-Abílio era de 6% na segunda e mudou para – 11% na sexta-feira, numa virada de 17%. Emanuel acabou vencendo ali por 57% a 43% dos votos válidos, contra o resultado oposto entre os eleitores que possuem o nível fundamental. As falas de Emanuel nos debates e no horário eleitoral sobre o despreparo de Abílio e seu perfil demagógico podem ter pesado para essa mudança nas intenções de votos.
 
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