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Notícias / Cinema

06/09/2021 às 14:55

Filme homenageia irmãos Calhao, fundadores do Muxirum Cuiabano

Movimento cultural foi fundamental para a consolidação da identidade da cuiabania

Entretê

Filme homenageia irmãos Calhao, fundadores do Muxirum Cuiabano

Foto: Assessoria

O projeto 'Os Irmãos Calhao e o Muxirum Cuiabano' prevê um documentário e uma exposição fotográfica em homenagem a Ulisses e Ernani Calhao, irmãos que tiveram participação de destaque, junto a outras personalidades locais, na criação do movimento cultural Muxirum Cuiabano. O produto audiovisual, homônimo ao projeto, é dirigido por Leonardo Sant’Ana e produzido pela Terra do Sol Filmes.

As gravações foram concluídas na primeira semana de setembro e agora o média-metragem (entre 30 e 40 minutos) entra na etapa de pós-produção. A exposição fotográfica ainda está em fase de catalogação. A previsão é que os dois produtos artísticos sejam lançados, de forma simultânea, até o final deste ano.

O filme resgata e contextualiza o Muxirum Cuiabano, importante acontecimento que contribuiu para a consolidação de elementos tradicionais, populares e ribeirinhos na iconografia da cultura mato-grossense. A produção enfatiza o protagonismo de dois agentes deste movimento, os irmãos Ulisses e Ernani Calhao, herdeiros do tradicional sobrenome pertencente a uma das famílias pioneiras no ramo da comunicação em Mato Grosso.

O diretor Leonardo Sant’Ana acredita que o filme “vai mexer muito com a nostalgia da cuiabania, porque mostra como o Muxurim possibilitou que elementos tradicionais dessa cultura exclusivamente cuiabana se expandissem a ponto de se tornarem elementos de uma cultura mato-grossense”.

O projeto foi contemplado no edital 'Conexão Mestres da Cultura – Marília Beatriz de Figueiredo Leite', promovido pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel/MT), com recursos da Lei Aldir Blanc.

Muxirum Cuiabano
Muxirum é um neologismo que significa mutirão ou trabalho comunitário. Fundado em 1989, o movimento foi encabeçado por uma série de personalidades locais. Além dos irmãos Calhao, destacam-se Josephina Paes de Barros Lima, Wanda Marchetti, Adi de Figueiredo Matos, José Marciano Cândia (Pepito Cândia), Lucia Palma, Abel dy Anjos, Aníbal Alencastro, dentre outros artistas, pesquisadores, historiadores, políticos, agentes culturais, jornalistas, empresários, estudantes, funcionários públicos, etc.

“Tínhamos conosco pessoas ilustres, intelectuais, mas tínhamos principalmente a base, o povo de verdade, que entendia a nossa linguagem, por isso o movimento ganhou corpo. Foi tudo baseado num sentimento verdadeiro”, ressalta Ernani.

O movimento se manteve ativo por quase uma década e tinha como propósito a salvaguarda de patrimônios imateriais e materiais de Cuiabá, mediante ações de divulgação, conscientização e valorização. “Era um movimento de pessoas dispostas a repensar a história, um movimento de resistência. Resistência àquela possível perda dos nossos valores culturais”, relembra Ernani.

O contexto da época justificativa este temor, afinal a população passava a assimilar a narrativa de que a cultural local era inferior às demais, tanto as trazidas pelos imigrantes, em sua maioria sulistas, quanto as propagadas pela televisão, majoritariamente do eixo Rio-São Paulo.

“O processo de urbanização de Cuiabá e esse fluxo migratório muito intenso fez com que a cidade crescesse muito rápido. E isso ameaçava elementos que faziam parte do imaginário e tradição da população local”, explica Leonardo.

A revitalização das festas de São Benedito e do Senhor Divino foi um dos grandes feitos do movimento. Ambas, aliás, estiveram à beira do esquecimento naquele período. Portanto, se hoje são duas das manifestações religiosas mais tradicionais e populares do estado, este reconhecimento passa pelas mãos e ações do grupo.

O Muxirum também teve papel de destaque na preservação da memória arquitetônica da cidade, além da permanente luta pelo legítimo reconhecimento público de manifestações artísticas e culturais locais, como o siriri e o cururu, o rasqueado, a gastronomia, o “djeito” de falar, o artesanato, dentre outras formas de expressão que constituem a identidade local.

“Começamos com o intuito de olhar para as nossas bases, nossas raízes. E quando a gente faz o levantamento desta memória e percebe tudo que se conquistou em termos culturais para Mato Grosso é extremamente gratificante”, relata Ulisses.

Pedido de desculpas em forma de filme

O diretor conta que teve contato com o Muxirum em meados dos anos 90, período em que o movimento já estava bem estabelecido. Ele revela que, na época, se identificava mais com o rock e o movimento underground, que até então eram preteridos quando se tratava de políticas públicas. “A gente sentia que faltava incentivos para a cultura urbana, porque se fomentava mais produções culturais que tivessem esses elementos da cultura cuiabana”, relembra.

Mas, como a vida é dada a certas ironias, Leonardo Sant’Ana se tornou, com o passar do tempo, um documentarista com trabalhos marcantes justamente sobre personagens históricos relacionados às tradições e à cultura mato-grossense. Esta curiosidade pessoal faz com que o diretor encare esta obra de uma maneira especial.

“Além de ser um agradecimento e um pedido de desculpas aos irmãos Calhao e ao Muxirum Cuiabano, esse filme também é uma declaração de amor a este movimento vanguardista e moderno que ainda reverbera no contexto cultural contemporâneo, movimento que foi capaz de canonizar como ícones da cultura mato-grossense elementos tradicionais da cultura cuiabana”, ressalta Leonardo.


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Da assessoria
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