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Notícias / Música

05/05/2020 às 10:30

Festival de lives promove conexões e inaugura cena experimental em MT

Apesar do contexto desafiador, a experiência do Ixpia o Festival aponta para um novo momento da música independente

Maria Clara Cabral

Festival de lives promove conexões e inaugura cena experimental em MT

Estreia do Ixpia o Festival. Imagem: Divulgação/Rauni Vilasboas

Foto: Divulgação/Rauni Vilasboas

Sabe quando você vai a um festival para assistir certa banda ou artista e acaba conhecendo outras? No Ixpia o Festival, mesmo online,não foi diferente. Como as lives aconteciam no perfil do Instagram das atrações, que, minutos antes do show, se conectavam com um apresentador no perfil do festival, o fluxo de seguidores entre os artistas, produtores e comunicadores aumentou bastante nos dez dias de festival.

“No meu perfil foram pelo menos 50 seguidores nas últimas semanas”, relata o músico Henrique Maluf. E como também é comum de eventos coletivos, mais do que público, o festival mobilizou conexões entre os próprios músicos que se apresentaram à ocasião. “Estávamos em um grupo de mais de 80 músicos e produtores. Teve muita troca bacana entre as pessoas, a maioria muito engajadas, e o festival criou essa atmosfera bem legal nesse período. Fiz amizades, conheci artistas e trabalhos muito bons que eu ainda não conhecia”, complementa.

Soaria contraditório se, há alguns meses atrás, alguém dissesse que a cena musical estaria engajada em distanciamento social. Mas esse foi um fato destacado por boa parte de artistas e público da música mato-grossense que vivenciaram a primeira experiência do estado com um festival de lives, realizado entre os dias 24 de abril e 3 de maio.

Shows transmitidos ao vivo pelas redes sociais em pouco tempo se tornaram comuns pelo mundo, que enfrenta um vírus de alta contaminação. E apesar do contexto desafiador, para os mais otimistas a conexão online aponta para um momento de retomada de festivais e experiências coletivas no cenário independente – seja online, em tempos de Coronavírus, ou nos palcos, quando tudo isso passar.

Com um recado bem claro frente à pandemia, o formato de shows dispensou o contato e a circulação de pessoas, mas não o intercambio. Se fez som de Cuiabá, Cáceres, Rondonópolis, Chapada dos Guimarães, São Paulo, Florianópolis, Canadá e Lisboa para qualquer lugar do mundo, promovendo reencontros. Mostrou-se, assim, que para além de origens e endereços, Mato Grosso também se faz na sonoridade.


Ixpia o Festival, dia 7. Imagem: Divulgação/Rauni Vilasboas

E ao contrário do que se pode pensar, o espaço não coube somente a uma nova geração, rolou de Capileh Charbel (pai) a Theodora Charbel (filha). Rádios da capital e do estado também entraram nessa empreitada, reinventando antigos formatos. Depois de festival de lives, o Ixpia se tornou programa musical, capitaneado pelo músico Raul Fortes, todos os domingos, a partir das 11h, na Rádio Capital FM.

Experimentos musicais

“Já imaginou uma rádio pública estadual transmitindo lives do Instagram?”, questiona o músico Rauni Vilasboas, integrante da banda cacerense O Mormaço Severino e um dos idealizadores do Ixpia o Festival. É que os ouvintes da Rádio Assembleia também puderam acompanhar as transmissões de 70 shows, com comentários.

Por hora, o certo é que a maratona resultou em muita experimentação. Para alguns, foi preciso se despir das técnicas; para outros, uma oportunidade de testar e exibir todo repertório tecnológico. A maioria artistas se apresentaram sem banda e instrumentos de apoio, seguindo as recomendações dos órgãos de saúde
para evitar aglomeração. Para as cantautoras Deize Aguena e Luciana Bonfim, por exemplo, bastou gogó.

E nem o “vácuo” de aplausos no fim das músicas foi problema para quem acompanhava comentários engajados e o explodir de corações na tela. Teve quem alegou ouvir o coro cantando junto e a interação do público foi para os artistas um ato de acolhimento. Durante sua apresentação – muito aclamada – a cantora e compositora Paula Shaira, por exemplo, desabafou sobre a importância de um festival ao incentivar músicos em período de isolamento.



Assim como ela, Ana Rafaela, João Reis, Gabriel Carmo e Rauni Vilasboas também aproveitaram o momento para compartilhar com o público resultados da quarentena criativa, apresentando novas composições. Teve até música feita por Anselmo Parabá em homenagem ao Ixpia o Festival.

O músico idealizador do evento, André Coruja, explica que a intenção de levar os shows para uma rede social popular, além de ação social e uma amostra da música mato-grossense, desde o início foi estimular artistas independentes a experimentares novas ferramentas.

“Não foi só uma mostra com 70 artistas, mas uma forma de empoderar músicos que ainda estejam muito habituados a uma lógica mais tradicional”, afirma o mato-grossense pau-radado, natural do Pará, que aproveitou o embalo das novas gerações.

“Temos uma parcela de novos artistas que alcançam um grande público na internet porque nasceram nessa linguagem. E a nossa intenção foi estimular isso, dentro de um grupo muito heterogêneo, para que a gente possa dar vazão à nossa música da forma que parece ser uma das possibilidades nesse momento”.

Edit: em tempo, tomando a palavra e relatando agora a experiência "de dentro". Apresentar um só dia de festival, para mim, foi um intensivão sobre como se comunicar com dezenas, em meio ao silêncio. E ainda conciliar linguagens (escritas, verbais, visuais), dando dinâmica ao tempo, mesmo diante da imprevisibilidade dos "dados" e a falta de domínio da (nada) nova técnica. Ao mesmo tempo, experimentar o conforto que a coletividade permite em qualquer contexto. "Quem sabe faz ao vivo!". Nem tudo mudou.
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