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09/02/2020 às 14:00

Venezuelanos sonham com um lugar para morar enquanto vivem de doação e esmola

O espaço às margens da rua Jules Rimet se tornou a nova moradia de 21 venezuelanos da tribo indígena Warao

Luzia Araújo

Venezuelanos sonham com um lugar para morar enquanto vivem de doação e esmola

Foto: Leiagora

Quem circula a pé ou de automóvel na região da Rodoviária de Cuiabá “Engenheiro Cássio Veiga de Sá” logo se depara com lonas coloridas amarradas entre as árvores de uma das calçadas ao lado do terminal. Ao se aproximar mais um pouco, o cenário se completa e um grupo de pessoas de origem venezuelana é visto vivendo em baixo delas. 

O espaço às margens da rua Jules Rimet se tornou a nova moradia de 21 venezuelanos da tribo indígena Warao que decidiram deixar o país de origem para fugir da miséria, escassez de alimentos e remédios, inflação e insegurança em busca de uma vida melhor no Brasil. 

Na Venezuela, o povo indígena warao se destaca devido as grandes habilidades em artesanato e mulheres que se vestem com roupas coloridas. Em Cuiabá, o grupo é formado por 13 adultos, 02 adolescentes, 05 crianças e 01 idoso da mesma família. Eles moravam no sul do estado venezuelano Monaga e passaram por cinco cidades brasileiras até chegar na capital mato-grossense, no dia 1º de janeiro. 

Desde então, os indígenas venezuelanos vivem de doação e esmola que conseguem pedindo nos semáforos da capital. Porém, em algumas ocasiões eles foram expulsos dos locais que já estavam ocupados por outros estrangeiros, dificultando ainda mais a situação deles na cidade. Paralelo a esse sofrimento, o grupo ainda encara os perigos de viver na rua, além do calor e da chuva típica nesta época do ano. 

Segundo Florencia Quevedo, membro do grupo, em um dia de trabalho no semáforo eles conseguem arrecadar de R$ 40 a R$ 50 que são destinados em alimentos para o grupo.

"A vida na Venezuela era boa, mas depois que trocou o presidente a coisa lá ficou muito ruim. Não tem comida e não tem trabalho. Aqui está muito melhor, inclusive falei para outros familiares que os brasileiros nos dão as coisas e são muito bons para nós. Agora, precisamos de uma casa".

Os indígenas permanecem nessa situação porque se recusam a serem abrigados na Pastoral do Imigrantes, que presta serviço de acolhimento às pessoas, pois já tiveram problemas com outros venezuelanos quando passaram por abrigos.

Segundo a diretora da Pastoral do Imigrante, Eliana Vitaliano, o motivo seria decorrente ao preconceito vivido pelos Waraos dos outros venezuelanos devido às origens e diferenças culturais. 

Eliana disse ainda que a Pastoral, assim que tomou conhecimento da situação, esteve no acampamento junto com a equipe de Proteção Especial da Secretaria Municipal de Assistência Social e Desenvolvimento Humano para identificar as necessidades de documentação da família indígina. 

“Visitamos o grupo para conversar com eles, porque foi a primeira vez que trabalhamos com indígenas venezuelanos, porém eles se negaram a ficar no abrigo, alegando que já sofreram represálias de outros venezuelanos. Além disso, aqui temos capacidade para atender 100 pessoas, mas trabalhamos sempre acima do limite. Informamos que não daria para receber todos. O abrigo em si, em qualquer lugar que seja, tem regulamento e eles não possuem essa prática e não aceitam se separar”, disse Eliana.

No ano de 2019, a Pastoral atendeu 1.317 migrantes, sendo que a maioria foram de origem venezuela (850 pessoas) e haitianos (298). O espaço tem capacidade para 100 abrigados e hoje funciona acima da capacidade.

A diretora disse ainda, que os Waraos estiveram nas instalações da Pastoral para conhecer o local, onde também passaram pela regularização documental e agendamento na Polícia Federal. Agora, o abrigo se organiza para voltar novamente no acampamento para verificar se todos os venezuelanos estiveram na Polícia Federal e fazer o agendamento para confeccionar a carteira de trabalho, a fim de ajudá-los na busca por inserção no mercado formal. 

Para os estrageiros que desejam se capacitar para o mercado de trabalho, de acordo com Eliana, o abrigo irá ofertar este ano cursos profissionalizantes, por meio de uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e o Serviço Social da Indústria (Sesi).

Segundo informações da assessoria de imprensa da Prefeitura de Cuiabá, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Desenvolvimento Humano também vem acompanhando o grupo de indíginas venezuelanos, desde quando tomaram conhecimento do acampamento. 

Três visitas já foram feitas aos indígenas nas quais foram orientados e encaminhados para a regularização dos documentos pessoais e emissão das carteiras de trabalho. Todo o trabalho é fruto de uma parceria com a Pastoral dos Imigrantes. 

Além disso, o prefeito Emanuel Pinheiro criou o Comitê Intersetorial da Política Municipal, fruto do decreto de nº 7.641, de 05 de dezembro de 2019, para a construção de políticas públicas efetivas para acolhimento humanizado de imigrantes que chegaram em Cuiabá nos últimos anos.

A crise na Venezuela

Desde meados de 2013, a Venezuela arrasta-se em uma crise que piora a cada dia. Atualmente, o país encontra-se em uma encruzilhada, enfrentando uma crise política em razão da disputa entre Nicolás Maduro e a oposição venezuelana, que denuncia os abusos de poder cometidos pelo presidente. Além disso, existem a crise econômica, a crise humanitária e ainda o risco de uma intervenção liderada pelos Estados Unidos.

A crise na Venezuela está diretamente ligada com a desvalorização do petróleo no mercado internacional, o que aconteceu a partir de 2014. A crise política é outra faceta do quadro caótico que a Venezuela encara atualmente.

No governo de Hugo Chávez, a relação com a oposição já era tumultuada. No entanto, durante o governo de Maduro, a guinada do país rumo ao autoritarismo foi total, e sua situação atual é delicada.

Em 2018, foi realizada eleição presidencial na Venezuela, com Nicolás Maduro concorrendo à reeleição contra Henri Falcón. Maduro obteve a vitória ao conquistar quase 68% dos votos. 

No começo de 2019, o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente interino da Venezuela, enquanto o país estiver em processo de transição de poder. Os riscos atuais que envolvem a crise da Venezuela são o de ameça de guerra e o de uma intervenção americana no país. 
 
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