Cientistas do Ceará estão se mobilizando para mandar ao Líbano todo estoque que têm depelede tilápia, para tratar pessoas queimadas na explosão da última terça, 4, em que deixou 4 mil feridos em Beirute.
Pesquisadores do Projeto Pele de Tilápia, da Universidade Federal do Ceará (UFC), começaram uma campanha para tentar convencer autoridades brasileiras a facilitar o envio de 40 mil cm² do produto.
Mas a doação esbarra em questões políticas. “Como é um material de pesquisa, os ministérios da Saúde dos dois países precisam se contatarem e autorizarem o envio e o uso. Mas a pesquisa já está bem avançada e os resultados de efetividade de efeito já são comprovados e publicados em artigos nacionais e internacionais”, disse o biólogo Felipe Rocha, pesquisador do projeto.
O tratamento
O tratamento por meio da pele de tilápia funciona como um curativo biológico temporário e evita danos como contaminação.
“Ele age como curativo temporário que evita a troca de curativo, reduz a perda de líquido e a contaminação do meio externo para dentro da ferida. Dependendo da profundidade da queimadura a recuperação pode acontecer em um intervalo de 2 dias a até um mês e meio”, explicou um dos coordenadores da pesquisa, Dr. Edmar Maciel.
Estudos clínicos realizados no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) com mais de 350 pacientes, revelaram que a pele de tilápia tem alto potencial de regeneração, abrevia a dor do paciente, além de reduzir a troca de curativos e os custos operacionais clínicos. O seu uso é indicado para tratamento de queimaduras de 2º e 3º graus.
O produto natural vem sendo estudado no Brasil desde 2014 e em 2017 foi inaugurado oprimeirobanco de pele de tilápiapara uso em tratamentos médicos.
Reconhecimento
A técnica para a recuperação desses pacientes desenvolvida pela Universidade Federal do Ceará (UFC) chegou a ser levada pelaNASAao espaço, foi exportada para curar queimaduras de ursos na Califórnia e começou a ser usada este ano no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Rio de Janeiro para tratarpacientes.
A repercussão positiva dos resultados obtidos com as pesquisas já foram citadas em séries de TV norte-americanas como “The Good Doctor” e “Grey’s Anatomy”.
Anvisa
De acordo com o pesquisador Carlos Roberto Paier, a pele da tilápia é um produto experimental, ainda não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), motivo pelo qual o envio do material ainda é burocrático.
“É preciso ter uma empresa interessada em fazer a transferência da tecnologia. Se a empresa adquirir essa tecnologia e passar a produzir a pele da tilápia industrialmente, o produto poderá ser comercializado e passará a ser fiscalizado pela Anvisa”, explica.
Esta não é a primeira vez que existe a intenção de enviar o produto para o exterior.
No ano passado, a equipe tentou colaborar no socorro a vítimas de um acidente na Colômbia, mas houve entraves com a legislação daquele país, o que acabou inviabilizando o envio.
Com informações doG1-CE