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01/12/2019 às 17:59

'Foi uma emboscada da polícia', diz mãe de adolescente ferida em Paraisópolis; PM diz que suspeitos atiraram

Ao menos nove pessoas morreram pisoteadas após ação da polícia em baile funk na comunidade da Zona Sul de São Paulo na madrugada deste domingo (1º).

Leiagora

'Foi uma emboscada da polícia', diz mãe de adolescente ferida em Paraisópolis; PM diz que suspeitos atiraram

Foto: Arquivo Pessoal

A mãe de uma adolescente de 17 anos ferida durante uma confusão após a ação da Polícia Militar na madrugada deste domingo (1º) em um baile funk na comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, disse que a jovem levou uma garrafada na cabeça e um golpe de cassetete nas costas dados por um policial. Ao menos nove pessoas morreram pisoteadas, segundo a Polícia Civil. Outras sete ficaram feridas.

Segundo a mãe da vítima (veja entrevista com a jovem no vídeo acima), a polícia preparou uma emboscada para os adolescentes que estavam no evento – no momento da confusão, havia cerca de 5 mil pessoas no local.

Já a Polícia Militar diz que agentes realizavam uma Operação Pancadão na comunidade – a segunda maior da cidade, com 100 mil habitantes – quando foram alvo de tiros disparados por dois homens em uma motocicleta. A dupla teria fugido em direção ao baile funk ainda atirando, o que provocou tumulto entre os frequentadores.

"[Minha filha] levou uma garrafada na cabeça, de um policial, deram um [golpe de] cassetete nas costas dela. Ela está lúcida e aguardando a tomografia", disse a mãe da garota.

"Quando eu a vi, não a reconheci. Ela estava com o rosto deformado e perdeu muito sangue. Estava em choque."

A mãe continuou: "É uma rua com duas ou três saídas. Eles [policiais] fecharam e coagiram. Atiraram com arma de fogo – não só com bala de borracha. Bateram com cassetete, fora [o uso de] spray de pimenta. Eles [os frequentadores do baile funk] estavam só curtindo".

"Os policiais fecharam a rua. Teve corre-corre, pisoteamento de adolescente. Gás de pimenta, bala de borracha, e ainda estavam agredindo pessoas. Foi um policial que tacou garrafa de vidro na minha filha."


A adolescente descreveu o momento em que foi atingida. "Eu não sei o que aconteceu, só vi correria, e várias viaturas fecharam a gente. Minha amiga caiu, e eu abaixei pra ajudá-la", disse.

"Quando me levantei, um policial me deu uma garrafada na cabeça. Os policiais falaram que era pra colocar a mão na cabeça."

'Muito tiro'
Um jovem de 18 anos que não é morador de Paraisópolis mas costuma frequentar os bailes, disse que viu muitos adolescentes passando mal e desmaiando por causa das bombas de gás atiradas pela polícia durante o baile funk da madrugada deste domingo.

"Chegaram atirando em todo mundo. A gente estava no baile e primeiro veio a bomba. Começaram a cair as pessoas, passando mal, e a desmaiar, sendo pisoteadas. Ficamos encurralados. Não tinha para aonde correr, para aonde ir. Muita gente caindo já morta, a polícia atirou. Muitas pessoas tentavam salvar a própria vida. Vi muito sangue e escutei bastante barulho de tiro", disse o jovem.

A mãe dele afirmou: "Foi meio tenso, a polícia queria saber se meu filho estava no baile funk. É uma guerra ao pobre. Se fosse nos Jardins [bairro de classe alta de SP], a coisa seria bem diferente. Até a forma da polícia abordar é diferente. O problema não é o funk, é a cultura da periferia, é o lazer".

A versão da polícia
De acordo com a polícia, agentes do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) realizavam Operação Pancadão na região de Paraisópolis quando foram alvos de tiros disparados por dois homens em uma motocicleta.

A Operação Pancadão tem sido periodicamente realizada em toda a capital "para garantir o direito de ir e vir do cidadão e impedir a perturbação do sossego, fiscalizando a emissão ruídos proveniente de veículos", de acordo com a Secretaria de Segurança Pública.


Segundo a polícia, os agentes foram atrás dos suspeitos, que entraram em Paraisópolis, em direção ao local do baile.

Equipes da Força Tática, ao chegarem para apoiar a ação, teriam levado pedradas e garrafadas. Os policiais, então, revidaram com munições químicas para dispersão – e alguém no meio da multidão disparou um tiro. Houve correria.

Durante a confusão, pessoas foram pisoteadas e levadas em estado grave ao Pronto Socorro do Campo Limpo. Duas viaturas da PM foram depredadas.

O delegado Emiliano da Silva Neto, do 89º DP, afirmou que todas as vítimas morreram pisoteadas, e não por causa dos tiros.

"Policiais militares pararam duas pessoas em uma moto. Eles entraram onde estava ocorrendo a festa e continuaram atirando nos policiais. Em decorrência desse tiroteio, houve um efeito manada, teve uma viela com escadaria, e as pessoas pisotearam umas nas outras", disse.

"Nove morreram. Todas elas estão com graves lesões de pisoteio, não tem nada de perfuração ou alguém atingido por projétil de arma de fogo."

O governador João Doria (PSDB) lamentou as mortes e pediu "apuração rigorosa" do episódio. O Ouvidor das Polícias, Benedito Mariano, afirmou que "a PM precisa mudar protocolo".

Dados sobre Paraisópolis
2ª maior favela de São Paulo e 5ª maior do Brasil
100 mil habitantes
21 mil domicílios
12 mil moradores analfabetos ou semianalfabetos
31% da população é composta por jovens de 15 a 29 anos, portanto mais vulneráveis à carência de emprego e oportunidades
42% das famílias têm mulheres como responsáveis
12 escolas públicas (estaduais e municipais), uma Escola Técnica Estadual (Etec), um Centro Educacional Unificado (CEU), três unidades básicas de saúde (UBS) e uma unidade de Assistência Médica Ambulatorial (AMA)
G1
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