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25/04/2019 às 11:16

Possas revela desvios e irregularidades na saúde de Cuiabá

Em entrevista ao Leiagora, o secretário de Saúde de Cuiabá solta o verbo sobre a Santa Casa, desvio de medicamentos, repasses irregulares e outros problemas da saúde municipal

Josiane Dalmagro

Possas revela desvios e irregularidades na saúde de Cuiabá

Foto: Davi Valle

Após a abertura do novo Hospital Municipal de Cuiabá, o secretário de Saúde, Luiz Antônio Possas de Carvalho,  falou ao Leiagora em entrevista exclusiva, soltando o verbo sobre diversos problemas e polêmicas.

Possas afirmou que um dos grandes gargalos da saúde em Cuiabá é absorver as demandas do Estado que, segundo ele, não assume suas responsabilidades, citando especialmente a Santa Casa e os casos de pacientes que chegam a Cuiabá sem passar por regulação.

O secretário deu a advertência afirmando categoricamente que vai sentar com os municípios e orientar que “não adianta chegar com ambulância aqui descarregando gente que vai voltar”. De acordo com ele, se a pessoa não estiver morrendo, não será atendida na capital, sem regulação.

Na entrevista, Possas revela  transações “irregulares”, onde os municípios recebem por pacientes que não foram atendidos e faz uma confidência ‘bombástica’ sobre desvios de medicação dentro do Pronto-Socorro de Cuiabá.


Leiagora - Secretário, o quanto a saúde dos cuiabanos será impactada com a abertura da segunda etapa do novo hospital?

Possas - Nossa meta total é de 90 leitos. Vocês já viram a primeira repercussão, acabou o Pronto-Socorro. Corredor de Pronto-Socorro não existe mais. Isso porque nós temos a Santa Casa fechada e o Hospital Universitário em greve. Quer dizer que nós estamos absorvendo não só o interior do Estado todo, mas também mais estes dois estabelecimentos.

Mesmo assim, vai agora no atual Pronto-Socorro para você ver como é que estão os corredores, estão vazios. Era isso que a gente estava preparando. Era isso que o prefeito queria da virada da página em Cuiabá. Então aquele aglomerado, aquela junção de pessoas, aquele não atendimento humanizado, aquela maneira de você amontoar, vamos fazer de tudo para que aqui não transforme igual era no antigo Pronto-Socorro de Cuiabá.

Para isso usamos a melhor técnica, o melhor espaço, os melhores equipamentos e também selecionaremos os melhores profissionais.

Leiagora - Mas será que não tem mais gente precisando de atendimento do que espaço aqui? Apesar de o senhor ter dito que não tem ninguém nos corredores, a procura ainda é grande e tem as gente que vem do interior, com ou sem regulação.

Possas - Quem vem do interior, primeiro deixa eu estabelecer que não é nossa obrigação e sim do Estado. O Estado tem os seu metropolitanos, que têm que fazer funcionar. Segundo, independente disso, nós usamos pela técnica da humanização e todo mundo que chegar às portas será atendido. Não aqui, mas através da regulação.

Ou a gente põe um ponto final nessa questão de você encostar a ambulância e descarregar final de semana - eu esvaziei o corredor do Pronto-Socorro três vezes como secretário, fiz uma série de mutirões de cirurgias eletivas e não eletivas. Em um mês nós produzimos mais de 300 cirurgias ortopédicas - que é o que se produzia por ano e isso esvaziou os corredores. Mas aí chega e esvazia a Santa Casa, fecha o Hospital Universitário e aumenta os corredores e o Estado, já neste governo, sem conseguir fazer rodar suas filas eletivas.

Para isso não acontecer, nós entramos para valer na regulação. Tomei medidas de ordem legal e jurídica na regulação. Nós acabamos com as filas dos anos de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017. Esse mês vamos entrar na fila de 2018, de todas as especialidades. Estamos fazendo mutirões de cirurgia e de consultas. Se você for no CEM todo sábado vai encontrar filas de gente que estava regulada, só esperando há dois, três ou quatro meses.

Agora, a regulação precisa de organização e eu estou mexendo para valer, para que ela tenha uma consonância com a regulação do Estado, e a gente tenha uma provisão e condições de planejar a saúde. Sem planejamento, nem saúde, nem qualquer outro setor, público ou privado, funcionam.

E planeja como a saúde? O ministro mandou o recado, que o que a gente vem falando, atenção básica. Temos que nos voltar para a atenção básica, para a prevenção, para que esse paciente não adoeça e chegue aqui na média e alta complexidade.

Leiagora- O senhor disse que só na sua gestão já tirou duas vezes as pessoas do corredor do Pronto-Socorro e, mesmo assim, o local está sempre nas mesmas condições. Qual seria a forma de resolver isso?

Possas - Cuidar da atenção básica resolve 40%, que é o que o cuiabano ocupa. 60% é Estado, que tem que fazer o dever de casa.

O prefeito irá sentar com a AMM (Associação Mato-grossense dos Municípios) para conversar com todos os municípios sobre qual o dever de casa que precisa ser feito. Todo mundo também vai ter que cuidar da atenção básica, se quiserem tomar a saúde como uma coisa séria, como uma política pública. Da forma que está não vai funcionar e, se todos fizerem o dever de casa, a gente consegue acabar com isso de transferir com uma ambulância os problemas da saúde de cada cidade.

Leiagora - Então o senhor acredita que hoje, muitos dos 141 municípios estão “montados” na saúde de Cuiabá?

Possas - E ainda recebendo por Cuiabá, pasme. Eles ficam com o dinheiro do SUS. Eles ficam com o repasse do dinheiro de pacientes que nós tratamos. O município é contratualizado com a União, o Estado é o meio repassador. Além da gente tratar, nós não recebemos por esse tratamento, é o município que fica com esse recurso. Por isso que nós vamos conversar sério com cada município. Encostou ambulância aqui sem estar regulado, vai voltar com o paciente. Infelizmente vai ter que ser dessa forma.

É necessário chamar os entes federados a discutirem novamente cada qual o seu problema. Ó, isso aqui é competência sua, a União faz a parte dela, o município faz a parte dele há muitos anos. A gente tem que reconhecer que o problema da saúde pública de Cuiabá - de carregar do Estado nas costas - tem mais de dez anos. Precisamos sentar, dialogar e, se for preciso tomar medidas drásticas, vamos tomar, para que não aconteça no PSM o que aconteceu no Pronto-Socorro antigo.

Leiagora - Não atender quem chega em uma ambulância sem estar regulado é o mais correto, mas não seria um remédio amargo para esse paciente?

Possas - Aí é consciência de quem mandou. Você tem que cobrar da consciência de quem mandou também.

Eu já falei isso em uma reunião dos conselhos municipais de saúde: não mandem, que vai voltar. Então tem que ser drástico. Lógico, nós temos responsabilidade em salvar vidas, ninguém vai cometer um crime de não salvar uma vida, se for preciso salvar a vida, abre-se a porta e socorre, agora isso não é ‘eu quebrei o pé e mandei pra lá e você resolve o problema”. Não, negativo, volta com o pé quebrado e conserta lá ou então regula direitinho.

Leiagora - E como fica a situação da Santa Casa, secretário?

Possas - A Santa Casa tem tomado a nossa energia e tempo desde dezembro, que é quando estamos tentando resolver o problema. Mudou-se a diretoria outra vez e ficou a mesma. Na verdade é o mesmo que criou toda a diretoria. E isso é palavra dos próprios funcionários. Quem sabe dos problemas de casa são as baratas de casa, quem sabe dos problemas de lá são os funcionários, então eles falam que, com essa temática, não vai dar certo.

E com esse tipo de procedimento, Cuiabá não vai botar nenhum centavo em cima. Primeiro, porque nós temos problemas, temos fornecedores sem receber, também temos nossos gargalos. Toda semana a gente adquire produtos para o Pronto-Socorro, chega na quarta-feira acabaram os produtos. Eu estou mexendo profundamente em como organizar um controle desses produtos.

Leiagora -  A demanda está muito grande ou os medicamentos estão sumindo?

Possas - Tudo. Eu acho que a demanda é grande, o desperdício é grande e há desvio também, não deixo de forma alguma em pensar nesta hipótese. Chega um tipo de medicamento de dia e à noite o cara vai lá buscar em uma UPA, por exemplo, mas quem que mandou buscar? Não tem médico, não tem nada. Há um descontrole. Meu objetivo é terceirizar o Centro de Distribuição de Medicamentos e Insumos (CDMIC).

Vamos licitar e contratar uma empresa que está fazendo isso em Campo Grande e é modelo na Santa Casa de Campo Grande, que irá rastrear o remédio, no armazenamento, prazos de validade, distribuição e quando entrou na boquinha do paciente, vai voltar a caixa com lacre para poder conferir. Se não devolver, quem tirou da farmácia vai pagar do próprio bolso. Desta forma, a gente elimina qualquer possibilidade de desvio de medicamento. Eu vou levar esse edital antes no Ministério Público e Tribunal de Contas e pedir análise, para que seja corrigido antes da gente lançar e não tenha problema nenhum depois.

Leiagora - Mas afinal, qual seria a solução para a Santa Casa, em sua opinião?

Possas - O prefeito tem que decidir. Não estou pondo palavras na boca do prefeito, não é minha posição de secretário de Saúde, pois não posso dar minha opinião de secretário de Saúde. A minha opinião de Procurador Geral é uma intervenção. A decretação da intervenção já deve estar estourando aí, não demora muito mais. Falta apenas o Estado ser claro, ser potente e falar ‘eu vou participar com tantos na intervenção’, que aí o município vai ter a sua cota parte e a gente vai jogar no planejamento. Após a intervenção, a situação de atendimento na Santa Casa deve ser regularizada em até 40 dias.  
 
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