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08/09/2019 às 15:00

Histórias de solidão são as mais recebidas pelos voluntários do CVV

A ligação ao serviço de apoio emocional e preventivo ao suicídio, feita de forma gratuita pelo número 188, é recebida um dos 110 postos de atendimento que existem no Brasil.

Luzia Araújo

Histórias de solidão são as mais recebidas pelos voluntários do CVV

Foto: Luzia Araújo

A solidão é, atualmente, a maior razão que leva uma pessoa a pegar o telefone e ligar para o Centro de Valorização à Vida (CVV) em busca de ajuda. Olhar para o próximo sem julgamentos, saber ouvir mais do que falar, se importar com os problemas alheios são algumas das ações colocadas em prática pelos voluntários do CVV.

A ligação ao serviço de apoio emocional e preventivo ao suicídio, feita de forma gratuita pelo número 188, é recebida em um dos 110 postos de atendimento que existem no Brasil. Desde o ano passado, o centro utiliza um PABX virtual que interliga todas as centrais para recebe as ligações. Cuiabá abriga uma destes postos. Localizada na rua Comandante Costa, a central funciona com 47 voluntários, entre homens e mulheres, que se revezam em turnos de quatro horas, 24 horas por dia, para conversar e acolher as pessoas que procuram pelo serviço.

Entre eles, está o advogado Carlos Eduardo Latterza Oliveira, 41 anos, que contou ao Leiagora como é o trabalho no centro. Ele já fazia trabalhos voluntários, quando viu no CVV mais uma oportunidade de ajudar ao próximo. “Me tornei um voluntário pelo desejo de fazer algo que seja relevante, para auxiliar as pessoas que precisam do serviço de apoio emocional e de prevenção ao suicídio. O que percebemos nas ligações é isso, que as pessoas precisam conversar. Eu tinha um tempo disponível e surgiu o desejo de ajudar o próximo. Isso é o que move todo mundo aqui”, disse.

Como todos os voluntários, Carlos fez um curso de oito semanas e passou por um período de estágio, antes de iniciar nos plantões. Segundo o advogado, os voluntários recebem ligações que tratam dos mais variados assuntos, mas a solidão é a razão pela qual as pessoas mais procuram o CVV.

“Notamos é que existe um grande número de ligações nas quais as pessoas relatam solidão e as perdas, sejam elas de um familiar, saúde ou bens. Todo o tipo de perda acaba gerando uma situação, na qual ela precisa falar com alguém e as vezes não encontra com quem”, explicou Carlos, completando que a depressão e problemas no relacionamento são os outros assuntos mais recebidos.



O voluntário contou que já realizou muitos atendimentos, por isso é difícil mencionar uma história marcante, porém os casos de solidão são os mais tocantes para ele. “As histórias que as pessoas relatam de solidão, que não tem com quem conversar, acabam tocando mais os voluntários”, destacou.  

O advogado ressaltou ainda que os voluntários são seres humanos como qualquer um e que se comovem com os relatos que recebem diariamente, mas que o anonimato e o sigilo da ligação acabam preservando o atendente de criar um vínculo maior.

“O voluntário quando, eventualmente, se emociona com alguma situação recebe o apoio de outros colegas do CVV e passa a ser a outra pessoa que vai ser atendida, ouvida, escutada. Além disso temos reuniões periódicas para conversamos entre nós e expormos o que estamos sentindo. São mecanismos que foram criados, ao longo desses anos, para que o voluntário possa realmente oferecer o que tem de melhor e não deixar se abater pelas histórias que ouve e que realmente são triste”.

De acordo com Carlos, Natal, Ano Novo, Dia dos Pais , das Mães e durante o Setembro Amarelo, mês voltado para ações de prevenção ao suicídio, são as épocas do ano em que o posto de atendimento recebe mais chamadas.

Para o advogado, ser um voluntário do CVV é conseguir vivenciar a empatia de uma forma mais plena. “Aprender a ouvir alguém é igual a andar de bicicleta, você tem que treinar. Na hora que você aprende parece que a coisa fica mais natural e percebe que tem um jeito diferente de ser. A filosofia do CVV tenta levar esse jeito de ser, mostrar que podemos ser mais compreensivo e respeitoso, sem julgamento nas nossas relações, com mais aceitação em relação as pessoas, porque cada um é um mundo e quando conseguimos vivenciar a empatia dessa forma é o que atrai as pessoas para trabalhem no CVV”, disse.

Além das chamadas pelo 188, as pessoas que desejam conversar podem entrar em contato com o CVV pelo chat no site www.cvv.org.br., e-mail também disponível no site e carta. Tudo sob total sigilo e anonimato.

Novos voluntários

O CVV Cuiabá está selecionando novos voluntários. Os interessados podem se inscrever pelo e-mail cuiaba@cvv.org.br. Os inscritos participaram de curso de formação gratuito que começará no dia 02 de outubro. As aulas serão ministradas na sede do CVV em Cuiabá, localizada na rua Comandante Costa, 296, Centro.  Podem participar apenas pessoas acima de 18 anos. 

Serão oito semanas de treinamentos, com aulas teóricas e práticas sobre a filosofia do CVV e atendimento. Após o curso, o participante é avaliado para saber se ele está apto para começar como voluntário, além de ainda passar por uma fase de estágio e aula de reforço. 

Setembro amarelo

Setembro Amarelo é o mês em que se realiza uma campanha de prevenção ao suicídio. É uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O mês foi escolhido porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, por iniciativa da International Association for Suicide Prevention. O objetivo é promover eventos que abram espaço para debates sobre suicídio e divulgar o tema alertando a população sobre a importância da discussão.

A cor da campanha foi inspirada na história de um jovem americano de 17 anos chamado Mike Emme. Em 1994, ele tirou a própria vida dirigindo seu carro amarelo, um Mustang 68, restaurado e pintado pelo próprio Mike. Amigos e familiares distribuíram no funeral cartões com fitas amarelas e mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando o mesmo desespero de Mike, e a mensagem foi se espelhando mundo afora. Os pais de Mike, Dale Emme e Darlene Emme, iniciaram a campanha do programa de prevenção do suicídio "fita amarela", ou "yellow ribbon", em inglês.

Parceria com o Unicef

O CVV, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), lançou uma série de vídeos para prevenção ao suicídio. Na primeira produção os vídeos são voltados para os jovens de 14 a 24 anos, faixa etária com o maior número de suicídio.

Com duração de um minuto, os vídeos foram produzidos para serem compartilhados em redes sociais e tratam de assuntos que podem trazer algum distúrbio emocional para os jovens, como bullyng, drogas e abuso sexual. 

A segunda produção é voltada para pais e professores e tem duração de 10 minutos, com auxílio de material em PDF. Eles foram produzidos para instruir pais e professores a lidar com a situação de suicídio. 

A terceira série é um grupo de videoaulas para orientar pessoas que desejam montar grupo de apoio aos sobreviventes do suicídio (vítima, familiares e amigos), dando apoio emocional e troca de experiência. 
 
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1 comentário

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  • Tatyanne 09/09/2019 às 00:00

    Admirável o trabalho voluntário realizado por cada membro do CVV. Parabéns a todos os envolvidos.

 
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