A Prefeitura de Cuiabá apresentou, na manhã desta quinta-feira (1º), um panorama da saúde do município, após a intervenção estadual, que geriu o setor de março a dezembro passado. O Executivo Municipal aponta uma série de falhas e afirma que o Governo do Estado não cumpriu com o que foi determinado pelo judiciário de Mato Grosso.
A situação mais grave refere-se ao Hospital São Benedito. Segundo levantamento feito pela gestão municipal, que reassumiu o comando da Secretaria de Saúde em 1º de janeiro, durante a intervenção foram registrados 196 óbitos na unidade de saúde.
No mesmo período de 2022, houveram 105 mortes no Hospital, o que representa um aumento de quase 100%. Para o gestor assistencial da unidade de saúde, Pioter Antonieto, isso é reflexo da mudança de perfil do São Benedito, que teria passado de alta complexidade para Hospital de retaguarda, recebendo pacientes regulados das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e Policlínicas.
“Chegou a morrer seis pacientes em um dia”, disse.
Além disso, o secretário de Saúde Deiver Teixeira afirma que recebeu o setor com falta de medicamentos e insumos, falta de médicos e outros profissionais, e com estruturas deterioradas.
“Quando assumimos não tínhamos as condições adequadas no que diz respeito a medicamentos. Várias unidades não tinham medicamentos e insumos básicos”, disse citando insulina como exemplo.
Segundo ele, Cuiabá fornece insulina para nove mil pessoas e a intervenção pegou insulina só para cinco mil pessoas. “nos temos uma demanda perto de nove mil mensal, mas eles fizeram uma compra para cinco mil. Então, quatro mil pessoas ficaram sem insulina”, reforçou.
O integrante do primeiro escalão municipal ainda frisa que seis Unidades de Saúde da Família (USF) estavam com déficit de médicos, e outras três com risco de ficar sem profissional por conta de contrato.
Também foi registrada a falta de 82 vigilantes, 22 recepcionistas, nove atendentes de farmácia, dentre outros profissionais. “Aguaçu, Jokcye clube, São Gonçalo, Parque Cuiabá e Dom Aquino estava com déficit de médicos. Então, percebemos que a falta de médicos não foi solucionado como foi determinado judicialmente. E além da falta de médicos, havia falta de outros profissionais nas unidades. (atendentes de farmácia, recepcionistas, vigilantes)”, completou Deiver.
No que diz respeito a estrutura física, o secretário pontua que unidades que foram entregues pela Prefeitura, pouco antes do início da intervenção, já estão sucateadas. Como exemplo, ele cita a unidade do Jardim Vitória.
“A estrutura está complicada. O que a gestão municipal encontrou foi inúmeras unidades sucateadas, sem nenhuma assistência, um descumprimento quase absoluto da determinação, havendo uma distância abissal daquilo que foi apresentado a mídia pelo gabinete de intervenção e a realidade encontrada”, colocou.
Diante de todo panorama apresentado, o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) afirma que irá analisar, minunciosamente, todos os dados e apresentar as medidas emergenciais na próxima semana.
“Semana que vem anunciar as medidas que irei tomar com relação a esse quadro dramático que recebemos como herança do gabinete de intervenção. Medidas emergências precisam ser tomadas sob pena de colapso da saúde pública do município”, disse.
O Governo do Estado ficou à frente da saúde de Cuiabá por nove meses, de março a dezembro do ano passado. A medida foi adotada porque o judiciário de Mato Grosso acatou um pedido do Ministério Público Estadual (MPE), o qual apontou uma série de falhas no setor, as quais estavam prejudicando o andamento e o bom atendimento a população.
Governo rebate
O Gabinete de Intervenção, por sua vez, afirma que toda o cenário divulgado pelo prefeito da Capital não passa de “conversa fiada”, e ainda manda ele ir trabalhar para garantir atendimento digno à população.
Para o grupo, Emanuel “cria cortina de fumaça para acobertar o caos que é sua gestão”.
“Todos os números de atendimentos médicos, ambulatoriais e de UTIs tiveram aumento porque o Hospital São Benedito estava praticamente fechado antes da intervenção assumir a saúde da capital”, concluiu.