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24/03/2019 às 17:18

Suicídio motivado por depressão laboral de enfermeira traz alerta

Nas redes sociais amigos e familiares se manifestaram sobre a morte

Josiane Dalmagro

Suicídio motivado por depressão laboral de enfermeira traz alerta

Anna Angélica Dorileo

Foto: Reprodução Internet

Excesso de cobranças, horários estendidos, falta de valorização da classe, entre outros, são motivos especulatórios sobre a posssível depressão laboral que teria sido a causa do suicídio da enfermeira do Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, Anna Angélica Dorileo, no sábado (23).

Após o ocorrido, o Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren-MT) publicou uma nota de pesar, em respeito à enfermeira, estendendo ainda suas condolências à família enlutada e a todos os colegas profissionais de enfermagem pela perda de mais uma grande profissional.

A morte da Anna Angélica trouxe ainda reflexões em colegas, pela insatisfação laboral e falta de valorização na profissão.

"Enfermeiros estão doentes, física e psicologicamente. A classe está muito desvalorizada, não consegue tirar férias, para não diminuir a produtividade. É muito triste a perda salarial. É uma classe que tem sido muito sacrificada, desvalorizada e massacrada pelos governantes", disse uma funcionária da saúde pública, que preferiu não se identificar.

Nas redes sociais amigos e familiares se manifestaram sobre a morte:

"Lamentável perder uma profissional da saúde, uma pessoa atenciosa e super educada, Anna Angélica Dorileo, conheci ela trabalhando no Pronto-Socorro, quando meu irmão foi acidentado, ela cuidou dele muito bem, hoje só temos que falar descansa em paz", disse Samoel Santos.

"Meu coração despedaçou hoje, perdi minha querida prima Anna Angélica Dorileo. O conforto é saber que sua alma vai ter a misericórdia Divina... Descanse em paz!!!", foram as palavras de Alinne Daltro Dorileo Vaccaro.

"A enfermagem está doente, mas ninguém vê, pois não interessa às instituições! Somos substituíveis! Quando gritamos 30 horas já, é por esses motivos! Precisamos de 2 ou 3 serviços pra sustentar a família, porque entre atrasos de salário um cobre o outro! Piso salarial defasado; Sem compreensão, sem válvulas de escape, porque também existe os problemas pessoais! Trabalhamos com amor, respeito, técnica e ciência, mas falta o reconhecimento da empresa. Agora não teremos mais seguridade na empresa, pois querem prestadores! Lugares insalubres não querem pagar insalubridade e centro cirúrgico de 12h. Não concordo, pois é corrido, você não bebe água, não senta, e agora a empresa se quiser, estipula qual seu tempo de repouso! É pra acabar! Deixa uma consulta passar sem cobrar, o médico come seu fígado! Então, comparação: podemos ficar com salário baixo, sem reajuste, ter 3 empregos e sorrir! Certo, eu escolhi, mas conselhos cobrarem é bom e vigiar? Faz uma merda pra ver, se não caem matando! Oro por vcs profissionais que se enganjam nessa profissão! Deus abençoe e proteja, porque somos meros instrumentos..." desabafou Sônia Nunes da Cunha.

"Isso é resultado da sobrecarga de trabalho e falta de melhores condições de trabalho dos profissionais da saúde que estão trabalhando no limite. Muito triste isso", disse Mari Costa.

"Muito triste em ver uma jovem profissional cometer um suicídio. Mas isso deixa alerta a todas as pessoas. existem pessoas decentes necessitando de atenção, depois que ocorre, tarde demais, infelizmente", foi o recado de Marivânia Vilanova.

"É uma pena que o Coren só lembre das pessoas quando acontece essa fatalidade!", reclamou Gustavo Freitas.

"Acho que já passou da hora do Coren e Cofen realizarem fiscalizações, estudos psicológicos e agirem para prevenir! Já está virando rotina isso, praticamente uma “ epidemia”, quantos mais vão precisar morrer?", salientou Aury Marques.

"Até quando esses Conselhos de Enfermagem vão se fazer de cegos??? A Enfermagem está doente, profissionais estão perdendo a vida e nada muda, só pensam em dinheiro...affff", disse Lúcia De Fátima Garcia.

"Anna Angélica, você vai fazer muita falta em nosso meio. A enfermagem perde uma profissional de destacada atuação. Tive o privilégio de conviver profissionalmente com a Angélica, quando dávamos aulas juntos na Faculdade de Enfermagem da UFMT. Grande amiga, excelente colega. Deixou uma imensidão de amigos por onde passou. Descanse em paz Anna. Deus haverá de dar forças aos familiares para superar irreparável perda. Meus sentimentos", pontuou Eleonor Raimundo da Silva .

Conselho defende discussão ampla a respeito da saúde mental
Após morte de enfermeira, Conselho emitiu nota, confira:

Diante das discussões em torno da saúde mental dos profissionais de enfermagem, que se fortaleceram depois da notícia sobre a morte da enfermeira Anna Angélica Dorileo, funcionária do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá,  no  último sábado (23), o presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren-MT), Antônio César Ribeiro, argumentou que o suicídio precisa ser visto de maneira mais ampla, como um problema social.

Ele cobrou aprofundamento no debate sobre saúde mental e trabalho,  argumentando que o adoecimento emocional se relacionada a múltiplas causas. “Essa situação é lamentável e nos solidarizamos com a família e a categoria, quem morreu foi uma colega minha”, disse. “Precisamos entender o suicídio como uma doença social. Não há somente um fator associado ele,  via de regra, está ligado a um processo de depressão e o ambiente pode melhorar ou piorar o quadro”.

Ribeiro apontou o esgotamento emocional e físico provocado pela atividade da enfermagem,  piora diante das más condições de trabalho, da baixa remuneração e da sobrecarga.

Ele reconheceu as más condições de trabalho e salientou a pressão física e emocional sofrida pela categoria, citando como  exemplo a ausência de locais adequados para descanso em muitas unidades fiscalizadas pelo conselho. “Você não tem medicamento, você não tem estrutura, material, condições de repouso intrajornada, que é um direito do trabalhador. Se você olhar as condições de repousos nos hospitais para aqueles trabalhadores que estão no plantão de 12 horas, são sub-humanas”, afirma. “A gente sabe o desgaste e temos investido nessa pesquisa, é  uma forma do Conselho melhorar a sua atuação politica”.

Mas considerou superficial associar  o adoecimento apenas à profissão. “Ela  tinha um problema que era dela, pessoal e o contexto em que atuava favoreceu a piora”.

O presidente lembrou da atuação dos conselhos regionais e do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) junto aos parlamentares em defesa dos projetos de lei de interesse da categoria que tramitam no Congresso Nacional.

Entre eles, estão o PL nº 2295/2000, que regula a jornada de 30 horas semanais; o PL nº 459/2015, sobre o Piso Salarial Nacional; a  Lei do Descanso Digno para a Enfermagem (PLS 597/2015)  e o projeto que prevê aposentadoria especial para a categoria  (PLS 349/2016).

E lembrou que o Coren-MT também apoia a pesquisa “Perfil de saúde e qualidade de vida dos profissionais da enfermagem a partir dos 60 anos”,  coordenada por Ribeiro  junto à Faculdade de Enfermagem da UFMT, cujos dados vão contribuir para a discussão em torno das condições de trabalho da categoria, que tem entre suas temáticas a questão da saúde mental.

Competências

O presidente do Coren-MT também diferenciou a competência legal dos conselhos e dos sindicatos, cobrando a responsabilidade do Sindicato dos Trabalhadores da Enfermagem de Mato Grosso (Sinpen-MT), a quem cabe discutir questões trabalhistas junto aos empregadores, cobrando melhores condições contra o adoecimento dos profissionais.

Ele afirmou que há mais de um ano o conselho tenta sem sucesso articular com o Sinpen-MT a reativação do Fórum das Entidades de Enfermagem, que reunirá as duas entidades e a Associação Brasileira de Enfermagem.

E lembrou que as condições de trabalho da categoria têm sido apontadas nas fiscalizações realizadas periodicamente em todo o Estado, pelo Coren-MT, cuja função legal é regulamentar e fiscalizar a prática profissional.
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