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31/05/2021 às 16:39

Projeto destaca herança africana na cultura de Cuiabá

Túlio Paniago

A Praça da Mandioca (antigo pelourinho), a Rua Ricardo Franco/Rua do Governador (chamada de rua das Pretas, onde as anciãs passavam para lavar e cozinhar, o Largo do Rosário (Buracão ou Ilha da Banana) e a praça da Mãe Preta. Estes pontos compõem a Rota da Ancestralidade, itinerário que simboliza a força das raízes culturais africanas na capital mato-grossense.

O criador do projeto Quizomba na Rota da Ancestralidade e coordenador do Museu da Imagem e do Som (MISC), Cristovão Luiz,  explica que a iniciativa integra um conjunto de ações que visam a ocupação destes espaços. “Em 2012 começamos a desenvolver um trabalho, no mês de novembro, o cortejo afro por essas ruas. Esse trabalho foi ampliado e passou a ser realizado durante todo o ano”.

Ele conta que narrativas e espaços foram invisibilizados ao longo do tempo e que o projeto surgiu para tentar mudar essa realidade. “Esses locais, até então, se constituíam num território que estava invisível. O que estamos fazendo é resgatar as personalidades que transitaram e transitam por esse território, e com sua influência africana, contribuíram com a nossa história”, ressalta.


Neste sentido, aconteceu, na última sexta-feira (28), uma roda de conversa sobre ancestralidade afro-brasileira. O encontro reuniu pesquisadores, moradores e convidados na primeira rua de Cuiabá, o chamado Beco do Candeeiro, que recentemente foi restaurado.

Uma das personalidades que contribuiu com este bate-popo foi Alair Fernando das Neves, 78, nascido no Beco do Candeeiro, onde morou por muitos anos e vivenciou histórias que se cruzam com a própria história de Mato Grosso. “Quando a minha avó foi abandonada pelo marido, ela ficou com vários filhos e a minha mãe foi entregue, com seus nove ou dez anos, para uma família importante”. 

Ele contou que a mãe foi criada por esta família como uma escrava. “Criada no sentido de servir aos patrões”. E então, após ficar grávida, ela foi expulsa da casa dos patrões e acolhida no Beco do Candeeiro, por uma família que morava ali, e assim começou a história de Alair na região. 

Cristovão acrescenta que estes relatos são importantes para compreender o processo de construção social e identitária das pessoas e do espaço. “Queremos dar vida e visibilidade para essas histórias e para as pessoas que viveram e aqui vivem”.

O secretário adjunto de Cultura, Justino Astrevo, destacou a iniciativa que visa dar uma atenção humanizada ao local. “A revitalização deste local está pronta, precisamos agora nos preocupar com as pessoas, para que tenham essa noção de pertencimento e valorização, nos ajudando a cuidar desse espaço”.

A Rota da Ancestralidade Afro-brasileira foi mediada por Gabriela Rangel e contou com a participação do Prof. Ms. Suelme Fernandes, historiador do IHGMT: África e Cuiabá, conexões atlânticas; o coordenador do MISC e criador do projeto Cuiabá Rota da Ancestralidade, Cristóvão Luiz; o idealizador da Lavagem da Escadaria do Rosário: Memórias e histórias negras de Cuiabá, Alair Fernandes das Neves; e o historiador Francisco C. da Rocha.
 
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