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Notícias / Geral

11/06/2020 às 18:57

CRM realiza vistoria, detecta irregularidades e recomenda interditar antigo pronto-socorro

O hospital foi disponibilizado pela Prefeitura para atendimento de pacientes com covid-19 na capital.

Alline Marques

O Conselho Regional de Medicina (CRM) sugeriu em relatório de vistoria a interdição ética do antigo pronto-socorro de Cuiabá, hopital que está como referência para atendimento de pacientes com covid-19. Isto ocorre quando as condições de trabalho colocam em risco a vida dos usuários e/ou da equipe de profissionais. 

"Diante da gravidade das irregularidades acima elencadas e nos termos das Resoluções CFM Nº 2056/2013 e 2062/2013, concluímos que o estabelecimento está em situação que enseja indicativo de Interdição Ética", diz o relatório do CRM em que Leiagora teve acesso.

Para que se efetivo o pedido de interdição, o CRM ainda realizará nova vistoria para analisar se as recomendações foram atendidas, caso contrário, poderá ser efetivado realmente o fechamento da unidade. Além disso, o conselho já encaminhou o documento aos Ministérios Públicos Estadual e Federal para apurar as irregularidades. 

Atualmente, o hospital possui 40 leitos habilitados para atender aos pacientes e até esta quinta-feira (11) possui 32 internados e já está com 80% da capacidade de ocupação lotada. 

De acordo com o documento, médicos que atuam no hospital informaram que durante a semana ocorreram problemas de funcionamento dos ventiladores mecânicos da unidade tendo ocorrido a troca desses equipamentos.

Consta ainda que a unidade não possui a sonda de aspiração sistema fechado para tubo orotraqueal adequada para a aspiração dos pacientes intubados, em ventilação mecânica, utensílio  imprescindível para a ventilação adequada dos pacientes e mais seguro para os profissionais de saúde diminuindo assim o risco de contaminação durante os  procedimentos. 

A unidade dispõe apenas da sonda de aspiração sistema fechado para traqueostomia que é mais curta e pouco eficaz para a aspiração de tubos orotraqueais.

Outro problema apontado pelos profissionais plantonistas da sala amarela pediatrica é a deque a escala de plantão está incompleta (em 2 períodos da semana há apenas 1 plantonista). Eles ponturaram ainda a falta dos seguintes equipamentos: aspirador à vacuo com filtro hidrofóbico, capnógrafo, videolaringoscopio com laminas infantis, máscaras laringeas, máscara de oxigênio não reinalante, aparelho para ventilação não invasiva e cateteres de alto fluxo já comunicado a direção da unidade.

A fisioterapeuta de plantão da UTI Adulto 3 referiu ainda que há 5 ventiladores mecânicos dos 13 que a unidade possui que vem apresentando um desempenho abaixo do recomendado na função de ventilar o pulmão dos pacientes.

Ainda de acordo com o relato de uma das médicas plantonista, a UTI pediátrica possui 10 leitos, no entanto, apenas 4 estão completos para atendimento aos pacientes encaminhados com infecção pela covid-19. A quantidade de bombas de infusão está insuficiente para cobertura de todos os leitos. 

Inclusive, a unidade já está há cerca de 3 semanas sem admitir pacientes em função da falta de assistência especializada em Cirurgia Pediátrica e Neurologia Pediátrica além da falta de outros materiais e utensílios como cateteres para acesso venoso (PIC e duplo lúmen) e a sonda de aspiração sistema fechado para tubo orotraqueal adequada para a pediatria (tamanhos 10 e 12), além da falta das bombas de infusão em número suficiente.

Outra médica relatou também que há a unidade de Terapia Semi Intensiva Pediátrica está com todos os cinco leitos incompletos por falta de materiais essências ao funcionamento dos ventiladores mecânicos (válvula expiratória) e falta de bombas de infusão em número suficiente. 

"Dessa forma, a unidade permanece sem condições de admitir pacientes na unidade", considera o relatório.

Apesar de a prefeitura alegar que realizou uma obra no local para poder atender aos pacientes de covid-19, no relatório o CRM aponta que já problemas na estrutura desde a parte elétrica, além de estrutura física inadequada, com sinais de desgaste pelo uso e falta de manutenção preventiva (fissuras em pisos, paredes, forros, portas com defeito, infiltrações em paredes e teto e fiação exposta). 

Outra irregularidades constatada pelo CRM foi a de que a unidade não dispõe de nateriais adequados para aspiração traqueal em sistema fechado, dentre outros equipamentos necessários principalmente para entubação de pacientes. 

Há problemas com a escala de médico, falta de pessoal, falta de medicamentos em estoque como terbutalina, utilizado para pacientes com problemas respiratórios, e atracúrio, utilizado como complemento de anestesia e facilitador da intubação. Ou sejam, ambos são essenciais no atendimento de pacientes com Covid-19.

Represália

Esta já é a terceira vistoria realizada pelo CRM na unidade e um dos relatórios foi entregue ao Conselho Municipal de Saúde pelo cirurgião vascular e diretor clínico do antigo pronto-socorro de Cuiabá, Carlos Augusto Araújo, que acabou sendo demitido. Ele disse ao Leiagora que mesmo tendo dois vínculo empregatício, como divulgou a nota da prefeitura, ele conseguia atender a escala e as funções. 

O conselho municipal inclusive é presidido pelo secretário de Saúde de Cuiabá, Luiz Antônio Pôssas, e "
uma hora e meia após eu protocolar, o RH (recursos humano) me chamou e deu a carta, mas eu não assinei".  Carlos é estatutário na diretoria clínica, onde continua e médico cirurgião vascular que era do processo seletivo e ficava de sobreaviso às sextas-feiras, assim como os outros seis colegas (um em cada dia da semana). 

"Fizeram distrato de contrato retroativo assim que eu protocolei com o Conselho Municipal de Saúde", relatou.

Outro lado 


Quanto às denúncias do CRM no Hospital Referência, a Secretaria de Saúde de Cuiabá esclarece que:

1- importante destacar que a estrutura do Hospital Referência que era o antigo PS da Capital já ultrapassa 30 anos e jamais recebeu reformas estruturais, exceto pela gestão Emanuel Pinheiro para que o mesmo abrigasse o Hospital Referência para Covid-19.

2-Importante reforçar, que após a inauguração do Hospital Municipal de Cuiabá, passaria por reformas complexas para dar lugar ao Hospital da Família -HFAM conforme cronograma da gestão Emanuel. Entretanto, o prefeito optou por manter a unidade ativa por mais 120 dias - o que a oportunizou, por meio de uma força-tarefa, ser transformada em referência  para Covid-19, seguindo ao princípio da economicidade.


3- Todo empenho da gestão implantou em tempo recorde, 55 leitos de UTI exclusivos para o atendimento ao novo vírus, sendo 40 adultos e 15 pediátricos. O que neste exato momento, está oportunizando salvar a vida de 40 adultos e mais uma criança indígena que veio transferida do interior do Estado em razão da falta de UTIs nos hospitais regionais, 

4- Por tudo isso, a Secretaria frisa ao CRM que mesmo com problemas estruturais crônicos, que embora amenizadora já perduram 30 anos, a estrutura hoje implantada  pela atual gestão no antigo PS está salvando vidas não apenas de paciente de Cuiabá, mas de todo o estado nessa grave pandemia.

Veja íntegra do relatório da vistoria 
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1 comentário

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  • Camila 11/06/2020 às 00:00

    Parabéns Dr Carlos Araújo pela coragem de denunciar esse descaso com a saúde do município e pelo tamanho desleixo com o dinheiro do pagador de imposto. Parabéns CRM/MT, fizeram valer o juramento de vocês! A população agradece a fiscalização e o empenho de vocês!

 
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