03/09/2020 às 12:33 | Atualizada: 03/09/2020 às 13:31
Exposição contrapõe queimadas à poética do fogo na cultura dos povos do Xingu
Maria Clara Cabral
Tomado pela fumaça, Mato Grosso e seus biomas estão em estado de alerta. A biodiversidade da fauna e flora e a cultura dos povos originários estão ameaçadas pelo fogo, cuja força tem extrema importância na cultura indígena, mas que, descontrolado, consome seus territórios.
O projeto ‘Atenção A Tensão’ torna pública, no dia 7 de setembro, uma exposição virtual de imagens que unem a fotografia de Henrique Santian e a poética de Caio Ribeiro para retratar esse poder ambivalente do fogo na perspectiva dos povos do Xingu.
O material é fruto de uma imersão pelas queimadas em Mato Grosso, que começou em 2019. O interesse pelas queimadas, no entanto, já é algo que acompanha o fotógrafo Henrique Santian há muito tempo. Ele é voluntário do Parque Nacional de Chamada dos Guimarães e vem realizando a cobertura de diversas ações do ICMBio contra os incêndios.
“O fogo é um fascínio. Para a exposição, criamos imagens poéticas, com seres do cerrado em chamas e cinzas. São figuras de uma nova mitologia surgindo” comenta.
Os artistas começaram a desenvolver o trabalho quando Santian convidou Caio para construir um poema visual sobre a série de imagens que ele pretendia lançar.
“Quando ele me chamou, fiquei encantado. As imagens eram muito fortes” conta o escritor. As primeiras foram compostas por uma técnica de sobreposição, que unia imagens de guerreiros do Xingu e as queimadas no cerrado”.
A partir das fotografias, eles passaram a trabalhar na criação de uma poética que mostrasse a potência destrutiva do fogo, dialogando com saberes de povos do Xingu, cujos rituais vem sendo retratados por Henrique Santian.
“O povo do Xingu é muito sábio. Eles querem viver em um mundo onde não há destruição. O fogo para eles é um ciclo natural, é uma fonte de poder. Mas do jeito que está acontecendo, está sem controle, está matando”, ressalta Henrique.
Imagem da série ‘Atenção A Tensão’. Foto: Henrique Santian
Antes mesmo que as queimadas voltassem a preocupar comunidades e ambientalistas em 2020, ‘Atenção A Tensão’ tinha data de estréia para o começo do ano, no Museu de Imagem e Som de Cuiabá (MISC). Com a pandemia do coronavírus, a exposição foi adiada.
Conforme os artistas, havia ainda uma parceria com o Museu do Índio do Rio de Janeiro e um grande acervo de arte indígena do Centro Cultural Ikuyapá, mas tudo fora reinterpretado para o ambiente virtual. O projeto tem apoio da Coordenação de Cultura e Vivência da UFMT/PROCEV.
“A pandemia começou exatamente na semana que íamos abrir a exposição. Já estava quase tudo pronto. Pensamos muito e decidimos migrar tudo para virtual. Nesse novo contexto, muita coisa fica de fora, mas muita coisa nova aparece” comenta Caio Ribeiro, que está construindo o design do site em que a plataforma da exposição será hospedada.
Imagem da série ‘Atenção A Tensão’. Foto: Henrique Santian
Programação
‘Atenção A Tensão’ é gratuita e expõe uma série de imagens inéditas das queimadas em Mato Grosso, além de um vídeo-arte produzido pelos artistas. Conta ainda com uma programação de bate-papo sobre as experiências de produção e da criação das imagens.
A mostra será lançada na próxima segunda-feira (7), pontualmente às 19h07 (horário local) e acontecerá vias redes sociais, onde o link será compartilhado para que as pessoas possam acessar os conteúdos.
O site só poderá ser acessado no momento do lançamento: https://atencaoexpo.wixsite.com/abertura
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