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25/09/2018 às 08:00

O brasileiro e a pornografia

Gabriel Oliveira

Não! Mesmo a menos de duas semanas das eleições, este texto não vai falar das obscenidades da roubalheira que assola a moral política do país nos últimos anos. Nem da sacanagem a que somos repetidamente submetidos por boa parte da classe governante desde nossa fundação.

Hoje falaremos do obsceno sexual, da sacanagem do gozo físico, produto que atinge cifras astronômicas, e largamente consumido por brasileiros. O texto trata do acesso a conteúdo pornográfico na Internet. E, se somos o que consumimos, o brasileiro consumidor médio de pornô na web reflete no espelho uma imagem ? no mínimo ? surpreendente.

Segundo dados publicados por uma das mais famosas plataformas de vídeos pornôs do mundo, em 2017 o site recebeu 800 visitas por segundo! São 50 mil buscas em um minuto. É mais ou menos o seguinte: enquanto o Grupo Globo se gaba com a campanha dos ?100 milhões de uns? que assistem ao canal de TV diariamente, somente esta plataforma pornô recebeu ?81 milhões de uns? visitantes por dia no ano passado. Os números deste ano devem aumentar e ? talvez ? ultrapassar o poderoso conglomerado brasileiro de comunicação.

Apenas neste site é possível acessar a quase 600 mil horas de obscenidades, totalizando 68 anos ininterruptos de pura sacanagem. Esta coluna não sabe medir se, em quantidade, há mais obscenidades e sacanagens nesta plataforma pornô ou nos emaranhados políticos das três esferas brasileiras. Jamais podemos ignorar que essa indústria coisifica pessoas, levando-as a situações extremas.

Ainda quanto aos números ? e aqui vem o mais interessante dessas estatísticas - o brasileiro não tem sido muito ortodoxo nas suas categorias mais buscadas. As temáticas ?overwatch?, um jogo eletrônico multijogador de tiro em primeira pessoa, e ?hentai?, expressão japonesa que remete a animações com atos sexuais em condições extremas, estão entre as três mais acessadas. ?Brasil? indica nosso patriotismo na busca pela sacanagem tupiniquim, e as categorias ?lésbicas? e ?anal? fecham a lista das cinco mais procuradas por aqui.

Quando comparamos nossos gostos aos de outros países, descobrimos que somos a nação que mais se interessa por pornô com pessoas transexuais ? grosso modo, pessoas que possuem identidade de gênero diferente do sexo biológico com o qual nasceram. Esse dado é peculiarmente estranho quando nos confrontamos com outro número: somos o país que mais mata travestis e transexuais no mundo.

Especialistas do comportamento analisam esses números como indicadores de duas hipóteses. O acesso anônimo ao site permite ao usuário gozar seus desejos proibidos pela moral social, como indicado por Freud. Escola e família, no geral, tratam pouco desses temas, especialmente numa época de fartura desse conteúdo com fácil acesso. Sexualidades e identidades de gênero são tabus, sem discussões assertivas e, portanto, geradoras de preconceitos e violências. A outra hipótese é que os brasileiros estejam mais abertos à experimentação sexual. Menos provável que a primeira, convenhamos.

Em uma época de acirramento de valores indicando os extremos ? tá bom, só nesse pedacinho falei de eleição ?, observar e analisar o que esses números dizem sobre os brasileiros e sua relação com a pornografia online pode ser valioso para compreender movimentos, comportamentos e, numa análise mais profunda, quem é esse internauta que acessa material fílmico de temática sexual. Um terço são mulheres. Dois terços têm 35 anos ou menos e acessam via smartphones.

Um espelho colocado à nossa frente. E o que ele reflete sobre nós?

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