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21/05/2020 às 13:30 | Atualizada: 22/05/2020 às 15:26

Em novo clipe, rapper mato-grossense fala sobre realidade de trabalhadores brasileiros

Maria Clara Cabral

“São oficialmente 30 horas acordado, eu não consegui desejar feliz aniversário ao meu pai, como todo ano ele faz, sob o risco de cortarem meu wi-fi”.

A rima é a primeira das cantadas pelo MC Ahgave em ‘Durmo tarde’, single que leva às telas, em novo videoclipe, uma reflexão sobre dilemas atuais e longas jornadas de trabalho que é submetida a maior parte da população brasileira.

“É sobre nós que vendemos nossa força de trabalho através dos nossos corpos, prestando um universo de serviços”, conta o mato-grossense Ahgave. “Nesse momento de pandemia, muitos continuam fazendo sua parte, de casa. Outros, infelizmente, precisam estar na rua pra que alguma engrenagem importante não seja interrompida”, lembra.

O single é inspirado na música Road To Zion, do rapper jamaicano Damian Marley, vencedor de três Grammy’s e o sexto filho de Bob Marley.

Na produção audiovisual, a cidade de São Paulo, principal centro mercantil e corporativo da América do Sul, se coloca como lugar onde conflitos e contradições aparecem. “Somos nós quem construímos, reparamos e permitidos que as cidades se mantenham vivas. A provocação é: o que recebemos em troca?!”, questiona o rapper.

Estações de metrô lotados, pedestres acelerado em meio a grandes edifícios e avenidas, trabalhadores informais e da madrugada, para quem Ahgave manda “um salve”, ambientam o clipe. As imagens são captadas por Camila Yano e editadas pelo próprio. A produção instrumental ecoa do cerrado brasiliense pelas frequências de Denso Dubs.

Ahgave canta uma realidade que vivenciou na capital durante um ano; o videoclipe, porém, foi gravado em 2020. Sem querer ou não, ‘Durmo tarde’ também tem teor autobiográfico, com a crítica social a novas formas de trabalho, ao qual o rapper, que também é comunicador freelancer, também vivencia em seu dia-a-dia.

“Eu queria ser autônomo para relaxar, agora eu trampo o dobro e nunca sei quando parar”, diz trecho da música.

Ahgave

Natural de Rondonópolis (MT), original do cerrado mato-grossense, Heitor Gomes canta deslizando do ragga ao rap. Sua identidade sonora é fruto das vivências entre a cena hip-hop cuiabana, bailes sound system e slam poesia.

Ahgave é referência à família de plantas suculentas, resistentes ao sol, que vivem com poucos recursos e se assemelham à forma única de existir de grande parte do povo do cerrado mato-grossense. 

Compositor de letras e instrumentais desde 2012, começou na música com participações com o grupo O.C.D onde era MC e produtor do conteúdo audiovisual, em 2014. Junto do coletivo, abriu shows regionais e nacionais como Ponto de Equilíbrio, Marina Peralta, Monkey Jhayam, Dow Raiz e Cidade Verde Sounds.

Em 2017, passou dedicar a carreira solo iniciando a produção de seu primeiro álbum. Desde então tem se apresentado em casas noturnas, “bailes sounds”, saraus, manifestações e ocupações.

A busca do equilíbrio entre o ser urbano e a natureza, o resgate ancestral dos saberes dos povos antigos, o confronto ao agronegócio, intolerância religiosa e proibicionismo são alguns dos temas em suas letras que ecoam pelo vocal e performance agitada nos ao vivos.

Confira o vídeo: 


 
 
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