Em tempos de pandemia e isolamento social, o estresse, que já era frequente na rotina pré-pandêmica, se tornou companheiro habitual dos lares de muitas pessoas. Uma das consequências disso tem sido o aumento dos casos de bruxismo, que é o ato de pressionar ou ranger os dentes.
Um dos principais sinais dessa condição, que afeta adultos e crianças, é ranger os dentes durante o sono, o que gera um ruído desagradável. Além disso, são frequentes os relatos de acordar com dor de cabeça, dor no maxilar, dor de dente ou apresentar problemas dentários.
Para esclarecer todas as dúvidas sobre esse assunto, o Leiagora convidou o cirurgião e traumatologista bucomaxilofacial de Cuiabá, Judson Guimarães, que atua na área há 15 anos, para falar um pouco sobre bruxismo na pandemia.
Leiagora:O que é o bruxismo? Judson Guimarães: “Algumas pessoas acham que é só o fato de, durante à noite, fazer barulho rangendo os dentes. Mas só o fato de fazer o apertamento dos dentes, tanto à noite quanto de dia, isso também é o bruxismo. Normalmente, nas 24 horas do dia, teoricamente, só ficam em toque por aproximadamente 17 a 18 minutos. Então, se passa esse tempo de toque dos dentes, a pessoa pode desenvolver esse bruxismo”.
Leiagora:Então só de ficar algum tempo apertando os dentes durante o dia já pode ser bruxismo? Judson Guimarães: “Isso. Os dentes têm que ter uma certa folga, um espaço de mais ou menos um milímetro. Eles não podem ficar fazendo toque”.
Leiagora:Qual a causa? Judson Guimarães: “A causa é multifatorial. Vai desde o estresse, uso de medicamento, uso de alguma substância tipo cigarro e cafeína. Algumas drogas antidepressivas aumentam bastante o bruxismo. Falta de atividade física”.
Leiagora: O estresse aumenta muito isso? Judson Guimarães: “Aumenta bastante. Agora nesse período de pandemia, as pessoas estão dormindo mau, ou deixaram de exercer atividades rotineiras como, por exemplo, gastar energia durante o dia para poder dormir bem à noite. Então isso tem feito aumentar muito os casos de bruxismo. No meu consultório aumentou de três a quatro vezes o número de pacientes que me procuram por causa de dor em face”.
Leiagora: E os pacientes costumam relatar estresse por conta da pandemia? Judson Guimarães: “Muito. A maioria desses pacientes, em torno de 80%, relatam que estão dormindo mau, que têm crise de ansiedade, que têm crise de choro. E quando isso acontece nós até orientamos o paciente a procurar um especialista, psiquiatra, psicólogo, para poder fazer esse tratamento em conjunto. Porque notamos que, emocionalmente, a pessoa não está bem. Ou por mudança abrupta da rotina por conta da pandemia, ou por medo de morte, por medo da doença (covid-19)”.
Leiagora: E o que o bruxismo pode causar? Judson Guimarães: “Pode causar desgaste do dente, pode quebrar dente, quebrar restauração e, às vezes, levar até à perda do dente. Pode desenvolver algum tipo de cefaleia, pode desenvolver dor na articulação temporomandibular”.
Leiagora: Em casos mais graves pode chegar a que ponto? Judson Guimarães: “Se não for tratado aí a pessoa pode desenvolver uma degeneração na articulação, mas isso levaria anos e anos se não for procurar tratamento".
Leiagora:Tem tratamento? Como funciona? Judson Guimarães: “Tem tratamento e o primeiro passo é identificar o tipo do problema que a pessoa está tendo. Então, por exemplo, se for um antidepressivo, vamos tentar identificar e entrar em contato com quem prescreveu para verificar se há possibilidade de mudança. Nós também passamos alguns relaxantes musculares, alguns medicamentos que melhorem a qualidade do sono, orientamos o paciente a praticar exercício físico, pelo menos em casa. E para minimizar os danos às estruturas, o paciente acaba usando uma placa que chama placa miorrelaxante”.
Leiagora:Uma vez que a pessoa desenvolve bruxismo, é para sempre ou tem cura? Judson Guimarães: “Não necessariamente é para sempre. Pode ser por um período apenas. Por exemplo, pode ser que o paciente desenvolva bruxismo num período de estresse, depois, quando o estresse passa, o bruxismo também para. Mas, qualquer pessoa está sujeita a isso”.
Leiagora: É fácil identificar? Judson Guimarães: “Na maioria dos casos é fácil identificar, principalmente as pessoas que podem ter alguém que faça a vigília dessa pessoa durante o sono. Agora, as pessoas que moram sozinha, não têm ninguém para olhar, não têm apertamento diurno e reclamam de dor no rosto, geralmente essa dor aparece mais no período da manhã, porque passa a noite toda trabalhando a musculatura e de manhã acaba tendo essa dor, mas é fácil identificar”.
Leiagora: Quais são as dicas para evitar ou minimizar? Judson Guimarães: “Exercício físico, exercícios de relaxamento, alongamento, o que puder ser feito agora durante a pandemia. É interessante que a pessoa tenha alguma válvula de escape, qualquer coisa que a faça se sentir bem, que dê prazer a ela. Isso já ajuda bastante. É importante evitar hábitos de colocar objetos na boca”
Leiagora: Em que momento a pessoa deve procurar um médico? Judson Guimarães:"Qualquer tipo de dor no rosto que permaneça por mais de três dias é interessante procurar um profissional para fazer esse diagnostico e prevenir esses danos, seja um bucomaxilo facial ou um especialista da área”
Clique aqui, entre na comunidade de WhatsApp do Leiagora e receba notícias em tempo real.
Siga-nos no Twitter e acompanhe as notícias em primeira mão.
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços. Ao utilizar nosso site, você concorda com tal monitoramento. Para mais informações, consulte nossa Política de Privacidade.