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30/07/2020 às 15:09 | Atualizada: 30/07/2020 às 15:58

Cuiabana traduz poesias autorais em colagens e série de videoarte

Maria Clara Cabral

Desde pequena, a cuiabana Gabrielle Braz, 21, se descobre na arte das letras e da fotografia. Poesia é, para ela, uma experiencia sinestésica, que pode envolver textos, imagens e – por que não? – movimento e sons.

Em sua geração, essa perspectiva de arte encontra ainda mais espaço na internet, onde a poeta “traduz” suas criações em artes feitas com colagens e uma série de vídeos-arte chamada ‘Laranja e Canela’.

No Instagram em que chamou de 'Manifestos da Alma', onde ela já publicava suas fotografias acompanhadas de pensamentos ou poesias, ela quis ir além e fazer diferente. E para dar voz e movimento a sua escrita, potencializando narrativas, a série surgiu em maio, no Dia das Mães. 


“Reuni imagens minha família e de outros ensaios que fiz sobre maternidade para compor o visual do vídeo, e narrei a poesia com minha própria voz”. Antes do isolamento social, ela ainda conseguiu captar imagens de Cuiabá, já que seu desejo também é mostrar o cotidiano de sua cidade natal de forma poética. 

Agora, todas as terças-feiras, um episódio novo vai ao ar no IGTV.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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As colagens são um pouco mais recentes e começaram há cerca de dois meses, como consequência da pandemia. “Precisava fazer alguma coisa pra ocupar a mente e vi que isso também poderia estar direcionado para minha poesia”, relata Gabrielle.

Mesmo digitalizadas para publicação, as colagens são todas feitas manualmente em um processo criativo que leva mais de duas horas. Para as artes, ela reaproveita um estoque de revistas antigas da mãe.

Manifestos da Alma

Assim, Gabrielle Braz fez de suas paixões um trabalho e um modo de me conectar com cada vez mais pessoas no mundo.

“A poesia é o que me faz respirar, ressignificar os acontecimentos, as coisas e as pessoas. Pensei que em algum lugar alguém poderia sentir o mesmo e se identificar com aquilo que eu colocava na folha", conta.

Querer compartilhar sensações, portanto, foi um processo natural ao dar vazão a seu olhar sobre as pequenezas do mundo, como se propôs a fazer o conterrâneo e veterano Manoel de Barros. Especialmente em tempos como o agora, em que a rede social é um dos únicos espaços de encontro e o confinamento força a convivência com o íntimo.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Até por isso, ela quis começar em um “lugar” onde sua ideia fosse um contraponto. “O Instagram é uma das redes sociais que mais puxa as pessoas para o imediatismo. São muitas informações e necessidades impostas. Vejo que muitos usuários estão ali procurando por algo que nem sabem o quê”.

E são essas pessoas que a poeta quer encontrar. “Pensei: eu tenho essa plataforma nas minhas mãos e sei que muita gente que vai entrar aqui um pouco perdida. Eu quero apresentar a elas outras necessidades”.

Conforme Gabrielle, a 
ideia também é construir um “refúgio” em meio a um grande quantidade de informações. Além disso, o alcance que o Instagram proporciona encontra suas pretensões não muito ambiciosas.

“Meu objetivo sempre foi alcançar o maior número de pessoas que eu pudesse. Não é querer ficar famosa, mas poder ver que a pessoas olhando para a arte, para o que eu escrevo. É uma grande satisfação quando meu pensamento  se associa ao que a pessoa está vivendo na vida dela, independentemente de onde ela esteja”.

A prática foi instigada pela própria demanda das pessoas que acompanhavam Gabrielle na rede social. Muitas poesias são histórias que ela mesma viveu e estão ali, como uma página de um livro aberto, para quem quiser ler.

“Conforme eu ia postando os trechos de poesia, vi que havia resposta, comentários e mensagens. Foi tudo por causa dessa comunicação entre a Gabrielle escritora e as pessoas que se viam no que eu apresentava. Acho que todo escritor perde um pouco a vergonha quando ele vê que há significado no que ele faz”.

Em um futuro próximo, o plano da jovem é reunir as poesias e artes visuais em um livro.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Referências

Além de cuiabana, Gabrielle é estudante de Letras e tem o poeta Manoel de Barros como sua principal referência. Outra, que veio bem cedo, foi Lygia Fagundes Telles.

“Quando eu li ‘A Disciplina do Amor’, eu fiquei em êxtase, pensando em como aquela autora conseguia brincar com os significados e causar um tremor na nossa mente. E aí eu pensei: também quero construir significados assim", conta a jovem.

Gabriele relata ainda suas inspirações no encontro com escritores mato-grossenses. Foi através de um trabalho da faculdade que ela conheceu a conterrânea Cristina Campos.

“Ela também é cuiabana e trabalha nessa perspectiva de releitura das obras do Manoel de Barros Isso de uma guinada nas minhas poesias, ao também voltar meu olhar às coisas que parecem insignificantes, mas que trazem tanto de humanidade escondida nelas”, explica.

E assim como Manoel de Barros, ela escolheu falar sobre as minucias da vida através da representação de elementos da natureza. "Um passarinho me faz ter outro olhar sobre vida e liberdade, uma árvore me faz sentir tanta coisa, um copo de chá me faz ter sonhos".

Como Alice no 'País das Maravilhas', tudo que encanta Gabrielle se transforma em reflexões.

“Eu sempre digo que quando eu acordo e sento no quintal pra tomar o meu café, milhares de ideias passam na minha mente, milhares de sonhos e sensações. E esse pequeno momento de companhia comigo mesma é também um momento em que eu sinto coisas minúsculas e ao mesmo tempo grandiosas”.
 
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