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20/02/2019 às 14:29

'Bolsonaro uruguaio' desponta como possível zebra nas eleições presidenciais

Redação Leiagora

A corrida presidencial uruguaia começa a esquentar com os anúncios das pré-candidaturas. Num cenário em que os eleitores escolherão entre dar continuidade aos 14 anos de governo da esquerdista Frente Ampla ou optar pela alternância com alguma força de centro ou de direita, surge um opositor com o discurso de "correr por fora da política tradicional".

Já popularmente chamado pelos locais de "Bolsonaro uruguaio" ou "Macri uruguaio", o bilionário Juan Sartori, 38, apresenta-se como um pré-candidato que promete acabar com o excesso de gastos sociais do atual governo -"um assistencialismo que nem os pobres querem"-, tornar o Mercosul mais flexível e menos ideologizado e romper com um governo de esquerda que, segundo ele, tornou a administração do país uma máquina lenta e ultrapassada para dar respostas a uma economia mundial mais moderna.

O empresário Juan Sartori, do partido Nacional, em Montevidéu Miguel Rojo - 19.dez.18/AFP O empresário Juan Sartori, do partido Nacional, em Montevidéu    As linhas de seu discurso são ainda bastante genéricas, mas é inevitável ver semelhanças com os dos presidentes brasileiro e argentino. Como o último, Sartori pertence a uma das famílias mais ricas do país e diz, assim como prometia Macri, que não quer a Presidência "para me mostrar publicamente e depois tirar proveito para meus negócios".

Sartori é fundador da Union Group, uma empresa de gestão de investimentos, principalmente na área agroprecuária, de onde vêm os principais produtos que o Uruguai exporta. A Union Group também atua nas áreas energética, de mineração, gás e construção de infraestrutura.

Assim como Macri, é ligado ao mundo do futebol, sendo um dos principais acionistas do time britânico Sunderland. É casado com Ekaterina Rybolovleva, filha de um magnata russo dono da empresa de fertilizantes Uralkali e do time francês de futebol Mônaco.

A cerimônia de casamento de ambos ocorreu na ilha grega de Skorpios, a mesma em que Aristóteles Onassis se casou com Jacqueline Kennedy.

Há pouco mais de dois anos, Sartori começou a dar palestras sobre o futuro da economia do Uruguai, animando o público local de investidores. Daí, saltou para a política e decidiu concorrer por um dos partidos mais tradicionais do país, o Nacional, de centro-direita.

Ali, disputará internamente com um desacreditado Luis Lacalle Pou, perdedor nas últimas eleições, nas primárias, que ocorrem em junho.

O empresário diz estar, por enquanto, financiando sua própria campanha. Ele esteve no último Fórum de Davos, para se encontrar com líderes e empresários. Também esteve com o presidente Jair Bolsonaro.

Segundo a imprensa uruguaia, Bolsonaro teria dito a Sartori que "varresse a esquerda do Uruguai". Questionado sobre a veracidade da frase, Sartori disse que teve um "ótimo diálogo" com o brasileiro e que isso serviria para "nosso relacionamento no futuro", pois via que ambos tinham várias semelhanças na visão da região.

Sobre a frase que teria sido dita por Bolsonaro a ele sobre a esquerda, apenas disse "não confirmo nem nego".

Sartori tem feito sua campanha pensando em dois públicos. Um, o empresariado, com quem segue tendo encontros e dando palestras. Há duas semanas, esteve em Buenos Aires para uma série de reuniões com empresários locais.

O outro público tem sido o dos rincões do Uruguai e as classes populares. Fez atos junto a pequenos e médios agricultores, que reivindicam uma redução dos altos impostos.

Sartori tem realizado encontros com ele e feito cavalgadas ou caravanas em trator, vestindo roupas populares entre os camponeses e acompanhado da bela esposa russa, também vestida a caráter. Também tem visitado as periferias e torcedores dos times populares, como o Peñarol.

Em entrevista a um veículo argentino, Sartori disse que "os uruguaios cada vez veem menos oportunidades em seu país, enquanto o custo de vida está muito alto". "Não estamos gerando um contexto em que as pessoas possam almejar uma melhora em seu padrão de vida."

Sua crítica à Frente Ampla, partido do atual presidente, Tabaré Vázquez, é que as políticos do partido "geraram um Estado muito grande que hoje asfixia empresários e produtores, e também os trabalhadores, com cada vez mais impostos e com tarifas de serviço mais altos."

Embora o alto custo de vida seja, de fato, uma das principais reclamações dos uruguaios, o desempenho macroeconômico do país nos últimos 14 anos são de dar inveja aos vizinhos Argentina e Brasil.

O Uruguai teve um crescimento ininterrupto, tendo crescido 3,4% em 2018, acima da média da região. Deve fechar 2019, segundo o FMI, com crescimento de 3,1%. Outro ponto do discurso de Sartori é o aumento do número de homicídios e a sensação da falta de segurança, temas muito citados entre as preocupações dos uruguaios.

Em 2018, o número de assassinatos cresceu 66% em relação ao ano anterior, uma cifra altíssima para um país considerado tão pacato.

Sartori acusa a esquerda de não ter pulso forte suficiente em relação ao crime organizado, também aí com discursos sincronizados aos de Bolsonaro e Macri.

Ainda assim, a corrida acaba de começar, e há oito meses de campanha pela frente. Apesar de o nome de Sartori vir despontando, as pesquisas, ainda sem o nome dos candidatos dos partidos (que serão definidos nas primárias de junho), mostram a Frente Ampla na liderança, com 37% das intenções de voto, seguidas pelo partido Nacional, com 28%.

Direto de Buenos Aires, Sylvia Colombo/ Folhapress

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