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22/09/2019 às 08:12

Queimadas em MT aumentam 70%; focos em propriedades privadas lideram

O crescimento em Mato Grosso é maior que a média nacional, que registrou um aumento de 50% no mesmo período.

Luzia Araújo

Queimadas em MT aumentam 70%; focos em propriedades privadas lideram

Foto: Mayke Toscano/Secom-MT

O número de queimadas em áreas urbanas e rurais de Mato Grosso aumentou 70% em relação ao ano de 2018, se comparado ao período de 1º de janeiro a 15 de setembro. Foram 24.039 focos de calor neste ano, contra 14.145 no ano passado. O crescimento em Mato Grosso é maior que a média nacional, que registrou um aumento de 50% no mesmo período. Os dados são do Centro Integrado Multiagências (Ciman), unidade que coordena as ações de prevenção e repressão a incêndios no Estado.  

O crescimento no número de queimadas e as condições climáticas que propiciam a propagação do fogo, fizeram com que o governador Mauro Mendes (DEM) decretasse situação de emergência no âmbito em Mato Grosso. O balanço apontou também que os focos de calor no Estado aumentaram 87% em relação ao ano passado, no período proibitivos de queimadas. De 15 de julho a 15 de setembro deste ano foram 16.589 focos de calor, contra 8.874 no ano passado. Na média dos últimos 10 anos, o aumento foi de 35%.

Mato Grosso apareceu em 1º lugar, com o maior número de queimadas, no ranking de focos de calor entre os estados que formam a Amazônia Legal, de acordo com o estudo. No período de 1º de janeiro a 15 de setembro foram 24.093 queimadas. Em seguida estão os estados do Pará com 15.308 focos e Amazonas, com 10.040. 

Segundo a coordenadora do Programa de Transparência Ambiental do Instituto Centro Vida (ICV), Ana Paula Valdiones, o aumento no número de queimadas está associado a grande quantidade de desmatamento registrado no final do ano passado e começo deste ano, e não ao clima seco. 

“Este ano o que chamou atenção foi o aumento do desmatamento. Agora estamos vendo as queimadas associadas a destruição da floresta e a tocar fogo naquele material orgânico que foi derrubado. Dois a três meses depois que desmatou, precisa eliminar aquela biomassa e isso é feito com fogo”, disse Ana Paula, ressaltando que os municípios que tiveram aumento de desmatamento, são as cidades que lideram os números de focos de calor no Estado. 

“Colniza é o município que está tendo mais queimadas e é historicamente a cidade que tem muito desmatamento. Este ano também teve alertas de desmatamento naquela região. Já são 1.500 focos de queimadas na cidade, desde 15 de julho. Nova Aripuanã e Nova Bandeirantes  também são outros municípios que tiveram grandes áreas desmatadas”, explicou a coordenadora.  



Para a especialista, o desincentivo do cumprimento da lei e o enfraquecimento dos principais órgãos de Meio Ambiente brasileiro pode ter colaborado para o aumento das queimadas e dos alertas desmatamentos. Ela explicou que houve uma série de cortes no orçamento do Ministério do Meio Ambiente e no Programa de Prevenção e Combate aos Incêndios (Prevfogo), além da redução de fiscalização do Ibama, inclusive em Mato Grosso.

“Assistimos uma desestruturação da política ambiental brasileira e dos seus principais mecanismos de financiamento, que é o Fundo Amazônia. Assistimos também a recusa de recursos externos, como da Noruega, Alemanha e do G7, que também ofereceu dinheiro para o Brasil para auxiliar nas políticas de conservação da Amazônia. Associado a essa desestruturação da política ambiental teve um processo de desautorização dos órgãos responsáveis, uma expectativa e o fomento, em alguns grupos da sociedade, de que a legislação ambiental será flexibilizada. Ou seja, existe um cenário de desincentivo do cumprimento da lei e ao mesmo tempo o enfraquecimento dos principais órgãos de Meio Ambiente. O resultado disso é o aumento das queimadas e dos alertas de desmatamentos”, disse.

Para reverter esse quadro, Ana Paula acredita que os governos precisam apostar no reforço da fiscalização, responsabilização dos crimes ambientais e no fortalecimento das iniciativas que auxiliam tanto no desenvolvimento socioeconômico de grupos, quanto de conservação das florestas.

“Agora os Estados têm um papel muito importante de reforçar as ações de fiscalização e as ações de responsabilizações de crime. As pessoas precisam sentir que serão responsabilizadas pelo crime ambiental que está cometendo. E também o fortalecimento das políticas públicas e inciativas que sejam positivas que busquem associar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação. Esse discurso de que a conservação do cerrado e da Amazônia impede o desenvolvimento é um discurso ultrapassado, que não adiciona nada no Brasil. Na verdade precisamos caminhar para um desenvolvimento que está olhando tanto para aumentar a capacidade da sociedade, quanto de manutenção das nossas riquezas naturais, desses recurso que são importantes não só em termos de biodiversidade, mas também para a própria produção. Mato Grosso é um estado líder nas questões agropecuária. Os produtores dependem de chuva para produzir e quem produz a chuva são as florestas. Se destruímos a floresta as chuvas vão ficar menores e isso vai impactar diretamente a nossa produção”.


Áreas mais queimadas

De acordo com o relatório, as propriedades privadas foram as áreas com o maior registro de queimadas, no período de 1º de janeiro a 15 de setembro. Foram 16.687 focos de calor em propriedades privadas em Mato Grosso. A segunda área com o maior registro foram as terras indígenas, com 4.510 queimadas. 

Um estudo feito pelo ICV mostra que as terras indígenas do povo Xavante são as mais afetadas no acumulado desde janeiro deste ano. A terras indígenas do Areões (415 focos), Pimentel Barbosa (409 focos) e Parabubure (406 focos) são as mais afetadas. De acordo com as lideranças Xavantes, a maior parte dos focos parte de fora dos limites das terras.

Com 695 queimadas, a unidade de conservação estadual foi a terceira área que mais registrou focos de calor . Segundo o ICV, a unidade de conservação com o maior número de queimadas foi o Parque Estadual do Araguaia, com 54 focos de calor. 

Segundo a coordenadora um dos principais impactos da queimada no Meio Ambiente é a perda da biodiversidade. “Falamos que o fogo é um fator de degradação da floresta. Então, por mais que não perca a floresta por completo, perdemos muito elementos dela, como animais e vários tipos de vegetações. Então, tem uma perda significativa da biodiversidade e da resistência dessa área para futuros incêndios. Uma outra questão é a perda de nutrientes do solo e também a emissão de CO2 na atmosfera, que é prejudicial às mudanças climáticas e também à saúde humana. Além da fumaça, o clima, que já está seco, colabora também para o desenvolvimento de problemas respiratórios e uma série de outros agravos para saúde humana”, destacou Ana Paula.

Enfrentamento 

Na última segunda-feira (16), o Governo do Estado anunciou que irá receber R$ 23,8 milhões nos próximos dias, para o combate as queimadas e o desmatamento ilegal. O dinheiro é originário do Fundo da Lava Jato, e foi acordado entre o Governo Federal, Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal. Conforme o acordado, do valor total de R$ 430 milhões, 50% serão divididos de forma igual entre os nove estados da Amazônia Legal.

Já com relação aos outros 50%, a divisão ainda será definida em uma reunião futura e seguirá critérios técnicos. No inicio do mês, o governador Mauro Mendes decretou situação de emergência no âmbito do Estado, em decorrência dos incêndios florestais. A motivação foi o aumento no número de queimadas e pelas condições climáticas propiciarem a propagação do fogo. 

Com a medida, o governo está autorizado a adotar ações necessárias à prevenção e combate aos incêndios e à manutenção dos serviços públicos nas áreas atingidas pelas queimadas. Para o governador, o recurso chegará ao Estado em um momento crítico, em que Mato Grosso está entre os líderes nos focos de queimadas. “Nós já decretamos situação de emergência por causa das queimadas. Esse recurso chega em um momento em que realmente precisamos de recursos financeiros, o que irá ajudar e muito as nossas equipes”, ressaltou.

Além disso, o governo intensificuou as fiscalizações com a realização de operações realizadas pelas forças integradas aplicando multas aos responsáveis pelos dematamentos ilegais e queimadas. 
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