A presença feminina em cargos de liderança ainda é minoria nas empresas brasileiras, mas um instrumento vem se mostrando decisivo para mudar esse cenário: a governança corporativa. Para as advogadas Luize Calvi Menegassi e Castro e Emília Vilela, a equidade de gênero nas organizações começa pelo topo, ou seja, pela forma como as lideranças encaram o tema e definem o tom da cultura organizacional.
Durante entrevista ao Agora Pod, as especialistas defenderam que políticas de combate ao assédio, cuidados com a saúde mental e a busca por paridade salarial e de oportunidades são pilares da governança moderna — e fundamentais para abrir mais espaço às mulheres nos ambientes de decisão.
Segundo elas, é essa estrutura que movimenta o assunto dentro das empresas, trazendo oxigenação e promovendo transformações reais. “O tom vem do topo. A condução dos negócios familiares parte de quem está na fundação desse negócio, e é a partir daí que se define a forma de pensar e agir sobre equidade e liderança”, afirmou Emilia.
As advogadas explicam que o papel da governança é criar as bases para um ambiente mais saudável e transparente. Isso inclui a implementação de treinamentos recorrentes sobre assédio e a nova NR-1, que trata da saúde mental e das condições psicológicas no trabalho, além de políticas de compliance acessíveis e aplicadas de forma igualitária para todos os níveis da empresa.
“O empresário precisa lidar com muitos riscos, e a governança é o caminho para organizar e tratar esses temas com seriedade, de modo que as regras não fiquem só no papel”, ressaltou Luize.
Entre as medidas práticas apontadas, estão o incentivo à flexibilidade de jornada, o apoio à maternidade e à paternidade com políticas de retorno e creche, e a criação de espaços de escuta e diálogo que permitam tratar tanto dos bons resultados quanto dos assuntos mais sensíveis. “Falamos de conversas corajosas e da importância de estabelecer o diálogo dentro das empresas. A transparência, inclusive sobre temas difíceis, fortalece a cultura organizacional e melhora o ambiente de trabalho”, destaca Luize.
Para as advogadas, o avanço da equidade também depende de um olhar mais humano sobre as vulnerabilidades das pessoas. “Homens e mulheres carregam muitas responsabilidades, e reconhecer isso é essencial para construir um ambiente mais empático e produtivo. Olhar para o capital humano muda a forma de gerir”, pontuou Luize.
Segundo elas, os princípios de equidade, diversidade e respeito devem estar incorporados aos instrumentos da governança — como conselhos, acordos de sócios, protocolos de família e políticas internas — para que deixem de depender de iniciativas individuais e passem a fazer parte da estrutura da empresa. “A governança é a engrenagem que faz tudo funcionar. Quando ela é bem aplicada, as mudanças não são mais pontuais, mas estruturais”, completou Emília.
A dupla, que recentemente lançou uma formação voltada à governança e sucessão para mulheres líderes, afirma que há um movimento crescente de empresárias e herdeiras interessadas em ocupar espaços estratégicos, mas que ainda enfrentam barreiras culturais e estruturais. “A gente acredita muito no papel que a mulher tem de tecer relações e conectar pessoas. Seja na gestão, na propriedade ou na família, a presença feminina traz sensibilidade e diálogo, elementos fundamentais para o sucesso dos negócios”, afirmou Luize.
De acordo com levantamentos recentes feito pelo Dieese, apenas cerca de 17% das empresas no país possuem mulheres em cargos de direção, e que a diferença média de remuneração anual entre homens e mulheres pode chegar a R$ 40 mil — dados que, segundo elas, reforçam a urgência da mudança de mentalidade nas organizações.
Mais do que metas e estatísticas, o que as advogadas defendem é a transformação da cultura empresarial. “Não se trata apenas de cumprir cotas ou seguir normas. É sobre entender o propósito, os valores e o papel social da empresa. Quando o propósito é claro, a equidade deixa de ser discurso e passa a ser prática”, concluiu Emília.
Assista a entrevista completa
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