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01/09/2021 às 11:01

Mãe de homem esquizofrênico denuncia negligência na enfermaria do HMC

Depois de cirurgia, ele foi para enfermaria com drenos, os mesmos foram retirados e saíam fezes pelo buraco no abdomem

Débora Siqueira

Mãe de homem esquizofrênico denuncia negligência na enfermaria do HMC

Foto: Reprodução

A terapeuta e naturopata Hortência de Oliveira, 58 anos, denuncia a negligência a qual seu filho Shermam de Oliveira Santos, 36 anos, foi submetido na enfermaria do Hospital Municipal de Cuiabá (HMC). Conforme os relatos de outros pacientes com vídeos e fotos, o dreno foi retirado e as fezes saíram pela barriga dele. Atualmente, ele está internado na UTI do HMC.
 
Shermam deu entrada no HMC no dia 09 de agosto, baleado com quatro tiros após uma tentativa de roubo. Assim que deu entrada na unidade,  passou por cirurgia para extrair os projéteis, depois foi colocado dreno, mas o equipamento foi retirado na enfermaria da unidade e deu complicação.

O rapaz passou cerca de quatro dias com as fezes saindo pelo dreno. A situação estava grave e incomodando os demais pacientes e visitantes que fotografaram e fizeram vídeo mostrando o líquido com as fezes descendo pelo buraco onde estava o dreno. Alguns até ligaram para ela dizendo que se não interviesse, Shermam poderia morrer.  


 
Conforme a mãe, médicos viram a situação grave que o paciente estava, e os mandaram fazer uma cirurgia de emergência de laparotomia, uma intervenção cirúrgica agressiva, mas que foi vital para salvar o paciente. Depois que passou por esta cirurgia, ele foi para a UTI.
 
Hortência deixa bem claro que não tem nada contra a direção do HMC, funcionários e diz que há excelentes profissionais no local e cita a técnica de enfermagem Rosimari, o médico cirurgião Jean Carlos Chave, médico ortopedista Francis Mauro Pedrosa, médica Pâmella Dal Bem e toda equipe da UTI.

O que ela busca é saber o porquê e quem autorizou a retirada dos drenos, agravando a situação do filho. Ela também busca saber quando ele apresentou febre e a infecção antes de ter sido socorrido e encaminhado para a cirurgia de laparotomia. “Quero que seja feito o possível e o impossível para corrigir o erro deles. Ao invés disso, querem saber quem me passou as informações”, reclamou.
 
Inimputável 
 
Sherman é um homem interditado desde 2018. Após ser diagnosticado com esquizofrenia e dependência de múltiplas drogas, ele é considerado inimputável, ou seja, não pode ser responsabilizado ou punido por seus atos. A informação, inclusive, consta no documento dele.


 
Mesmo assim, ele conseguiu embarcar num vôo para Cuiabá, partindo da sua cidade natal Rio de Janeiro, pelo Aeroporto Santos Dumont. Após uso de álcool e drogas, se envolveu numa tentativa de roubo que o deixou ferido com quatro tiros no dia 09 de agosto.
 
“O Samu me ligou falando do que ocorreu com ele. Eu não acreditei, nem como ele sendo uma pessoa interditada conseguiu pegar um vôo e ir para uma cidade onde não conhece ninguém”.
 
Somente após a intervenção da Defensoria Pública, o Estado também corrigiu erro cometido contra Shermam. Mesmo com o laudo de esquizofrenia e carimbo de "interdito" no documento, ele teve a prisão em flagrante convertida em preventiva, pela Justiça, durante audiência de custódia, na qual ele não compareceu, por estar gravemente ferido. Paralelo a isso, o defensor que atuou no caso, Luís Fernando Navarro, afirma que não foi coletada a manifestação da defesa, antes da decisão. No processo, consta apenas parecer do Ministério Público.
 
Diante disso, no dia 13 de agosto, Navarro apresentou manifestação pedindo a revogação da prisão ou conversão dela em prisão domiciliar. Na mesma data, a juíza Maria Rose Borba, considerou o segundo pedido e foi expedida ordem judicial para que, quando tiver alta médica, Santos volte para o Rio de Janeiro, sob a guarda de sua mãe.

 
HMC nega negligência
 
Por meio de nota à imprensa, a Empresa Cuiabana de Saúde Pública (ECSP) esclarece que em nenhum momento o paciente foi negligenciado e tem recebido toda a assistência necessária desde que deu entrada no Hospital Municipal de Cuiabá, no dia 09 de agosto.
 
“O que a mãe chama de “buraco na barriga por onde saem as fezes” é a bolsa de colostomia, necessária devido aos ferimentos do paciente”, alegou o HMC em nota.
 
Conforme o hospital, o defensor público que atende a família esteve no HMC, fez a solicitação da prescrição dos medicamentos que estão sendo utilizados, bem como dos exames de sangue do paciente, que já estão sendo providenciados.
 
Também sustentam que em momento algum foi negado o prontuário do paciente. A mãe pode fazer a solicitação na recepção do HMC e será atendida dentro do prazo regular do hospital.
 
“O paciente está fazendo uso de todos os medicamentos necessários no momento, levando-se em conta a gravidade do seu caso. Está recebendo todo o cuidado necessário”.


 
História 

 
Hortência se separou do pai de Shermam, um oficial da Marinha, quando o filho tinha oito anos e que quando ele tinha 13, descobriu que o filho fumava maconha. “Meus filhos, tenho dois, sempre foram muito educados, obedientes, e eu os ensinei a não mentir. Um dia o abordei e ele contou que fazia uso. Eu o repreendi, mas na época, eu trabalhava muito, morava na Baixada Fluminense, éramos cercado pelo tráfico. Com a separação, nosso padrão caiu e matriculei meu filho numa escola pública. Foi lá que ele teve contato com drogas”.
 
Quando o filho tinha 17 anos, ela conta que encontrou 13 trouxinhas de maconha numa caixa de sapato, denunciou o filho na Delegacia de Polícia e entregou o material. Ele respondeu processo como adolescente. E, orientada pela Polícia, mudou para Nova Iguaçu e a vida entrou nos trilhos de novo. Ela afirma que ele estava no início do curso de Direito e ela trabalhando e ganhando bem.
 
“Nossa vida era maravilhosa de novo e ele disse que ia fazer currículo e entregar nos shoppings para trabalhar de freela no final de ano, era costume dos universitários isso. Ele foi, no caminho encontrou um conhecido, e me avisou que sairiam e depois ele voltaria pro jantar, não voltou. Foi com o Márcio para um ensaio de carnaval e lá, disse que um rapaz o chamou pelo nome, quando voltavam pra casa, e cobrou a droga que eu entreguei em 2003 pra Polícia. Ele contou que foi espancado e obrigado a dirigir para que eles fizessem um ‘arrastão’”.
 
Na data do crime, Hortência conta que o filho, ao ver a viatura da Polícia, deixou o volante do carro onde estava com os assaltantes e correu na direção dos militares. Foi baleado por eles com um tiro de fuzil e ficou de cadeira de rodas. Com 22 anos, entrou no sistema prisional pela primeira vez, no ano de 2004. No ano seguinte foi condenado a 16 anos e seis meses de prisão por tentativa de roubo. Ele cumpriu oito anos de pena em Bangu 5.

“Eu achei que meu filho tinha me traído nessa ocasião, não queria vê-lo ou falar com ele. Mas, quando fui à delegacia, a delegada me disse que ele tinha sido usado como ‘bucha’ e ela virou testemunha de defesa dele. Porém, os traficantes se livraram sem ficar um dia presos e ele, condenado a uma pena elevada. Depois disso, ele se afundou nas drogas, vivia catatônico, foi e voltou para o sistema, tentou se matar e eu virei ativista dos direitos humanos para tentar protegê-lo. Minha vida é essa, cuido dele como se ele fosse uma criança”.
 
Ao fim da pena, Hortência afirma que o filho atuou como instrutor de jiu-jitsu de um projeto da PM, por oito anos, ganhou medalhas e medicado, vivia bem. Porém, afirma que sempre que ele tem contato com o pai, se desestabiliza. Em 2018, laudos indicaram sua doença mental. “Ele sempre quis chamar a atenção do pai, que sempre o desmoralizou. Mas, ama o pai e sempre se afunda depois de ter contato com ele. O que posso dizer, é que vou lutar por meu filho e pela saúde dele”.
 
Shermam mora com a mãe e no dia que veio para Cuiabá teria ligado para ela e avisado o que estava fazendo. “Só quando ele chegou a Cuiabá e me mandou uma foto, acreditei. Mesmo sem conhecer ninguém na cidade foi para uma boate, bebeu, usou drogas e fez o que fez. Essa é minha luta”. 

 
 
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(Com informações da Defensoria Pública)
 
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