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29/09/2019 às 09:38

65 mil brasileiros se aventuram para cursar Medicina em países vizinhos

O cenário de incerteza fez um grupo de estudantes de Pedro Juan montar, em fevereiro, uma associação para representar brasileiros que estão na região em busca do diploma

Leiagora

65 mil brasileiros se aventuram para cursar Medicina em países vizinhos

Foto: Reprodução

Após a revalidação, ele emitiu seu registro no Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul e logo começou a trabalhar em um hospital de Ponta Porã como plantonista no pronto-socorro. Agora, estuda para a residência em cirurgia geral.

Sidnei Henrique Silva, de 28 anos, graduado em 2016, não conseguiu passar no Revalida 2017 e, sem ter outra chance, trabalha como assistente administrativo da Secretaria da Saúde de Rio Pardo (MS). "Parece que eles (o governo) estão mais preocupados com os cubanos do que com a gente. Não queremos privilégio, apenas o direito de fazer a prova", diz Silva. "Não me arrependo de ter estudado fora porque era a única forma de realizar meu sonho. Mas se alguém me perguntar hoje se deve ir, eu aconselho a não ir", diz.

Formado em 2017, Emil Sleiman Tibcherani, de 30 anos, optou por trabalhar no Paraguai enquanto não consegue revalidar o diploma no Brasil. Ele é professor de histologia e primeiros auxílios da Uninorte, mesma universidade em que se formou, e atua como médico na cidade paraguaia de Rio Verde. "Para mim fica mais fácil trabalhar no Paraguai porque sou de Ponta Porã, então vivo perto da fronteira. Mas há colegas das Regiões Norte e Nordeste que se formaram aqui, voltaram para suas cidades e estão sem trabalhar."

O cenário de incerteza fez um grupo de estudantes de Pedro Juan montar, em fevereiro, uma associação para representar brasileiros que estão na região em busca do diploma. A entidade (Ameex) tem 2.100 membros.

MEC

Questionado sobre o Revalida, o MEC afirmou que as provas e a divulgação dos resultados do exame de 2017 sofreram atraso por causa dos recursos movidos por candidatos e que busca de forma prioritária "sanar o lapso temporal" do Revalida com medidas de ajustes. Sobre a realização do próximo exame, o ministério informou que será "o mais breve possível". A pasta prorrogou a portaria que criou um grupo de trabalho para discutir mudanças no Revalida - as propostas devem ser concluídas até o fim de outubro.

Para o cônsul do Brasil em Pedro Juan Caballero, Vitor Hugo de Souza Irigaray, a migração em massa de estudantes brasileiros à fronteira precisa de maior atenção do governo federal. Ele defende que seja formada uma missão com representantes dos Ministérios da Educação e da Saúde para verificar a situação de alunos e faculdades. "Precisamos de médicos bem formados. Quem está em jogo não é o médico, é o paciente."

Migração em busca do diploma

Se nas faculdades brasileiras o perfil predominante de alunos de Medicina é de jovens recém-saídos da adolescência e de classe alta, nas escolas médicas do Paraguai o grupo é mais diverso. Embora os jovens também sejam maioria por lá, há muitos casos de pessoas mais velhas, já formadas em outra área, que abandonaram emprego e casa no Brasil para cursar Medicina no exterior. A maioria toma a decisão depois de algum conhecido se aventurar e conseguir o diploma.

"Inicialmente meus pais me pediram para vir com meu irmão porque ele era muito jovem e achávamos que a região era perigosa. Então pensei que, já que eu ia morar aqui, poderia fazer Medicina também", conta Luciana Mourão, de 36 anos. Formada em Economia e Design de Interiores, ela tinha uma franquia em Rondonópolis (MT). Vendeu o negócio e viajou com o irmão Lucio, de 21. "Hoje peguei gosto pela profissão", conta ela.

Como Luciana e Lucio, muitos dos estudantes no Paraguai são do Centro-Oeste. Há também muitos nascidos no Norte. A justificativa se dá pelo acesso facilitado à região da fronteira e pelo baixo número de vagas de Medicina nessas regiões. Segundo o último Censo da Educação Superior, com dados de 2018, as universidades brasileiras ofereceram no ano passado 35,6 mil vagas para novos alunos de Medicina, mas o número de inscritos para vestibulares da carreira passou de 1 milhão, uma média de 28 candidatos por vaga.

Sonho

Marcos Cesar Ferreira dos Santos sempre teve o sonho de ser médico, mas, por causa das altas mensalidades e do vestibular concorrido, nunca pensou que poderia concretizá-lo. Depois de se casar e ter dois filhos, passou por uma situação que o fez reviver sua intenção: o sogro foi diagnosticado com câncer e ele foi um dos que acompanhou de perto a batalha contra a doença. "Eu o via daquele jeito e queria ajudar, mas não sabia o que fazer."

O sogro não resistiu à doença e morreu em 2014. Logo em seguida, o filho mais velho de Marcos, Gustavo, de 21 anos, começava a pensar no vestibular. "Perguntei o que ele ia fazer da vida e ele não estava muito certo, então sugeri essa possibilidade de fazermos Medicina juntos", conta Marcos. A família tinha um primo que já havia migrado para o Paraguai para fazer o curso, o que deu alguma segurança na decisão.

Em 2016, Marcos se mudou, com a família inteira, da cidade de Cacoal, em Rondônia, para Ponta Porã. Hoje, pai e filho estão na mesma sala, no 4.º ano. Sem poder trabalhar em horário comercial por causa do curso integral e com duas mensalidades para pagar, Marcos resolveu abrir um churrasquinho na garagem de casa em Ponta Porã. No pequeno negócio, trabalham a mulher, na preparação dos espetos; Marcos, na churrasqueira; e Gustavo, no atendimento. Até o caçula, de 14 anos, dá uma mão. "A gente recebe pedidos pelo WhatsApp também. Tem noite que atendemos até 80 pessoas", comemora Marcos.

A clientela é como se fosse da família. Quando pai e filho estão em semana de provas, avisam os clientes que o serviço não vai funcionar. "Eles entendem porque sabem que, acima de tudo, somos estudantes", diz Gustavo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Direto da redação, Fabiana Cambricoli e Werther Santana, Estadão Conteúdo
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