Celular de Zampieri: Coaf identifica transação entre lobista e ministro do STJ
Zampieri captava clientes que tinham interesse em processos que tramitavam no Superior Tribunal de Justiça e o Andreson de Oliveira Gonçalves usava sua rede de contatos em Brasília para manipular o resultado de julgamentos
A Polícia Federal (PF) está investigado uma suposta ligação entre uma quadrilha de magistrados que vendiam sentenças em Mato Grosso e um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), segundo a revista VEJA. Na reportagem, mensagens trocadas por Roberto Zampieri com autoridades são reveladas e pessoas que tinham bom trânsito em Brasília.
Roberto Zampieri foi assassinado em 5 de dezembro de 2023 quando saia de seu escritório no Bosque da Saúde. O advogado, que era conhecido por ter bom trânsito que tinha em alguns setores do Poder Judiciário e pela incrível taxa de êxito em casos difíceis ou considerados perdidos, tinha como aliado Andreson de Oliveira Gonçalves, que ganhava a vida como empresário do ramo de transporte de cargas.
Durante anos, esses dois personagens foram parceiros em um negócio milionário. O advogado captava clientes que tinham interesse em processos que tramitavam no Superior Tribunal de Justiça. O empresário usava sua rede de contatos em Brasília para manipular o resultado de julgamentos.
A partir das informações encontradas no celular de Zampieri, a PF abriu um inquérito para investigar o caso e durante as diligências foi encontrado um material que apontava a existência que um grupo de advogados e lobistas comprava e vendia decisões judiciais do STJ. Da memória do aparelho foram resgatados mensagens com insinuações sobre o comportamento de vários ministros, minutas originais de sentenças e comprovantes de repasses financeiros.
A apuração se concentrou nos gabinetes dos ministros Isabel Gallotti, Og Fernandes, Nancy Andrighi e Paulo Moura Ribeiro. As evidências indicavam que funcionários desses gabinetes haviam sido corrompidos. Em troca de dinheiro, antecipavam veredictos e alteravam decisões de acordo com o interesse do cliente, tudo, em princípio, à revelia dos chefes. O escândalo, supunha-se, estava circunscrito ao segundo escalão do tribunal.
Surgiu então o fato novo que pode mudar o caso de patamar. Duas autoridades que tiveram acesso à investigação disseram a VEJA que os técnicos encontraram movimentações financeiras consideradas atípica envolvendo o lobista Andreson Gonçalves, um intermediário e o ministro Paulo Moura Ribeiro.
O simples fato de ter sido detectada uma transação classificada como fora do padrão pelo Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) não significa que o magistrado tenha cometido crime ou recebido propina do esquema de corrupção instalado nos gabinetes do STJ, mas obrigou a polícia a remeter o inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF), que agora vai decidir se autoriza ou não o prosseguimento da investigação. Só ela vai esclarecer o que, por enquanto, pode ser classificado apenas como uma estranha coincidência.
A VEJA, Moura Ribeiro negou ter recebido qualquer repasse financeiro do lobista e garantiu que, até a eclosão do escândalo de venda de sentenças, nem sequer havia ouvido falar no nome de Andreson Gonçalves.
“Nunca houve nenhuma transação, o que é isso? Não tenho negócio nenhum, nenhum, nenhum. Tenho quase 42 anos de magistratura, nunca aconteceu nada comigo”, disse.
O lobista também negou ter realizado qualquer transação com o magistrado.
“Não existe este depósito. Estão me colocando como o maior vendedor de sentença do Brasil. Não conheço, não vi, nunca estive com ninguém do STJ, com nenhum chefe de gabinete, com nenhum assessor, com nenhum ministro, com ninguém”, afirmou.
Com informações da VEJA
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