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Notícias / Leia Rápido

28/11/2018 às 11:01

A vida é curta. Curta!

Gabriel Oliveira

?A vida inteira que podia ter sido e que não foi?, já afirmava Manuel Bandeira no seu famoso ?Pneumotórax?. Tuberculoso, Bandeira se debruçava sobre a melancolia de pensar em tudo que sua limitação física lhe impunha, restando a ele "tocar um tango argentino", trágico por excelência. E entendo que o poeta tenha sido pontual em indicar uma diferença marcante, entre dor e sofrimento.

A dor não é opcional. No pacote da vida vem a dor. Criamos expectativas, esperanças, sonhos ? é apenas humano fazer isso. E quando nos damos conta de que o onírico e as ilações desejadas não se concretizarão, isso dói. A vida vivida não dói, dói não vivermos o que gostaríamos de viver.

E o sofrimento advém pela não realização dos nossos quereres. Focamos no que deixamos de ter, e não naquilo que estamos tendo. Focamos na profissão não desempenhada, na viagem não realizada, no livro não lido, no amor não amado, nos beijos não beijados, na ?vida inteira que podia ter sido? e deixamos de lado a vida que é, a que pulsa em nós, e mesmo a que já foi, nossas lembranças, nossos caminhos efetivamente percorridos, com suas alegrias e tristezas. E, por vezes, sofremos também por ficarmos presos ao ?que não foi? e, por consequência, nem projetamos novos quereres para a vida que ainda pode ser. Nosso time perdeu, e a derrota nos causa dor. O sofrimento advém de saber que não viveremos o que teríamos vivido com a vitória. E esquecemos no sofrimento que ano que vem tem outro campeonato. E o amor...? Ah, o amor perdido... A humanidade já dedicou uma infinidade de histórias, cantos e contos, imagens, gravuras, símbolos dos mais variados para tentar representar essa dor. Parece um tema que nunca tem fim, que se renova geração após geração naqueles que amam, e que perdem o ser amado. A dor é imensa, e o sofrimento causado pela falta parece excruciante. A ?sofrência? virou até segmento musical: o chorar pelo amor não (mais) vivido é um estilo de vida. Mas por que tanto sofrimento por amor? Não deveríamos ser gratos por termos tido uma pessoa em nosso caminho que nos proporcionou vivências e experiências tão felizes? Razoavelmente, parece que sim, mas vai dizer isso a quem sofre a perda... A dor é parte do processo da vida. O sofrimento é uma opção. Podemos aliviar os sofrimentos iludindo-nos menos e vivendo mais, deixando de pensar no que podia ter sido e não foi, e focando no que foi, no que é e no que ainda pode ser. O mundo de possibilidades só se abre àqueles que estão aptos a correrem atrás, a se prepararem, a persistirem, a resistirem, a lutarem. Quem sofre pelo que não foi se afasta dessas características, e a vida passa por ele deixando um rastro de melancolia. Lamber as feridas é parte da dor, mas lambê-las indefinidamente só vai fazer com que elas nunca se fechem. Viver de sofrência é um estilo de vida, uma opção. E como dizia vovó Leontina, ?na vida, quem corre por gosto não se cansa?. Mas, se há um cansaço no sofrimento, repense a metodologia. Não desperdice a vida não dando amor, poupando forças para nunca serem usadas, não se arriscando nunca. Sofrer na tentativa de evitar o sofrimento. A vida é curta. Curta!
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