Uma reunião sobre a transformação da Escola Estadual Gustavo Kulmann em unidade cívico-militar terminou em confusão no dia 24 de junho, no bairro Jardim Vitória, em Cuiabá. O assunto veio à tona após vídeos terem sido divulgados nas redes sociais, os quais mostram professores contrários ao modelo tentando dialogar com a comunidade, mas sendo ignorados por pais e responsáveis. Eles também alegam ter sofrido censura por parte da direção.
A diretora da escola, Viviane Gomes, negou as acusações ao Leiagora e afirmou que todo o processo foi conduzido de forma transparente e democrática. Segundo ela, a comunidade foi informada e envolvida nas discussões. “Enviamos mensagens no grupo de pais sobre a situação e a reunião, conversamos com os alunos, realizamos palestras e promovemos um debate em que os estudantes votantes pudessem ouvir os argumentos favoráveis e contrários ao modelo. Em seguida, convocamos a comunidade para uma reunião, na qual também foram apresentados os dois lados”, declarou.
Já o professor Alysson Cipriano, que aparece sendo ignorado nos vídeos, afirmou ao Leiagora que a inscrição da escola no edital de adesão ao modelo foi feita de forma arbitrária, já que a Gustavo Kulmann não estava entre as unidades listadas como prioritárias pelo Estado.
Segundo ele, durante a reunião do dia 24, a direção relutou em conceder a palavra aos professores contrários à proposta. “Na marra, deixaram o professor Joaquim Ventura falar, mas já com aquele cenário em que a gente parecia inimigo”. Ventura acabou vaiado e interrompido diversas vezes durante o discurso.
Alysson afirmou ainda que, ao tentar se manifestar no fim do encontro, teve o microfone cortado. Ele também disse que a diretora pediu aos pais que ajudassem a recolher as cadeiras, o que teria desmobilizado o público.
Viviane, por outro lado, negou a censura e declarou que a caixa de som permaneceu ligada. Segundo ela, o próprio professor teria desligado o microfone para simular um ato de repressão. A diretora também afirmou que os professores tiveram espaço ao longo de todo o processo, mas acabaram vaiados por pais e responsáveis porque, segundo ela, espalharam informações falsas sobre o modelo, como a obrigatoriedade de cortar o cabelo dos alunos, a realização de revistas pessoais e relatos de violência por parte de militares.
“O problema é que a comunidade se manifestou favorável ao modelo, e eles ficaram irritados”, disse.
Viviane defendeu a mudança, argumentando que a proposta cívico-militar representa um desejo coletivo por uma educação que una excelência acadêmica, disciplina, civismo e valores éticos. Para ela, a falta de disciplina é um dos principais problemas da escola, que tem registrado episódios recorrentes de brigas e uso de cigarros eletrônicos. Segundo a diretora, muitos pais apoiam o novo modelo como forma de combater a violência no ambiente escolar.
Alysson negou as acusações de desinformação e afirmou que suas críticas são fundamentadas em posicionamentos do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público (Sintep), da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e de órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU). “Quero que me mostrem uma escola cívico-militar em que os alunos já tenham recebido o fardamento e possam usar cabelo comprido. Não tem [...] A maioria da nossa comunidade vai de chinelo para a escola. É um bairro carente. Ontem mesmo, durante o frio, havia alunos de shorts no pátio. E essa é a comunidade que vai ter que usar farda?”, questionou.
Ele também contestou a imparcialidade da campanha, alegando que havia mais cartazes favoráveis ao modelo do que contrários, e que a direção tinha maior acesso aos canais de comunicação com os pais, como os grupos de WhatsApp. “É preciso avaliar quantos alunos foram alcançados pelos professores e quantos pela direção escolar”, afirmou. Segundo ele, os docentes enfrentaram dificuldades para divulgar suas posições por conta da rotina de trabalho e também relataram medo de represálias.
A votação sobre a adesão ao modelo foi realizada nos dias 26 e 27 de junho. O resultado foi favorável à conversão, com 372 votos a favor e 83 contrários.
Veja o vídeo: