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Notícias / Música

30/05/2022 às 14:33

Alunos do Instituto Ciranda fazem imersão sonora no Pantanal

Projeto leva estudantes em vivência de quatro dias para explorar os sons da natureza

Entretê

Alunos do Instituto Ciranda fazem imersão sonora no Pantanal

Foto: Alex Carney / Instituto Ciranda

Quantos sons o Pantanal pode oferecer? O canto dos pássaros, o barulho das águas, o som do balanço das folhas? O Pantanal é uma orquestra a céu aberto e o Instituto Ciranda, a partir desta segunda (30), vai levar seus alunos para uma vivência de quatro dias a esse bioma mato-grossense. Trata-se da sexta edição do projeto Pantanal Aventura Sonora.

Cerca de 30 pessoas, entre alunos e professores, ficarão hospedados na região de Porto Jofre. E, no retorno da viagem, na quinta-feira (2), farão uma parada no Sesc Pantanal, em Poconé, para apresentar o resultado musical dessa imersão.

Do ponto de vista ambiental, ao explorar o bioma em termos musicais, conscientiza-se sobre a importância de sua conservação. E, no que diz respeito ao fazer artístico, a imersão aguça a sensibilização da escuta, o que é fundamental na formação de jovens estudantes.

Ao longo do programa, os estudantes farão gravações em diferentes locais e horários. A intenção destas escutas reflexivas, concentradas nas sonoridades, é observar interações entre espécies diferentes. “Um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento musical é aprender a ouvir. Quando se exercita isso, há um processo de educação musical, de educação do ouvido, de desenvolvimento da percepção, de ampliação da escuta”, explica Murilo Alves, presidente e maestro do Instituto Ciranda.

A proposta do programa é dividida em três níveis. Primeiro, são trabalhadas possibilidades de escuta e técnicas básicas de composição e improvisação. Depois, com o auxílio de biólogos, aborda-se a ecologia local através do estudo de alguns animais e suas contribuições para o bioma. Por fim, investiga-se como sons individuais se fundem em paisagens sonoras cuja complexidade permite o estudo do bioma como um todo.

A experiência de edições anteriores identificou a existência de certos ciclos e padrões sonoros que operam em faixas acústicas específicas, muitas vezes sugerindo refinada organização. Neste sentido, é possível estabelecer ligações entre a música e os sons pantaneiros. Afinal, se a orquestra possui camadas de vários instrumentos simultâneos, com trechos mais etéreos, rítmicos ou pontilhistas, a natureza também tem seus arranjos.

“É uma trama sonora que, em alguma medida, encontra paralelos com a de uma orquestra. Ela também tem certos parâmetros de organização”, contextualiza Murilo Alves.

Sob essa perspectiva, o projeto se norteia nos conceitos de geofonia, biofonia e antrofonia, termos criados pelo compositor e pesquisador americano Bernie Krause. A geofonia se refere aos sons não biológicos (vento, água corrente, chuva, trovão); a biofonia engloba sons de organismos vivos em habitat natural, com exceção de humanos (aves, mamíferos, répteis); e a antrofonia é todo som derivado da presença humana.

A partir desses conceitos, o programa relaciona o universo pantaneiro ao da música orquestral. “Estabelecemos esse parâmetro de comparação. É como se fossem três sessões da orquestra: das madeiras, das cordas e dos metais. Pegamos essas três fontes sonoras [geofonia, biofonia e antrofonia], como se fossem três sessões, e analisamos como se articulam, como se organizam”, revela Murilo, cuja pesquisa de doutorado investiga justamente a paisagem sonora na região de Porto Jofre.

Após esse processo de imersão, os alunos aplicam a experiência ao fazer criativo. Eles concebem a paisagem sonora como se fosse uma grande orquestra, buscando compor a partir da metáfora entre os conceitos de Krause e as sessões. A proposta não é tentar imitar os sons da natureza, mas conceber uma obra original a partir destas referências.

Em outros anos do Pantanal Aventura Sonora, os alunos criaram músicas a partir dessa experiência. Cada peça, que costuma ter entre seis e sete minutos, foi apresentada nos concertos da Orquestra Sinfônica CirandaMundo. O tema desta temporada será apresentado de forma inédita, nesta quinta, no Sesc Pantanal. “A ideia é descrever a paisagem sonora com seus instrumentos. Isso estimula muito a criatividade dentro do processo de estudo e desenvolvimento musical”, conclui o maestro.

Instituto Ciranda

Criado em 2003, o Instituto Ciranda – Música e Cidadania desenvolve ações nas áreas da educação e cultura, utilizando a música como ferramenta de cidadania. Atualmente, atende cerca de 800 crianças, adolescentes e jovens de diferentes classes sociais e cidades mato-grossenses, sem custo para os participantes.

A instituição conta com três orquestras para aprendizes em diferentes níveis (Sinfônica CirandaMundo, Cirandinha e Primeira Ciranda). Além das aulas práticas, também são ofertados conteúdos teóricos, métodos e partituras.

O Instituto Ciranda conta com parcerias para a manutenção dos programas. A empresa Bom Futuro, Eletrobrás Furnas, Energisa, Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (AMPA), Sesc Pantanal, Unimed Cuiabá e Assembleia Social são alguns desses parceiros.

Com assessoria
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1 comentário

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  • Lucia Palma 30/05/2022 às 00:00

    Parabéns pela iniciativa, q certamente irá maximizar a aprendizagem musical, ampliando-a p os campos da percepção. Conheci o saudoso Jacques Villard, pesquisador do canto dos pássaros. Hercule Florence chamava de "voz" dos Pássaros. Village foi consultor do livro de Florence editado pela Editora Universitária, sob os cuidados do Prof Dr. Fernando Tadeu, diretor da mesma a época. Tb Tete Espindola e Marta Catunda ( falecida), tem excelentes trabalhos na área da zoofonia

 
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