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28/08/2024 às 17:01

PEÇA PREMIADA

Espetáculo de dança a partir de experiência em unidade prisional abre curta temporada em Cuiabá

Bailarina Elka Victorino faz três apresentações gratuitas da performance “Para Menores”

Entretê

Espetáculo de dança a partir de experiência em unidade prisional abre curta temporada em Cuiabá

Foto: Fred Gustavos

Com mais de 40 anos de experiência na dança e uma década de serviços prestados como professora no Centro de Atendimento Socioeducativo de Cuiabá, Elka Victorino reuniu esses dois universos em “Para Menores”, premiado espetáculo de dança performativa que abre curta temporada em Cuiabá com três apresentações gratuitas.

As duas primeiras serão nesse final de semana, 30 e 31 de agosto, na Caixa Cênica (Rua Sírio Libanesa, 48c Popular) e a terceira será no dia 05 de setembro no Museu da Imagem e do Som de Cuiabá (MISC), sempre às 20h. Pessoas cegas ou com baixa visão poderão conhecer o cenário e tocar objetos cênicos em visitas guiadas antes das apresentações, além da presença de um intérprete de libras para surdos e deficientes auditivos. A classificação indicativa é de 16 anos e os ingressos - limitados - estão disponíveis na plataforma Sympla.

“Para Menores” foi apresentado pela primeira vez há oito anos. A boa repercussão e o apelo do público tem possibilitado sua volta aos palcos de tempos em tempos. Em 2023, foi um dos vencedores do 2º Prêmio MT Artes na categoria Dança. No mesmo ano, foi selecionado para o XVII Festival Velha Joana e para o 1º Festival de Teatro, ambas as apresentações com salas lotadas. Essa curta temporada foi um dos projetos aprovados pelo Edital Municipal de Cultura com recursos da Lei Paulo Gustavo.

Uma autoficção permeada por memórias

Concebido por Elka Victorino a partir de suas experiências pessoais como professora de educação física e dança no Centro Socioeducativo de Cuiabá, “Para Menores” é resultado de um íntimo processo ruminativo, que só encontrou vazão na expressão artística. “Os conflitos vividos estavam pulsando em mim. Foi necessário digerir tudo que eu estava passando para que eu pudesse continuar. No processo de digestão tem a parte final, que é eliminar, no meu caso eliminar em forma de arte, de dança”, revela.

Trata-se de uma autoficção, de modo que, assim como na vida fora dos palcos, a bailarina é indissociável da professora de reeducandos em cárcere. Diante do público, a plasticidade de seus passos de dança são atravessados por histórias de jovens que são vítimas e autores de violências. A memória, transitando entre suas partituras corporais e vivências cotidianas, é o elo entre esses dois universos que compõem o espetáculo.

“A memória como algo dinâmico, que a cada ensaio, a cada momento criativo, visita as experiências com os adolescentes. E a cada experiência com os adolescentes visita a sala de ensaios. A memória como algo que pulsa no processo criativo, como pontos brilhantes que chamam a atenção para o desejo de criar”, detalha Elka.

O encontro entre sua vida pessoal e o trabalho artístico também foi tema da tese de doutorado de Elka, intitulada “Do Cárcere è Cena: Corpos Atravessados na Dança Performativa Para Menores”. A diretora do espetáculo, Thereza Helena, explica que é uma dança performativa porque há um roteiro pré-definido de ações que conduz a estrutura cênica e coreográfica, características comuns à dança, mas simultaneamente o espetáculo reúne elementos da performance, como a relação umbilical entre vida e arte, o espaço para improvisações, o contato com a plateia e a possibilidade do público também experienciar, e não só assistir.

“Fizemos essa escolha por considerar que a fricção favorecida pela performance poderia abrir espaço para que a plateia pudesse sofrer a experiência durante o espetáculo. Outro ponto que nos propusemos a realizar, com uma finalidade semelhante, foi a investida em elementos da sinestesia, como quando o público entra e pode sentir um cheiro diferente vindo da cena”, comenta Thereza.
Os conflitos e paradoxos presentes no processo de socioeducação, como a tentativa de docilização de corpos jovens por meio de um adestramento religioso, corporal e comportamental foi uma das faíscas para a concepção do espetáculo. Afinal, em outro contexto, Elka Victorino também se reconhece nessa dicotomia entre liberdade e encarceramento.

“De um lado, corpos dos jovens, muitas vezes rebeldes, buscando o que era possível de liberdade dentro do ambiente de cárcere; do outro, o corpo da bailarina adestrado pela dança clássica, buscando novas formas de se movimentar e outras formas de traduzir essa vivência, tentando fugir do rigor técnico de sua formação e se experimentando numa forma performativa”, diz trecho da elogiosa resenha “Para Menores: Quando a experiência atravessa a artista”, assinada por Everton Britto e Leandro Brito.

Serviço
Apresentações 01
Local: Caixa Cênica - Anexo ao Espaço Roda (Rua Sírio Libanesa, 48c Popular)
Data: Sexta-feira (30 de agosto)
Horário: 20h
Ingressos: https://www.sympla.com.br/evento/para-menores-de-elka-victorino-caixa-cenica/2614355

Apresentações 02
Local: Caixa Cênica - Anexo ao Espaço Roda (Rua Sírio Libanesa, 48c Popular)
Data: Sábado (31 de agosto)
Horário: 20h
Ingressos: https://www.sympla.com.br/evento/para-menores-de-elka-victorino-caixa-cenica/2614360

Apresentação 03
Local: MISC - Museu da Imagem e do Som de Cuiabá
Data: Quinta-feira (05 de setembro)
Horário: 20h
Ingressos: https://www.sympla.com.br/evento/para-menores-de-elka-victorino-misc/2614367

Da assessoria
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