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22/05/2019 às 11:45

'Adoção na Passarela' é criticada nacionalmente por expor crianças e adolescentes

O evento tinha por finalidade mostrar crianças e adolescentes que estão aptas para adoção com idade de 4 a 17 anos

Luana Valentim

Quem entrou no Pantanal Shopping nesta terça-feira (21), provavelmente presenciou uma passarela montada bem no meio do estabelecimento, com um painel de palco escrito ‘Adoção na Passarela’. A princípio, entende-se até que seja um desfile de pets, para a adoção, mas, na verdade, é de crianças órfãs.
 
O evento foi realizado Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio a Adoção (Ampara), em conjunto com a Comissão de Infância e Juventude da Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Mato Grosso.
 
O objetivo seria dar visibilidade a crianças e adolescentes que estão para adoção com idade de 04 a 17 anos.

A presidente da CIJ, Tatiane de Barros Ramalho, informou que o evento finaliza diversas ações realizadas durante as Semana da Adoção, que incluíram palestras, seminários e recreações para as crianças.
 
“Trata-se de uma noite para os pretendentes a adotar poderem conhecer as crianças e os adolescentes. A população em geral poderá ter mais informações sobre adoção e os menores em si terão um dia diferenciado, em que irão se produzir, fazer cabelo, maquiagem e usar roupa para o desfile”, esclareceu a advogada, informando que, na última edição do desfile, dois adolescentes, de 14 e 15 anos, foram adotados.
 
É claro que o ato trouxe um mal-estar, polêmica e repercussão nacional, e como não poderia, já que expôs as crianças e adolescentes, dando-lhes esperanças e futuras frustações, principalmente pelo fato de que as crianças mais procuradas em orfanatos são de 0 a 3 anos.
 
O ato teve muitas críticas, alegando que estava parecendo ‘gados postos à venda’, escolhendo o que mais lhe agrada aos olhos, fazendo assim uma seleção entre os órfãos.
 
O jornalista Paulo Henrique Amorim, inclusive, escreveu sobre o assunto em seu site ‘Conversa Fiada’: “Quando se pensa que o Brasil é capaz de tudo, aparece uma inovação alucinada: uma passarela para que crianças de 4 a 17 "desfilem" diante de futuros pais como se fossem modelos! Seguramente, a "ideia" deriva da SP Fashion Week, com a coreografia e o know-how da cultura do espetáculo com que a Globo contaminou o Brasil”.
 
A ex-candidata a vice-presidente da República, Manuela D´Ávila – na chapa de Fernando Haddad – usou da sua página no Facebook para criticar o ato.
 
“Acho que essa é uma das notícias mais tristes que li. Crianças numa passarela, cheias de sonhos e desejos, buscando a aprovação a partir de um desfile, como se para amar um filho tivéssemos que admirá-los fisicamente”, escreveu.
 
Assim como o ex-candidato a presidente Guilherme Boulos que fez críticas ao evento no Twitter: “A 'passarela da adoção', em Cuiabá, expondo crianças de 4 a 17 anos para a escolha dos pretendentes pais é de uma perversidade inacreditável. Os efeitos psicológicos da exposição, expectativa e frustração dessas crianças pode ser devastador, ainda que a intenção tenha sido outra”.

Outro lado:

Por meio de nota, a OAB e o Shopping Pantanal repudiaram a objetificação de crianças e adolescentes esclarecendo que o único intuito em receber a ação foi contribuir com a promoção e conscientização sobre adoção.

A OAB esclareceu que nunca foi o objetivo do evento – parte integrante de uma série de outros que compõem a “Semana da Adoção” – apresentar as crianças e adolescentes a famílias para a concretização da adoção. A ideia da ação visa promover a convivência social e mostrar a diversidade da construção familiar por meio da adoção com a participação das famílias adotivas;

Assim como nenhuma criança ou adolescente foi obrigado a participar do evento e todos eles expressaram aos organizadores alegria com a possibilidade de participarem de um momento como esse. A ação deu a eles a oportunidade de, em um mundo que os trata como se invisíveis fossem, poderem integrar uma convivência social, diretriz do Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. Esse evento, inclusive, ocorre pela segunda vez.

Exlplicaram que as crianças e os adolescentes que desfilaram o fizeram na companhia de seus “padrinhos” ou com seus pais adotivos. A realização do evento ocorreu sob absoluta autorização judicial conferida pelas varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande, bem como o apoio do Poder Judiciário.

"A OAB-MT e a Ampara repudiam qualquer tipo de distorção do evento associando-o a períodos sombrios de nossa história e reitera que em nenhum momento houve a exposição de crianças e adolescentes;
- Vale destacar que o desfile foi apenas uma das ações da “Semana da Adoção”. Ao longo dos dias do evento foram realizados também palestras, seminários e recreação para as crianças".

A ordem também explicou que a falta de interessados na chamada “adoção tardia” faz com que seja urgente a adoção de medidas como a Semana da Adoção, que tornam público esse problema social. Conforme o Relatório de Dados Estatísticos do Cadastro Nacional de Adoção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 8,7 mil crianças e adolescentes aguardam por uma família. 

Pois na edição anterior do evento, realizado em 2016, dois adolescentes, cujo perfil está fora dos parâmetros de preferência da fila de interessados, foram adotados graças ao trabalho realizado, que deu visibilidade à questão. A iniciativa tem sido tão exitosa na forma como aborda o problema que outros Estados realizaram eventos semelhantes, como “Esperando por você” (ES), “Adote um Pequeno Torcedor” (PE) e “Adote um Pequeno Campeão” (MG).

Por fim, a Ampara e a OAB-MT, realizadoras do evento, agradecem a disposição de todos os demais órgãos e entidades apoiadores, dentre eles o Tribunal de Justiça de Mato Grosso e o Pantanal Shopping, por entenderem a grandeza de sua finalidade e abraçarem, de forma voluntária, a causa da adoção no Estado. Também conclamam a sociedade em geral para uma discussão séria e efetiva sobre o tema para que mais estratégias possam ser adotadas em prol do direito de possibilitar o acolhimento familiar a essas crianças e esses adolescentes.

Pantanal Shopping


O Pantanal Shopping informa que repudia a objetificação de crianças e adolescentes e esclarece que o único intuito em receber a ação foi contribuir com a promoção e conscientização sobre adoção e os direitos da criança e adolescente com palestras e seminários conduzidos por órgãos competentes que possuem legitimidade no assunto.

O shopping afirma que a ação foi promovida pela Associação Mato Grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) em parceria com Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da OAB-MT e reitera que o evento contou ainda com o apoio do Ministério Público do Estado do Mato Grosso, Poder Judiciário do Estado do MT, Governo Estadual do MT, Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania, Sindicato dos Oficiais de Justiça, Associação Nacional do Grupo de Apoio à Adoção e Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, além do Tribunal de Justiça do Mato Grosso.
Com informações da OAB
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