Roberto Facchini, 75 anos, era jovem quando descobriu Elvis Presley, The Beatles e Jovem Guarda. Já Marcus Vinícius Facchini, 32 anos, passou a se interessar por música ouvindo Rush, Led Zeppelin, Sepultura, Red Hot Chili Peppers, Nirvana, Foo Fighters, Paralamas e Titãs.
Mas as diferenças de geração e, naturalmente, de referências, nunca foram empecilhos para que pai e filho dividissem a paixão pela música e criassem juntos.
Aposentado da gerência de uma empresa própria no ramo rodoviário, Roberto teve banda com o irmão quando era jovem, na década de 1960. “Construímos uma guitarra de forma artesanal com a ajuda de um padre, em Votuporanga (SP), pra tocar na nossa primeira banda”, conta ele.
“Meu pai canta e sempre cantou em casa. Então desde pequeno sempre tive música e instrumentos ao meu redor. Fui aprendendo de tudo um pouco. Meu pai reunia amigos, meu irmão mais velho tinha banda e eu também comecei a ter as minhas”, lembra Marcus Vinícius.
Já Marcus toca bateria profissionalmente e passou por bandas como Raiva em Paz, Strauss, Imitáveis e Lopes; até o início da pandemia, ele se apresentava na banda Ménage. Influenciado pelo pai, primo e irmão, aprendeu o instrumento aos 12 anos, conhecendo muitos outros através das bandas que frequentavam a casa da família em Cuiabá.
A quarentena foi, para pai e filho, uma boa oportunidade de dar vazão ao lado musical da família. Recentemente, eles lançaram o videoclipe de uma canção engavetada há anos.
“Sempre gravei com meus filhos, mas cada um tem sua vida. Com Marcus aqui na pandemia, ficou fácil compor e fazer tudo em casa. Tínhamos liberdade e tempo para fazer e dar continuidade até finalizar”, conta Roberto, que hoje vive com a mãe de Marcus no interior de São Paulo.
“A gente sempre toca junto, mas não tínhamos gravado só eu e ele. Foi a primeira vez”, complementa Marcus, que continua em Cuiabá, de onde a família é.
O arranjo de 'O teu olhar' é do filho; a letra foi composta pelo pai enquanto aguardava a esposa em procedimento, na sala de espera do dentista. “E todas as letras surgem assim, do nada”, conta Roberto, que tem dezenas de composições guardadas.
Marcus conta que eles já haviam trabalhado na gravação dessa música em outro estúdio, mas só a versão caseira teve o resultado que esperavam. Ele já adianta também que esse será apenas o primeiro lançamento, pois, nesse período em que passaram em isolamento juntos, eles já gravaram 11 canções, um álbum completo.
"Eu gravei boa parte dos instrumentos e ele a voz. Em algumas musicas, contamos com a participação de amigos, todos músicos de Cuiabá, que gravaram um instrumento ou outro a distância. Cada um na sua casa”, conta Marcus.
Mas, conforme o músico, a intenção com o projeto não é a fama ou o dinheiro, mas registrar e compartilhar bons momentos. “A gente fez isso mais pra realização própria mesmo, de eu ter um lance registrado com meu pai. Acho que a pandemia deixa muito evidente esse sentimento de que a vida é um sopro", finaliza.
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