O período chuvoso em Mato Grosso, com precipitações dentro do normal, deve começar somente em novembro. Ao Agora Pod, o meteorologista, professor e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Douglas da Silva Lindemann, explica que as próximas semanas serão uma amostra do cenário futuro com o encurtamento das chuvas.
Segundo Lindemann, o Estado enfrentará um outubro mais seco que o habitual. “Provavelmente, a gente vai ter um mês de outubro bastante seco ainda, com chuvas abaixo do normal. Aparentemente, as chuvas tendem a se normalizar em novembro. Então, a gente já tem um atraso considerável em relação à média. E aí, quando essa chuva começa, em novembro, ela tende a ficar acima da média.”
Ele destaca que o período chuvoso deve demorar a se firmar, mas quando começar, deve vir com força. “Então, a chuva, aparentemente, tende demorar a começar a se estabelecer e, quando começar, ela vai começar de vez”.
Lindemann esclarece que esse cenário é reflexo de uma combinação entre a variabilidade natural do clima e a ação humana sobre o planeta. “O clima ele tem a sua variabilidade natural, vai ter anos que são um pouquinho mais úmidos, um pouco mais secos. Então, ele vai oscilando”, pondera.
Porém, ele destaca que há uma “digital humana” atuando para acentuar essa variabilidade. “A influência humana seria em intensificar essa variabilidade. Então, quando a gente fala de aquecimento global, o senso comum pensa assim: então, vai ser sempre quente, quer dizer que todos os anos vão ser quentes, e na verdade, não é bem assim”.
Para explicar o fenômeno, Lindemann recorre a uma metáfora doméstica: “É o mesmo raciocínio se pensar assim de uma panela com água sobre o fogo. Se a panela estiver ali sobre o fogão, sem nenhum fogo ligado, ela está estática. Agora, se está com essa panela com água e acende o fogo, com o passar do tempo, a resposta da panela não é imediata, não vai ter água fervendo instantaneamente, então, vai ter que aquecer aquele ambiente”.
Ele ressalta que a atmosfera se comporta de maneira semelhante. “A atmosfera, de certa, forma funciona do mesmo jeito, tanto que na meteorologia a gente trabalha a atmosfera. Apesar de ela ser um gás, a gente trabalha ela como se fosse um fluído, para entender melhor.”
Outro ponto crucial para o aquecimento global é o papel dos gases do efeito estufa, que é um fenômeno natural e essencial e funciona como um “cobertor”. “A gente precisa do efeito estufa para viver. Se não fosse ele, provavelmente seria bem mais difícil, seria muito mais frio do que é hoje”.
Contudo, ele alerta que a ação humana tem intensificado esse processo. “Se o ser humano começa a emitir de forma discriminada CO2 para a atmosfera, é como se eu estivesse botando mais camadas nesse meu cobertor. E aí essa radiação da Terra, que deveria ficar um pouquinho aqui na atmosfera e ser perdida para o espaço, ela acaba ficando cada vez mais aqui, ela fica mais tempo. E é isso que proporciona esse aquecimento”.
O resultado, segundo ele, são eventos extremos mais frequentes. “E aí entra a analogia com a panela. Então, eu estou abafando a minha panela, estou fazendo ela aquecer cada vez mais. E aí o que que seria esse papel dessas bolhas? Seria essas tempestades de chuva que às vezes ocorrem”.
Por fim, Lindemann faz um alerta sobre a intensidade das chuvas nos últimos anos. “Aparentemente, as chuvas estão ficando cada vez mais intensas. Cada vez mais comum no noticiário a gente vê as cidades sofrendo com alagamentos, com deslizamentos, com o transbordamento de rios, porque é uma forma do sistema da atmosfera tentar dissipar esse excesso de energia que fica, esse excesso de calor”.
Confira a entrevista completa:
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