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27/06/2022 às 17:36

Povo Haliti-Paresi prepara roteiros de turismo na aldeia

Entretê

O etnoturismo vem se destacando em Mato Grosso, com a proposta de vivenciar por alguns dias o modo de vida de uma comunidade, conhecer cachoeiras, histórias míticas, lugares sagrados e tantas outras possibilidades. Essa é a proposta do etnoturismo do povo Haliti-Paresi (MT), que ainda oferece o contato com a comunidade indígena, com as aldeias, cachoeiras, jogos tradicionais e cenários deslumbrantes em Campo Novo do Parecis e Tangará da Serra. 

O povo Haliti-Paresi está se preparando para receber viajantes em expedições experimentais que visam estruturar o turismo de base comunitária nas terras indígenas. Os interessados podem realizar a pré-inscrição no site do projeto, onde também há informações detalhadas sobre os dois roteiros disponíveis, bem como datas e valores.

Cada roteiro prevê a experiência de uma semana nas Terras Indígenas Utiariti e Rio Formoso, sedes das associações Waymaré e Halitinã, nos municípios de Campo Novo do Parecis e Tangará da Serra (MT) – região entre Amazônia, Cerrado e as nascentes do Pantanal.

O etnoturismo é uma das diretrizes do Plano de Gestão Territorial e Ambiental Haliti-Paresi, publicado em 2019. As famílias viram no turismo uma oportunidade essencial de valorização da cultura tradicional e fonte de renda.

“A importância é mostrar ao mahalitihyarenae (não indígena) que o indígena não é como ele pensa. É importante que conheça como somos, vivemos e pensamos”, explica Rony Walter Azoinayce, cacique da aldeia Wazare.

Turismo de imersão

Em algumas aldeias, o turismo já é uma realidade há anos. Porém, com a crescente procura por passeios nas cachoeiras, tornou-se necessário estruturar a atividade. A ideia é atingir um público que busca, para além dos atrativos naturais, uma imersão e permanência de mais tempo no território, daí a opção pelo turismo de base comunitária. 

Trata-se de uma prática que colabora com a proteção do meio ambiente e com a melhoria de vida das pessoas e a economia local. A principal atração turística, nesse contexto, é a vivenciar o modo de vida da comunidade. Aliás, experiências de turismo indígena demonstram a indissociabilidade entre natureza e cultura, ou seja, entre o ecoturismo e o etnoturismo.

Na proposta, os visitantes ficarão hospedados nas hati (casas tradicionais) ou em locais para acampamento. As refeições serão elaboradas com ingredientes locais, combinando receitas tradicionais e regionais. Haverá momentos para apresentar o modo de vida Haliti-Paresi por meio de exposições, conversas e atividades. Também estão previstas rodas de conversa de avaliação das vivências, para que todos possam compartilhar suas observações e sugestões.

Além dos anfitriões indígenas, também estará presente um facilitador, que irá acompanhar os visitantes durante toda a expedição. Ele auxiliará na mediação entre o grupo e as lideranças e costumes locais, além de dar dicas sobre a programação e ajudar na preparação das atividades.

Caso alguém queira levar uma lembrança material da experiência, poderá comprar peças do artesanato local, bem como experimentar as artes plumárias e pinturas corporais. 

As aldeias têm energia elétrica, banheiros e estrutura de lazer e descanso. Não há sinal de celular, mas para emergências é possível utilizar a conexão wi-fi das escolas.

As expedições experimentais são iniciativas ocorrem por meio da parceria com a The Nature Conservancy (TNC) e Operação Amazônia Nativa (Opan) e recebem consultoria da ONG Garupa.

Haliti-Paresi
De acordo com dados do Instituto Socioambiental (2008), o povo Paresi (autodenominação Haliti) é um grupo com pouco mais de 2 mil pessoas. A língua falada é da família Arawak, cujo representante mais próximo é o Enawenê-Nawê, falado em território mais ao norte. Os vizinhos mais próximos são os Nambikwara (família Nambikwara) em áreas indígenas ao norte e sudoeste da porção Paresi.

Segundo a tradição Haliti, a humanidade surgiu quando um grupo de irmãos saiu do interior da terra, por uma fenda aberta por Toakaihoreenoharetse, Enorê (criador e Deus do Raio) na Ponte de Pedra, formação natural existente no rio Sucuriu-Winã, afluente do rio Arinos. Ao sair do interior da pedra onde viviam, descobriram o mundo externo e todos os rios, animais terrestres, pássaros, árvores e paisagens. 

Assim como no mito de criação, a história do povo Haliti-Paresi é marcada por encontros com o “mundo exterior”, desde a passagem com os bandeirantes até o encontro com a Operação Rondon. Eles sempre tiveram que articular com esses “mundos” para se manterem em suas terras – e o etnoturismo é mais uma das estratégias encontradas neste sentido.

 
Com assessoria
 
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