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12/01/2021 às 10:57 | Atualizada: 28/01/2021 às 08:49

As mãos Beneditas de Justina: quilombola terá história contada em filme, livro e exposição

Maria Clara Cabral

Justina Ferreira da Silva, a Dona Justina, também conhecida como 'São Benedita', como o Santo negro, é cozinheira por ofício. São mais de 50 anos demarcando a identidade quilombola, o pertencimento territorial e mantendo as tradições e inovações através de alimentos produzidos na Comunidade do Ribeirão do Mutuca.
 
A comunidade é uma das seis que integram o Território Quilombola de Mata Cavalo, no munícipio de Nossa Senhora do Livramento (33 km de Cuiabá).
 
Com suas receitas e comando das atividades coletivas conhecidas como 'Muxirum' – em que a comunidade se organiza para plantar a banana e carpir o roçado –, Justina repassa às novas gerações a herança de seus antepassados para a manutenção da cultura local, já que também é ela quem comanda a cozinha da tradicional Festa da Banana.
 
Ela também é guardiã da tradição familiar d
o melado e rapadura, repassada pelo pai Miguel Domingos Ferreira de Jesus. Seu bisavô, Vicente Ferreira Mendes e avô, conhecido como Macário, fazia o famoso açúcar de barro (açúcar mascavo) para as festas de São Benedito, de São Gonçalo e do Congo, que se originou na Mutuca.
 
Trabalhadora rural, cozinheira e doceira, Dona Justina é filha de Rosa Domingas de Jesus e, casada com João Pedro da Silva, mãe de sete filhos, sendo quatro homens e três mulheres. Um deles, ela perdeu.
 
Justina agora é uma das 75 condecoradas com o título de mestre da Cultura do Estado de Mato Grosso através do Edital Conexão Mestres da Cultura - Marília Beatriz de Figueiredo Leite, viabilizado pela Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso através da Lei Aldir Blanc.
 
A homenagem em vida é o reconhecimento à força que Justina carrega ao resguardar a cultura alimentar da Comunidade do Ribeirão do Mutuca.
 
Trata-se do projeto 'As Mãos Beneditas de Justina', coordenado por Laura Ferreira, liderança quilombola, também da Comunidade Mutuca, e direção geral de arte da artista visual Paty Wolff. A proposta é construir um acervo com depoimentos, fotografias e vídeos como memorial dos saberes em comemoração aos 65 anos da mestra Justina.
 
Todo o conteúdo será entregue através de um documentário. A obra resultará de uma capacitação realizada pela equipe do projeto dentro da comunidade de Mata Cavalo para um grupo de dez jovens. As fotografias realizadas durante o processo também irão compor um livro e uma exposição em plataforma virtual.
 
A responsável pela curadoria da exposição é Gilda Portella. Téo Miranda, da Editora Sustentável, realiza a direção de fotografia e edição do livro. Também fazem parte da produção audiovisual a diretora e roteirista Isabela Ferreira da Silva e Cauê Onirê, Gabriel Paulo Oliveira da Silva, Anna Carolina Mello, Lucas Bezerril, João Almeida, Luiz Henrique Nogueira, Lidiane Alves Lopes.

A equipe já esteve nas comunidades realizando o registro de um Muxirum, prática que acontece em data específica a cada ano.
 
Com o reconhecimento de Justina, a ideia é expandir o conhecimento acerca das comunidades quilombolas de Mato Grosso e a força feminina que as movimenta. De acordo com a coordenação do projeto, pesquisas recentes têm apontado um silenciamento da historiografia dessas territorialidades na mídia e nos livros didáticos.
 
A proposta reforça ainda a importância dos fazeres quilombolas, o reconhecimento das práticas agroecológicas e a valorização desta cultura para manutenção e segurança de seus territórios.
 
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