Um balanço feito pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) apontou que os homens são as principais vítimas do suicídio em Mato Grosso. Nos sete primeiros meses deste ano, 117 casos de suicídio foram registrados no Estado. Desse total, 89 foram vítimas do sexo masculino e 28 do feminino.
Segundo a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso (CRP 18-MT), Morgana Moura, os homens se tornam a maioria das vítimas de suicídio por não serem ensinados a falar sobre os seus sentimentos. Diferente das mulheres que são estimuladas a externarem as suas emoções.
“Estamos em uma sociedade na qual os homens não são ensinados a falar sobre o seu sentimento. Então, uma sociedade machista é uma influência muito significativa no processo de adoecimento emocional, porque estimulamos as mulheres a se colocarem como sentimentais e a externarem as suas emoções, mas os homens não são, por isso é compreensivo o dado ser maior em homens”, disse a psicóloga que atua há 10 anos na área.
Morgana explica que o suicídio é relacionado diretamente com a depressão, mas o problema está mais vinculado com uma ausência de potência de vida, do não querer sentir dor.
“Nos casos suicidas falamos que a pessoa quer parar de sentir a dor que está passando. Então, não existe motivo específico que leva uma pessoa a tirar a própria vida. Tudo tem que ser considerado. A história de vida dela, o sofrimento emocional que ela está passando. Não é um sofrimento que brota de dentro para fora. É algo que passa por vários fatores, que dentro das políticas públicas não são considerados e acaba sendo tratado como algo condicionado na vítima”.
Entretanto, a depressão é um dos fatores que contribuem para o suicídio, de acordo com a presidente, principalmente pelo distúrbio mental ser multifacetado, dificultando o mapeamento efetivo dos sintomas.
“Como qualquer outro adoecimento, a saúde mental tem níveis de atenção. Isso vai variar de pessoa para pessoa. Existem pacientes que podem ter uma depressão branda, que conseguem regular a vida com psicoterapia ou remédios. Outras chegam a desencadear outros quadros, como o transtorno bipolar, que também é um tipo de depressão. Então, os tipos de depressão vão depender de cada pessoa”, disse.
A especialista alerta ainda para o fato de que a pessoa que passa por um intenso estado de sofrimento e não tem um amparo afetivo, social e emocional para lidar com o problema, pode desencadear numa depressão. "É fator fundamental para a cura um suporte de gestão púbica no qual a pessoa tenha serviços de convivências que irão estimular a produção de alegria, bem-estar e potência de vida, além da medicação e psicoterapia”.
Segundo a presidente, a Política Nacional de Saúde Mental prevê uma rede de atenção psicossocial que vai desde a atenção básica até a hospitalar. Atualmente, o serviço é ofertado no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Para ela, há uma precarização na oferta desse serviço em Mato Grosso.
“Além do serviço de saúde psicossocial, as pessoas podem participar do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), onde existem os serviços de convivência e fortalecimento de vínculo dividido por faixa etária. As pessoas que estão em algum sofrimento emocional e são encaminhadas para a política de saúde ou que estão em situação de isolamento, são públicos prioritários dentro desses serviços. Se a pessoa não tem recurso financeiro para pagar um tratamento cabe ao Estado manter essa pessoa viva e ele tem as ferramentas para isso. A nossa preocupação é como os gestores estão fazendo para oferecer esse serviço”, explicou a doutora.
