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23/09/2018 às 13:00

Bebês sem-teto, uma dura realidade às portas de Paris

Redação Leiagora

Paris, capital que se orgulha de ser a cidade da hospitalidade e do amor, esconde uma dura realidade: as grávidas sem-teto que, logo após dar à luz, voltam para as ruas junto com seus bebês recém-nascidos.

O problema, concentrado particularmente no subúrbio de Saint-Denis, foi denunciado pelo serviço de urgências para o alojamento de pessoas vulneráveis - conhecido como 115 -, que alertou sobre a crescente falta de imóveis para estas mulheres e o desamparo no qual se encontram.

Uma delas é Aisha, marfinense que cruzou o Mediterrâneo e Espanha para que seu filho pudesse nascer na França. Deu à luz há 40 dias e continua no hospital Delafontaine de Saint-Denis porque não tem um lugar para onde ir.

"Demorei muito tempo para chegar. Meu pai, minha mãe e meus outros filhos estão na Costa do Marfim, eu não tenho ninguém aqui", disse à Agência Efe visivelmente emocionada, mas convencida de que voltaria a fazer a mesma odisseia.

Aisha, que assegura que a Europa é como imaginava, agradeceu tanto à Espanha como à França pelo tratamento recebido.

A médica da maternidade do hospital Delafontaine Jessica Dahan explicou à Efe que o local abriga "muitos pacientes que se encontram em uma situação bastante precária. Uma porcentagem alta não têm alojamento e muitas mulheres estão em situação de vulnerabilidade, porque dormem na rua ou em abrigos cedidos pelo 115".

Dahan afirmou que as alternativas oferecidas pelo 115 também não são uma solução definitiva.

Uma auditoria interna realizada pelo hospital no segundo semestre de 2017 concluiu que, em um período de seis semanas - no qual ocorreram 610 nascimentos -, 94 camas de hospital foram postas à disposição de mães em situação de vulnerabilidade.

"O problema nos obriga a adaptar nossa forma de cuidá-las como médicos, sobretudo em relação a certas doenças que, para elas, não são prioritárias, porque o que desejam é poder comer e encontrar um teto", destacou Dahan.

A especialista em maternidade revelou que o maior problema da unidade é ter que "manter" as pacientes depois do parto, porque atrapalha os trabalhos de assistência urgente e força a "desviar" partos para outros hospitais.

O costume é não deixar que vão embora até que encontrem alojamento, o que obriga o centro hospitalar a hospedá-las durante dias, inclusive semanas, à espera de que o 115 arrume um lugar.

Mas este serviço não consegue sempre chegar a todas estas mães desamparadas. "Neste momento, há um déficit de capacidade de ajuda", revelou Dahan.

A maioria dos casos de mulheres grávidas que estão na rua costuma corresponder a menores - tantos imigrantes como moradoras locais - que perdem contato com suas famílias, e a vítimas de problemas psicossociais, como drogas e álcool. Casos de estupro também ocorrem mas, segundo Dahan, não são frequentes.

Os partos de mães sem-teto, cíclicos e variáveis desde 2012, têm picos de grande natalidade e outros mais moderados nos últimos anos.

Quando ocorrem estes picos, os hospitais ficam em grande dificuldade, como é o caso desta unidade desde o início do verão (hemisfério norte), denunciou a médica.

A taxa de mortalidade infantil no Saint-Denis é a mais elevada da França: em 2016 foi divulgado pelo Instituto de Estatística francês o número de 4,43 mortes para cada 1.000 crianças nascidas, em comparação com a média nacional que é de 3,7.

Direto da Agência Efe, Marco Sanz e Hanan Abdeselam

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