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17/03/2022 às 10:06

Estudos com óleo de licuri demonstram potencial para uso farmacológico e cosmético

Dados foram apresentados por pesquisadores do projeto Cadeia Produtiva da Bioeconomia MCTI durante simpósio; evento também marcou a entrega de dois depósitos de registro de patente

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Estudos com óleo de licuri demonstram potencial para uso farmacológico e cosmético

Foto: Projeto Cadeia Produtiva Licuri/Agência Iris

O simpósio realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) na terça-feira (15) em Capim Grosso (BA) marcou a entrega de uma das realizações esperadas do projeto Cadeia Produtiva do Licuri MCTI: dois depósitos de patentes registrados no Instituto Nacional de Propriedades (INPI) de formulações de produtos desenvolvidos a partir do óleo de licuri; um Manual de Boas Práticas de Manejo, que será utilizado pelos agroextrativistas.

As entregas são parte dos resultados do projeto, que busca agregar valor por meio da exploração sustentável do licuri, fruto Syagrus coronata da palmeira endêmica na Caatinga. A transmissão do simpósio está disponível aqui.

“Fico feliz em ver as possibilidades de novos produtos, novas empresas, novos empregos, geração de nota fiscal a partir da pesquisa” afirmou o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, astronauta Marcos Pontes, durante a abertura do evento.

As patentes envolvem a formulação de dois produtos destinados à higiene bucal: creme dental e enxaguatório bucal. “Esses produtos têm um poderoso efeito antibacteriano associado à redução da formação de placa bacteriana e a gengivite resultante”, explica a professora Márcia Vanusa da Silva, pesquisadora do Núcleo de Bioprospecção da Caatinga do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O projeto prevê a entrega de formulações de seis produtos.

As pesquisas já comprovaram que o óleo de licuri possui propriedades antimicrobiana, anti-inflamatória e cicatrizante. Essas atividades biológicas são atribuídas à alta concentração de ácido láurico, muito valorizado pela indústria pela capacidade de combater microorganismos. De acordo com os pesquisadores, a identificação de fontes naturais de ácido láurico na biodiversidade nativa brasileira poderá ser uma estratégia para o desenvolvimento da bioeconomia nacional. “O potencial do ácido láurico, presente no licuri abre possibilidades para inovações com bioprodutos para fins alimentar, cosméticos e farmacológicos, apoiando o desenvolvimento sustentável das comunidades tradicionais do semiárido nordestino”, explica a professora.

Na sua apresentação, a professora destacou ainda a valorização do óleo e busca pela utilização em larga escala. “Para mim, esse é o ouro desconhecido da Caatinga. Fazer do licuri o açaí do Nordeste”, comparou. Segundo Vanusa, os testes em laboratório buscaram comprovar cientificamente o conhecimento tradicional na utilização do óleo, como a ação cicatrizante. “O óleo de licuri, em diferentes concentrações, consegue cicatrizar feridas de modo mais rápido comparado a produtos existentes no mercado”, revelou a pesquisadora.

Resultados promissores

A ideia do simpósio foi apresentar os resultados alcançados até o momento  no âmbito do projeto e, concomitantemente, aproximar empresas e indústrias, especialmente dos setores cosmético, farmacêutico e de alimentos, para oportunidades de negócios e desenvolvimento de novos produtos com valor agregado.

A coordenadora do projeto, professora do Núcleo de Bioprospecção da Caatinga do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maria Tereza dos Santos Correia, apresentou o projeto, que se iniciou em 2020 e tem duração de dois anos.

Entre os objetivos do projeto estão a formulação de produtos a partir do óleo da amêndoa do licuri, tratamento da acne e protetor solar, além do desenvolvimento de ativos farmacológicos. “Esse óleo é bem diferente de outros, como girassol e coco. Ele apresenta alto teor de antioxidantes e também fator de protetor solar”, afirmou Correia sobre as propriedades do produto.

De acordo com o pesquisador do Centro de Biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Alexandre Macedo, além ácido láurico, que tem potencial enorme para a indústria cosmética, o produto apresenta outros componentes que estão sob escrutínio dos pesquisadores. O Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM/MCTI), unidade de pesquisa vinculada ao ministério, entre outras atividades no âmbito do projeto, mapeou os princípios ativos e a composição química dos óleos, para compor um dossiê químico e atividade biológica dessas partículas. As descobertas realizadas até o momento, a partir dos ensaios de caracterização estão permitindo executar testes para conhecer a ação do óleo no combate a bactérias que causam infecções, como a Staphylococcus aureus. “Encontramos seis frações do óleo que podem ter atividade contra essa bactéria. Estamos conhecendo esses compostos químicos”, explicou Macedo. Também estão em curso estudos sobre a utilização do óleo de licuri no combate a parasitose causada pelo protozoário giárdia.

Investimentos

A Cadeia Produtora do Licuri integra o Programa Cadeias Produtivas da Bioeconomia MCTI, coordenado pela Secretaria de Pesquisa e Formação Científica (SEPEF/MCTI) da pasta, e que tem como objetivo utilizar a ciência, tecnologia e inovação na implementação de soluções para a aumentar a agregação de valor em cadeias produtivas em todos os biomas brasileiros, melhorando a qualidade de vida das comunidades locais com o desenvolvimento de novos produtos a partir do uso sustentável da biodiversidade. Para os dois anos do projeto do licuri, o MCTI investiu R$1,8 milhões. “Para 2020, estão previstos investimentos na ordem de R$ 40 milhões com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico, para apoiar novas Cadeias Produtivas da Bioeconomia”, afirmou Marcelo Morales, secretário SEPEF/MCTI, durante o evento.

Aumento da produção depende da demanda

De acordo com a coordenação do projeto, na Bahia, 60% da economia gerada do extrativismo de palmeiras advém do licuri. No entanto, os números de colheita e de processamento indicam que há capacidade ociosa, que pode ser ativada se houver demanda pelo óleo de licuri

A Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes), apoiada pelo projeto, por exemplo, possui 200 cooperados, sendo 120 mulheres de 30 comunidades.  As cidades da Bacia do Jacuípe, região em que a cooperativa está localizada, têm uma média de produção de 200 toneladas de licuri por ano. Segundo os pesquisadores, as comunidades locais garantem que a capacidade da palmeira não é completamente utilizada. Menos de 10% da produção é colhida.

Em 2020, a Coopes comprou aproximadamente 10 toneladas de licuri das cooperadas, processando 800kg de amêndoas semanalmente. Mas a capacidade instalada de processamento pode triplicar esse número se houver demanda no mercado.

 
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações
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