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14/12/2020 às 14:29 | Atualizada: 06/01/2021 às 10:40

Artista constrói cartografia afetiva do Porto de Cuiabá em projeto multimídia

Maria Clara Cabral

Foi durante suas caminhadas pelo bairro do Porto, mais especificamente no ano de 2018, que a artista visual Mari Gemma de La Cruz começou a desenvolver um trabalho de registro e de intervenção artística no espaço que mistura tradição e marginalidade em Cuiabá. Trabalho que viria a se tornar o que ela chamou de cartografia afetiva, construída por diferentes linguagens, enfim reunidas em uma única plataforma digital.

"Lembranças da minha infância e adolescência foram ativadas, estavam ligadas às águas do Guaíba em Porto Alegre onde os banhos e as pescarias eram frequentes e às caminhadas pela região portuária, com minha mãe segurando-me a mão, pois era uma menina inquieta e sempre olhava para cima, não raras vezes eu esbarrava nas pessoas e em postes", conta a artista sobre o processo criativo de 'Porto 
Kyvaverá'.

'Porto Kyvaverá' é fruto de um trabalho minucioso e engajado, realizado em conjunto com uma equipe de profissionais, que expõe, de forma multimídia, uma realidade que muitos insistem em não ver; a indiferença e o desmazelo da cidade com suas origens. O projeto foi contemplado pelo Edital 2019 do Fundo Municipal de Apoio e Estímulo à Cultura da Secretaria de Cultura de Cuiabá.

A plataforma digital traz fotografias que transbordam cores vivas, um fotolivro digital sobre as caminhadas sensíveis da artista, e um espaço para as lives da artista com convidados sobre temas que perpassam o projeto. Há também um mapa da região do Porto, videoarte expondo o projeto e exibindo as características locais. No mesmo endereço, também podem ser explorados outros movimentos e projetos, além da biografia da artista e contato.

"Convido você a mergulhar nestas camadas afetivas onde tempo e espaço se misturam e que representam o olhar de um ‘pau rodado’, migrante do Sul que fincou raiz e deu frutos, agora oferecidos ao mundo", destaca a artista.

Mari Gemma e o Porto de Cuiabá


No entanto, sua primeira aproximação com o Porto foi ainda em 1994, quando ela conheceu o seo Swat, raizeiro tradicional que trabalha em seu ervanário, época em que trabalhava em sua dissertação de mestrado em Saúde e Meio Ambiente pela UFMT. Duas décadas depois, ela passou a localizar naquele território versos de Luciene Carvalho e Ivens Cuiabano Scaff. "Imagens/sentimento se formavam em minha imaginação ao pensar na relação palavra/espaço/tempo".

Mari Gemma realiza autorretratos e intervenções em espaços urbanos, utilizando objetos encontrados no seu cotidiano ou na natureza para a construção dos cenários, propondo frequentemente metáforas imagéticas. Ela vive em Cuiabá há cerca de 30 anos, onde descobriu um olhar que define como 'biopsicosócioambientalespiritual', que permeia sua produção artística.

Ela já era farmacêutica industrial, mestre em Saúde e Ambiente, professora e pesquisadora com foco em plantas medicinais, homeopatia e educação ambienta, quando passou a frequentar cursos livres que exerceu seu olhar imagético sobre as coisas do mundo.

A partir de 2016, ao realizar cursos com a fotógrafa Jacqueline Hoofendy e, em 2018, com o artista em novas mídias Scott MacLeay, desencadeou seu processo criativo, que define ser alquímico. Algo bem significativo para uma farmacêutica que se tornou imagética.
 
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