Flávia Petersen Moretti de Araujo, mais conhecida como Flávia Moretti, é a atual Presidente do PL Mulher em Várzea Grande e aposta do Partido Liberal de Jair Bolsonaro para as eleições municipais deste ano em Várzea Grande. A candidata declaramente de direita deposita suas fichas no apoio do ex-presidente e de seus colegas de sigla para se destacar no pleito.
Natural de Ribeirão Preto (SP) e morando há 22 anos em ‘VG’, ela é crítica ferrenha às gestões das famílias Campos e Baracat. Moretti diz que tem sede de mudança. Aliás, este é o nome da coligação “Sede por Mudança”, composta pelo PL, Podemos, Democracia Cristão e PRTB, a qual ela participa.
A propósito, não tem como falar de sede sem falar de água. Elemento essencial para a sobrevivência humana, a cidade jocosamente ficou conhecida pela falta recorrente deste recurso indispensável para qualidade de vida, que se tornou tema central dos debates e de propostas para os que se lançam a resolver o problema de uma vez por todas.
Ao Leiagora, o candidata defendeu a terceirização via concessão da água na cidade, ampliar os investimentos na saúde e entender as causas das demandas da rede pública que ainda hoje depende de Cuiabá para diversos tipos de tratamentos e atendimentos, naquele que, para ela, é encarado como “o maior problema de Várzea Grande”. Como candidata, ela prega o fortalecimento das políticas públicas para as mulheres, pois considera elas como a base da família.
Confira a entrevista completa.
Leiagora - Para os que ainda não a conhecem, quem é Flávia Moretti, qual é a sua trajetória e quais suas contribuições efetivas para a sociedade várzea-grandense até o momento?
Flávia: Eu sou Flávia Moretti, advogada, professora, mãe do Rafael, casada com o Carlos Alberto, moradora de Várzea Grande há 22 anos. Fui presidente da OAB por 12 anos à frente da diretoria, sendo três mandatos como presidente e o primeiro mandato como vice-presidente da OAB.
Como presidente atuei muito nos conselhos da cidade, na gestão pública municipal, participando de audiências públicas na Câmara Municipal, ajudando o município a reestruturar os conselhos ou criando novos.
Trabalhei com a Fundação da Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica em VG, também fui secretária de desenvolvimento urbano na gestão do Tião da Zaeli em 2012 durante oito meses, deixei vários legados para o município, como criação e aprovações de leis que vieram a possibilitar a vinda de vários empreendimentos, várias obras de mobilidade urbana também.
Vim nessa candidatura porque tenho interesse em fazer Várzea Grande melhor. O meu amor pela cidade nada mais é que a minha vontade de fazer o município crescer, se desenvolver, ter mais oportunidades para o cidadão.
Leiagora - Candidata, sabemos que estreantes no meio político enfrentam naturalmente dificuldades de alcançar visibilidade e emplacar seu nome. Como a senhora pretende lançar suas propostas e mostrar a população que mesmo sem esse “passado político” está qualificada?
Flávia: Apesar de eu nunca ter concorrido a prefeitura, eu sempre trabalhei na gestão pública. Eu tenho capacidade, atribuição de estar aqui como prefeita com segurança e com propriedade.
Emplaquei como pré-candidata à prefeitura, com todo o fortalecimento e apoio da bancada do PL, dos partidos que me envolvem, das lideranças populares, do povo e mais ainda com o apoio do Bolsonaro. Meu nome já está emplacado apesar de nunca ter concorrido a uma eleição municipal, estadual, federal.
Vou apresentar minhas propostas de diversas formas. Meu plano de governo está disponível no site do TSE, também já está disponível no meu link da bio do Instagram e do meu site.
Eu vou demonstrar as minhas propostas por entrevistas, redes sociais, debates, é dessa forma que vou mostrar para a população minha capacidade, a conscientização política, necessidade da gente mudar a gestão pública.
Leiagora - Seus correligionários do PL tem lhe prestado apoio com presença durante convenção, eventos e falas na mídia. É notório que existe a expectativa de que o ex-presidente Jair Bolsonaro volte a Mato Grosso para impulsionar seu nome no município. Essa aproximação da maior figura da direita conservadora do país vai alavancar suas chances?
Flávia: Já alavancou quando ele veio no dia 8 de janeiro ou quando ele me recebeu, desde quando eu lancei minha pré-candidatura em novembro do ano passado. Ele vindo, se ele confirmar presença, melhor ainda. Os filhos dele já estão confirmados presença.
Mas o Bolsonaro ainda não confirmou, até porque são mais de 5 mil municipios no Brasil todo, mas ele sabe o quanto Várzea Grande é de direita bolsonarista, sabe que as pessoas que não são de direita também querem uma mudança do município e que veem Flávia como a esperança de uma nova mudança. Bolsonaro me alavanca de qualquer maneira. Ele vindo será ótimo, maravilhoso, um divisor de águas.
Leiagora - A senhora tem “peitado” os Campos há um certo tempo e apostado em um comportamento anti-sistema. Essa postura tem ficado evidente durante suas falas em entrevistas e eventos públicos onde critica a gestão das famílias Campos e Baracat, inclusive se colocando como oposição a eles. Se eleita, em que a senhora pretende se diferenciar deles? Como romper com o histórico deles?
Flávia: Com trabalho efetivo e transparente de resultado, porque não tivemos. Eles prometeram água até hoje e não levaram. O Kalil fala que resolveu parcialmente o problema da água. Aonde? Tem barros que estão jogando água pela rua, mas não leva dentro da casa.
Então a diferença entre eu e eles é que a gente vai fazer um trabalho planejado, estruturado, administrativo, com uma transparência para atender os serviços que o cidadão precisa. Com dignidade de viver em Várzea Grande, porque hoje a situação do cidadão é de que não tem dignidade nenhuma.
Precisamos resgatar essa dignidade do cidadão de morar bem, de viver bem e de ter serviço público de eficiência. Na UPA se distribui senha para ser atendido, você acha que saúde tem que ter senha? Não existe isso.
A saúde pública tem que estar de porta aberta para receber qualquer um de nós e as do pronto socorro estão de porta fechada. A diferença entre eu e eles é que eu quero fazer para o povo e não fazer para se manter no poder como eles querem.
Minha diferença vai ser fazer uma política de desenvolvimento econômico no município que nunca foi feita.
Leiagora - Pauta água, o principal tópico dos debates e um problema crônico em Várzea Grande. Como a senhora pretende pôr um fim a essa questão que atravessa gestões? Será por meio da privatização? Terceirização?
Flávia: É a terceirização via concessão. Aí nós temos que estudar, fazer o diagnóstico do DAE, porque isso leva tempo. Nunca foi feito efetivamente um diagnóstico do número de casas, de unidades. Nós temos casas que estão na clandestinidade há anos, precisamos fazer um estudo do ativo e do passivo do DAE.
Uma reestruturação administrativa no DAE junto a uma secretária, e trazer ele para concessão. Seja ela totalmente privada via lei de licitação, ou seja pela PPP, investimento público com investimento privado.
O que não dá é para um município de 157 anos de idade ficar abastecido com caminhão de água-pipa. Nós não podemos mais ter a máfia de furar poço artesiano em Várzea Grande, a máfia de caminhão pipa. A água virou um bem tão precioso, que é caro demais! Mil litros é cinquenta reais!
A água e o tratamento do esgoto tem que ser tercerizado. Lógico que o município vai ter metas, fiscalizar, cobrar, investimento. Isso vai ter dentro do modal de contrato. E é essa minha proposta para resolver o problema da água.
Leiagora - Em seu plano de governo a senhora cita “a saúde como o maior problema de Várzea Grande” e que “não é um ‘problema’ isolado, antes ela é uma consequência de diversas causas”. Quais seriam essas causas e suas iniciativas voltadas para essa área? Como melhorar a questão da saúde pública na cidade?
Flávia: A saúde interliga-se com vários setores, desde a educação, que nós temos que educar, prevenir, ensinar a criança a saúde bucal. Ensinar a mãe daquela criança a procurar o médico, fazer prevenção dela.
Nós precisamos, dentro da saúde pública, trabalhar que a porta de entrada do pronto-socorro é acidente de trânsito. Então para melhorar a saúde tem que melhorar a mobilidade urbana.
Temos um número muito alto de dengue no município, que isso reflete no saneamento básico também, água parada, o esgoto mal tratado, jogado nas ruas. Zika e Dengue é uma das entradas na saúde pública.
Então nós precisamos trabalhar a saúde no todo, porque nós não podemos mais ficar atravessando a ponte para tratar os nossos cidadãos. Nós concorremos com filas do estado inteiro e de todos os cuiabanos em Cuiabá.
O meu projeto é criar o corujão da saúde, ampliar o atendimento nas unidades de saúde dos bairros com mais tempo de atendimento, porque a mãe e o pai chegam do trabalho e aí que veem que o filho está doente e sobrecarrega a UPA.
Atendimento itinerante é uma proposta, indo nos bairros aos finais de semana, quando a mulher e o pai estão em casa com as crianças, é uma oportunidade de tratar a saúde ao mesmo tempo.
Outro projeto para saúde que tenho como proposta é ampliar o acolhimento de pessoas que ainda tem que ir para Cuiabá para fazer o tratamento oncológico ou hemodiálise. Fazer um acolhimento melhor, transporte, ter uma casa de apoio em Várzea Grande.
As nossas famílias atípicas não têm neurologista dentro do município, não tem psiquiatra dentro do município. Dependem de associações, de ONGs de Cuiabá para poder ter um acolhimento terapêutico. Então essa rede vai ser ampliada.
Outro ponto da saúde pública que eu acho que interliga muito com a segurança pública e com o bem-estar social, são os moradores em condições de rua.
O centro pop do município fecha a noite, não tem onde ser acolhido. Os usuários de droga, nós não temos nenhuma instituição de saúde do município. Tem uma associação dentro do município que acolhe, tem as igrejas que acolhem, tem associações que acolhem, mas nenhuma delas recebe recurso municipal, tem um convênio municipal, tem um acolhimento da prática da saúde ou da educação ou da assistência social para poder fazer um trabalho com o município com essas pessoas.
Essas pessoas ficam à margem do voluntariado e isso não deve ser, porque são pacientes. Essas pessoas em condições de rua, usuários de drogas, têm que ter um cuidado especial, dignidade humana. É importante a gente dar esse olhar diferenciado.
Leiagora - Como será sua atenção aos servidores públicos? Pretende fazer uma limpa em cargos comissionados para enxugar os gastos? Ou pretende analisar a demanda de cada secretaria?
Flávia: Primeiro que a gente vai fazer uma reestruturação administrativa. Enquanto os servidores públicos concursados, eu quero fazer um estudo para colocar em dia o RGA deles e começar a pagar.
Esse estudo depende das contas do município, mas em torno de seis meses eu consigo já passar isso para eles, de três a quatro meses, eu vendo dentro do município como que estariam as contas municipais dá para repassar a forma de pagamento.
Não é questão de enxugar gastos, mas alguns gastos que a máquina tem hoje não precisaria. Na educação 5 milhões não precisava pagar uma dupla de palhaços Patati e Patatá para um projeto educacional. Bastava preparar nossos professores e fazer com que se sintam valorizados, esses 5 milhões poderiam ser redirecionados para o aumento do salário, equiparação.
Quanto a cargos e salários que hoje tem lá, nomeações, eu sou técnica. Quem me viu trabalhar na Secretaria de Desenvolvimento Urbano há 8 meses, eu mantive técnicos que não eram concursados.
Tem que melhorar o RGA, equiparação salarial, porque está muito defasado o salário, principalmente se você comparar o servidor público de Cuiabá com o de Várzea Grande é quase 70% do defasagem e a gente está numa região metropolitana.
Para diminuir as contratações temporárias eu propus a fazer um plano de abertura de novas vagas para concurso. Porque se eu tenho mais concursado, tenho mais efetividade no serviço público, o cara que entra é técnico da área, ele vai trabalhar para desenvolver e conduzir com o plano de carreira dele para crescer.
Então para o servidor público, seja ele concursado, seja ele nomeado, seja ele contratado, a gente vai tratar de forma técnica, que é o que eu sou.
Leiagora - Além de homens, Várzea Grande já teve duas prefeitas mulheres anteriormente, Sarita Baracat de Arruda e também Lucimar Campos, ambas de famílias as quais a senhora não aprova as gestões. O fato de ser uma candidata mulher vai pesar nas suas propostas para o município? Pretende dar atenção a alguma área específica em que geralmente o olhar masculino não atende?
Flávia: Não, eu estou olhando para Várzea Grande num todo. Eu olho muito geoespacial, porque se eu vou cuidar da saúde, eu vou cuidar da saúde de prevenção do homem, da mulher, do idoso, da criança.
Mas se eu vou cuidar da mulher, eu também estou cuidando da família toda. Coloquei no meu plano de governo a criação da Secretaria Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres, porque eu penso o seguinte, uma mulher forte é uma família fortalecida.
Se eu tenho uma mulher que tem uma independência financeira, uma saúde boa, que saiba conduzir a sua família junto com o seu marido, você tem uma família fortalecida e diminui todas as questões de violência doméstica, de criminalidade, das drogas.
Quando se assume prefeito, é de todos, seja homem, mulher, criança, adulto, até para o animal.
A Sarita, eu conheço a história dela, uma mulher muito guerreira, no tempo dela ela fez o protagonismo político dela. Agora no tempo da Lucimar, me perdoe, eu respeito muito ela, mas quem governou na gestão foi o marido dela, que foi inclusive secretário de governo. Então assim, ela era uma mulher de garra, respeito ela, mas quem dava a condução do município, quem dá até hoje, é o Jayme Campos, isso é fato.
Só que eu venho de uma vertente de uma mulher técnica, jurídica, que tem conhecimento público da gestão pública e tem o conhecimento das necessidades do meu município. E é por isso que eu estou aqui.
Leiagora - Sabemos que política é feita de concessões e dialogar até com oposição. Se a senhora ocupar o executivo municipal, existirá diálogo com Júlio e Jayme, atuais deputado estadual e senador por Mato Grosso, que podem encaminhar emendas para o município? Como se dará esse relacionamento?
Flávia: Eu acho que sim, com certeza. Nunca vou fechar portas para a gente trazer o melhor para Várzea Grande. A eleição é um ato político, democrático, onde sempre tem os concorrentes. Pós-eleições, o prefeito na pasta, ele vai administrar para todos.
Se tiver que ir lá conversar com o Jayme Campos, eu vou conversar. Se tiver que ir lá conversar com o Júlio Campos, eu vou conversar. Vou exigir respeito, mas vou conversar.