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Notícias / Variedades

24/05/2020 às 12:00

'Revistaria' resiste há 35 anos de digitalização no Boa Esperança

Com a popularização da internet - e agora, a chegada da pandemia da Covid-19 - negócio de família se mantém por fidelidade

Maria Clara Cabral

Localizada em frente à capela São Benedito, a Revistaria Boa Esperança já é conhecida antiga de moradores e frequentadores do bairro. Revistaria porque, pela alta demanda, logo ganhou estrutura de loja fixa. Mas nasceu banca – formato como o comércio é comumente conhecido – em 1985. Nas décadas áureas, ficava lotada de jornais e revistas, no terreno da padaria Uniserv.

“Esse foi o sustento do meu pai desde que ele veio de São Paulo. Ele tirava bastante dinheiro daqui”, conta Luiz Guilherme Bizo, 23. Com a renda do negócio, Dejamir Bizo, 56, conhecido como ‘boy da banca’, possibilitou aos filhos educação privada e comprou uma casa própria para a família logo que Luiz nasceu.

Luiz Guilherme, por sua vez, ficou conhecido como o filho do dono da banca durante a infância e adolescência. Ele lembra que fez sucesso no colégio, entre colegas e professores clientes, por ter à disposição figurinhas para completar os álbuns de Copa do Mundo. Mais tarde, a vivência com os livros, revistas e jornais o auxiliou nas leituras. Luiz estudou Ciências Sociais.

“Fui criado aqui. É rotina, dia-a-dia, então a gente acaba não percebendo muito como isso interfere. Mas me ajudou a ter mais clareza de leitura, tô sempre em contato com matérias escritas. Mesmo que pouquinho, todo dia eu leio alguma coisa”, relata.

Luiz trabalha com o pai na banca desde os 16 anos, conciliando os estudos e revezando os atendimentos com a avó, que hoje se guarda em quarentena. Foi dele a iniciativa de levar a revistaria para as redes sociais, criando um perfil de Instagram como forma de chegar às pessoas em período de pandemia – assim como chegou à reportagem do Entretê.


Revistaria Boa Esperança, quando ainda era banda, em 2007. Foto: aquivo pessoal

Chegada da internet e da Covid-19

Desde a chegada da internet, e agora com a Covid-19, as vendas diminuíram bastante e a renda da família caiu, obrigando-os a buscar novas formas de sustento. O negócio só não dá prejuízo, porque a compra das distribuidoras é por consignação, e eles só pagam o que vendem. Com a pandemia, a loja tem recebido menos produtos. “Quando chega tem que correr para pegar porque está sendo pouca atualização”, conta Luiz Guilherme.

“Hoje está muito mais difícil. Meu pai realmente era uma pessoa bem-sucedida do início para a metade desses 35 anos, vendíamos em massa. Com a popularização da internet, lê-se pouca revista e as novas gerações procuram conteúdo online. Não conseguimos mais sobreviver somente disso”, reflete o jovem.

Por isso, a revistaria também foi se modificando ao longo de seus 35 anos. “Vendemos galão de água, sorvete, picolé, muito cigarro, recarga de celular e até barbeador a gente vende. Mas revista ainda vende também”. As revistas voltadas ao jornalismo político, como Veja e IstoÉ, continuam saindo – ainda mais nesse período de instabilidade – para uma clientela majoritariamente de classe média e composta por adultos e idosos.

Até as novelas serem suspensas, as revistas de fofoca, como Caras e Tititi, também eram bastante vendidas. Caça-palavras, sudoku, palavra cruzada ainda são as principais procuras do público de idade. Já os jovens buscam mais HQ’s e as crianças, que vão à banca acompanhadas dos pais, preferem os Gibis.



Fidelidade


Uma das poucas bancas abertas na cidade, provavelmente a remanescente das lojas fixas de rua e a única da região, a Revistaria Boa Esperança se mantém com um público fidelizado. "Temos clientes principalmente no bairro, de outros bairros da região que já conhecem, tem gente que vem de longe porque não tem opção perto e algumas pessoas perdidas que ligam aqui depois de nos encontrar no Google".

Para Luiz, as mudanças no comércio só não foram maiores pela fidelidade do pai, ao negócio e à clientela, construída ao longo dos 35 anos. “Mesmo com as vendas caindo ele foi tentando melhorar. A família já brigou muito pra mudar o foco, principalmente na época em que conveniência tava muito forte e ainda não tinha nessa região. Mas ele manteve a fidelidade ao negócio".

O jovem diz que, se possível, pretende manter o comércio – o que para o pai nem sempre foi uma escolha. “Acho bacana meu pai ter se mantido nesse trabalho. No início não foi paixão ter uma banca de revista, foi necessidade mesmo. Ele já fez outras coisas, trabalhou de segurança, já passou necessidade, e a oportunidade que ele viu, assumiu um compromisso e fez dar certo”.

Serviço - A Revistaria Boa Esperança está localizada na RuaCinco, 1, Qd 49, Boa Esperança, Cuiabá. Telefone:(65) 3627-6206.
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