O documentário inédito sobre a atriz, diretora e produtora Dulcina de Moraes foi escrito e dirigido pela diretora mineira, Glória Teixeira e conta com depoimentos de ícones do teatro nacional.
Após 12 anos do início do projeto, a atriz, professora e diretora, Glória Teixeira, finalizou sua grande homenagem à Dulcina de Moraes e ao próprio teatro brasileiro, com o  documentário homônimo Dulcina.
O filme, ainda sem data para estrear, foi finalizado este ano e agora irá para festivais para, posteriormente, ter seu lançamento oficial e ir para os cinemas.

Fernanda Montenegro, Nicette Bruno, Emiliano Queiroz, Theresa Amayo, Françoise Forton, Murilo Rosa, Daisy Lúcidi , Ruth de Souza, Bidô Galvão, Carmem Moretzsohn , André Amaro, Luciana Martuchelli , Gê Martu, Graça Veloso e Tereza Padilha estão entre os grandes artistas que fizeram parte desse importante projeto.

“Tudo isso começou com uma minuciosa pesquisa sobre esta mulher que transformou o teatro brasileiro. A ideia surgiu durante uma conversa, 12 anos atrás, com um amigo, sobre fazermos juntos um filme. Eu ministrava aulas na faculdade que ela fundou. Queríamos uma personalidade forte. Ele disse que Dulcina seria bom. Imediatamente, comecei a pesquisar. Tentamos por três anos consecutivos colocar um projeto de curta metragem em editais regionais, mas naquela época eu não tinha um currículo forte em cinema, somente em teatro. Depois de três anos resolvi parar e comecei a fazer cinema com o cineasta Lázaro Ribeiro”

Glória conta que só depois de muito tempo pôde retomar o projeto sobre Dulcina. A diretora do filme ressalta que seus três primeiros entrevistados não estão no documentário, por problemas técnicos das primeiras gravações e, depois, infelizmente vieram a falecer.

Paulo Autran, Marília Pêra e Sérgio Viotti foram próximos à Dulcina e foram fonte de muita informação para Glória se aproximar mais da homenageada.  “A gente não imagina que o outro vai morrer, mas não era algo definitivo, era somente um bate-papo. Registrei só pra não esquecer”, lamenta a diretora, em entrevista exclusiva ao Leiagora.

“Fui me apaixonando a cada conversa que tinha com as pessoas que tiveram a oportunidade de conversar com ela. Eu sou a única roteirista do filme e escrevi todo o roteiro baseado nas pesquisas que fiz no diário pessoal da Dulcina, na biografia escrita pelo Sérgio Viotti e nas conversas que tive com amigos dela. Em 2010 eu conheci a Fernanda Montenegro e também conversamos sobre a Dulcina. Fui conversando com professoras da Faculdade de Artes, fui encontrando material em jornais, na internet e conhecendo a Dulcina, me aproximando tanto, até saber seus gostos pessoais, o que ela fazia à noite em casa quando estava sozinha, o que gostava de ler, até que me senti como se fôssemos amigas”, relatou a diretora.

Glória conta que, após terminar de escrever o roteiro, sentia que tinha em mãos uma história forte e bonita.

“Quando eu me tornei a diretora do filme, várias coisas foram modificadas. Uma coisa é você escrever tudo que você quer e deseja passar no roteiro, outra coisa é você viabilizar tudo aquilo daquela maneira. Então a visão da diretora acabou por modificar um pouco a visão da roteirista, em cima de uma mesma ideia. Daí vieram os depoimentos de algumas pessoas e os técnicos, que também modificam a ideia original que você tem com a fotografia, um movimento de câmera, a edição depois, a música e o trabalho ia só enriquecendo com isso”, relata.

Para ela, quando o filme foi finalizado, a união de tudo trouxe um projeto que Glória disse não ter imaginado que pudesse ser tão poderoso.

“Inicialmente eu queria falar de Dulcina de Moraes, depois eu vi que com ela eu tinha também a história dos ícones da cultura brasileira que se relacionaram com ela e que, juntos, fizeram uma transformação radical no teatro brasileiro, desde a década de 1930 até os dias atuais. O que nós temos hoje no teatro brasileiro, tem muito de conquistas da Dulcina, que trouxe essas grandes mudanças, como cenário - que antes era pintado -, folgas, que antes não tinha também. Acabar com a tal da carteira de prostituta e prostitutos, que na época era obrigatória para atores e atrizes. Ela também acabou com o ponto, pois entendeu que a atriz tinha que saber dar vida para o personagem e não ficar ouvindo alguém dizer o que e quando falar. Com esse filme nós construímos um documento da história do Brasil, pelo viés destes artistas e o teatro brasileiro”.

De linguagem diversificada, o filme se utilizou de imagens de arquivo, imagens do único trabalho audiovisual que a Dulcina fez, o filme “24 horas de sonho”, algumas entrevistas que ela deu, depoimentos de artistas, além da “ficção”  das interpretação, com simulações de momentos da vida de Dulcina.

“Como ela não teve esse encontro com o audiovisual, nós resolvemos recriar essas histórias e momentos dela em cenas de ficção, para mostrar como foi. Muitas das falas foram colhidas no diário dela e outras eu criei, de forma poética, inspirada nela. Estamos fazendo arte e contando sobre a arte”, concluiu .

Ao todo o roteiro contou com seis atrizes interpretando Dulcina, ao longo de sua vida:Françoise Forton; Bidô Galvão; Carmem Moretzsohn; Theresa Amayo; Iara pietricovsky e a própria Glória Teixeira. 





 

Filha dos atores Conchita e Átila de Moraes, Dulcina nasceu em Valença, no Rio de Janeiro, em 1908 e, ainda criança, entrou nos palcos representando um bebê, em representações da companhia mambembe dos pais.

Ela, que era uma intérprete com estilo próprio, firma e, segundo amigos de muita personalidade, passou por cinco décadas dentro do teatro, criou uma grande companhia de teatro e, na década de 50 criou a Fundação Brasileira de Teatro (FBT), para realização de cursos de teatro e, consequentemente, espetáculos, tornando-se uma grande referência no assunto.

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