O papel de Jesus Cristo será encarnado hoje, na Sexta-Feira da Paixão, por vários homens comuns de comunidades da igreja católica espalhadas pela capital e Grande São Paulo.
Alguns deles dividem seu tempo entre o trabalho diário, a família e os ensaios da via-sacra que retrata a vida, morte e ressurreição de Cristo, desde dezembro do ano passado.
Veterano na função e com dez anos consecutivos como Jesus Cristo, o designer gráfico e servidor público Sinnayder Barcelos contou que, começando no fim do ano, já entra no espírito e deixa de fazer a barba.
Ele atua no Drama da Paixão de Santana de Parnaíba (Grande SP), evento do gênero considerado o maior do estado de São Paulo.
Com cerca de 400 pessoas, entre atores e figurantes, os ensaios tiveram início na segunda quinzena de janeiro, sempre aos fins de semana, com maratona de nove horas diárias.
"É bem puxado, mas vale muito a pena", afirmou Barcelos, evangélico nascido em Uberaba (MG). De segunda a sexta-feira, trabalha como técnico em som e luz no Cine Teatro local.
A hora de puxar a cruz de madeira maciça, que chega a pesar 60 kg, é um momento especial, diz ele, que tem 1,72 m e pesa 62 kg. "Parece que entro em transe e não sinto o peso na hora. Deus me capacita", conta, ao ressaltar que muitos não acreditam como ele consegue carregar o objeto.
Ele afirma que, no domingo de Páscoa, passa o dia em repouso, tomando suco e com uma alimentação leve, recuperando o corpo das dores.
O espetáculo estreou nesta quarta-feira (17) e segue até amanhã ""estima-se que 20 mil pessoas circulem pelo local.
Estreante no papel, Eduardo Araújo da Costa, 22 anos, representa Cristo na Paróquia Santa Cruz, na região da Brasilândia (zona norte).
O ato da Paixão, que entra em sua 12ª edição, ocorre no entorno da igreja. "Eu topo", respondeu Costa, após dois minutos de reflexão, ao receber o convite para assumir o personagem principal. Os ensaios se iniciaram na segunda quinzena do ano passado, sempre aos domingos.
Ali, o calouro não teve de se preocupar em ter a barba e o cabelo comprido comuns nas imagens de Cristo.
"Já tivemos Jesus calvo, com tatuagem e cabelo black", disse o professor de história Flávio Casimiro de Sousa, 38, que passou o cajado neste ano, após cinco anos no papel de Jesus, para Costa.
Pelo quinto ano, o servidor público Rafael Franco Bueno de Oliveira, 29 anos, atuará no papel principal na encenação da Paróquia Cristo Operário, na Vila Linda, em Santo André (na região do ABC paulista).
"É sempre um desafio e o coração acelera como se fosse a primeira vez", disse Oliveira, que sempre se emociona na cena da via-sacra, quando, ao carregar a cruz, passa no meio do povo.
O servidor público conta que, neste ano, ser Jesus Cristo veio em um momento especial em sua vida. Em setembro, chegará Pedro, primeiro filho que terá com a mulher, Laryssa Ferreira, 26 anos.
O fotógrafo Adriano Barbosa de Oliveira, 27 anos, acredita que o convite para encenar Jesus Cristo pela primeira vez foi uma forma de reaproximá-lo de sua fé. "A responsabilidade de representar Cristo é imensa", afirmou Oliveira, que comandará nesta sexta-feira a 22ª Paixão de Cristo no estacionamento do Cantareira Norte Shopping (zona norte).
Ex-coroinha, o professor de história Luciano Aparecido Botelho, 28, teve a missão, pela primeira vez, na segunda-feira (15), durante a tradicional via-sacra do Santuário Senhor Bom Jesus, na cidade de Pirapora do Bom Jesus (55 km de SP).
Direto de São Paulo, Elaine Granconato - Folhapress
