Filha de mecânico, Mariana Peres cresceu dentro das retificas de motores do pai em São Paulo. Em meio à graxa e ferramentas, a engenheira florestal acompanhava de perto as manutenções e reparos, que ele fazia nos automóveis que chegavam, diariamente, nas oficinas. O talento do pai de consertar motores fez com que Mariana se apaixonasse por mecânica.
Esse amor, ela acabou levando para a faculdade, onde sempre quis saber um pouco mais sobre mecânica de tratores, se especializando na área dentro da engenharia florestal. Com o tempo, Mariana se tornou professora do assunto na graduação e nas aulas de mecânica de trator, ela percebeu que suas alunas faziam perguntas sobre o conteúdo, comparando a mecanização da máquina pesada com o carro ou motocicleta que elas tinham.
Até que, um certo dia, três alunas pediram para Mariana explicar um pouco mais sobre mecânica depois da aula e foi a partir daí que surgiu o Projeto de Extensão Mecânica Básica para Mulheres, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que na última semana completou 10 anos.
“Começamos a conversar depois das aulas. Eu ficava meia hora ou 40 minutos com essas alunas. Aí o curso foi se criando de forma espontânea. Com o tempo, as conversas se tornaram grupo de estudo, até chegar ao projeto de extensão”, lembrou a professora e coordenadora do projeto.
Ao longo dessa uma década, mais de mil mulheres já passaram pelo curso que tem como objetivo levar conhecimento teórico e prático sobre mecânica básica de automóveis para o público feminino. Uma delas foi Sheila Espindola de Matos, de 25 anos. A engenheira florestal resolveu se inscrever na capacitação para se tornar mais independente e poder consertar o seu carro, sem precisar da ajuda de terceiros.
Inclusive, ela já utilizou os conhecimentos que adquiriu quando precisou trocar um pneu furado. Sheila foi para casa de uma tia, passar a tarde com ela. Quando revolveu ir embora, se deparou com o pneu do seu carro furado. As duas estavam sozinhas na residência e a engenheira decidiu colocar em pratica o que aprendeu.
“Consegui fazer sem problema nenhum. Até então, tinha visto o meu marido e outras pessoas fazerem, mas com a parte prática que tive no curso, consegui trocar dessa vez sozinha. Me senti realizada”.
O projeto de extensão oferece aulas de mecânica de automóvel e motocicleta, além de cursos específicos como de combustíveis e abastecimentos, Pneus: calibragem e trocas e até direção defensiva.
“Uma das coisas que mais trabalhamos é oferecer autonomia a mulher, como no momento de vender ou comprar um automóvel. No curso damos algumas dicas para a mulher não depender de terceiros nesse tipo de negociação, como por exemplo, puxar o cinto até o final, para ver se lá dentro tem poeira ou não. Isso mostra se o carro rodou por estrada de terra. Ela vai ter independência para chegar em qualquer estabelecimento, olhar alguns detalhes e tomar a sua própria decisão. São várias coisas que explicamos para a mulher se empoderar”.
Para a coordenadora, completar 10 anos de capacitações significa uma quebra de paradigma. “Estamos mostrando que não existe universo masculino e nem feminino. Existe oportunidade para quem quiser. A mulher pode estar em qualquer lugar que ela quiser”.
O projeto de extensão está com as atividades paralisadas devido à pandemia do novo coronavírus e não tem previsão para retornar, porém no final de agosto e início de setembro, o curso irá preparar posts especiais para as redes sociais do projeto com dicas para ajudar as mulheres sobre mecânica, enquanto as aulas não voltam. Para mais informações acesse o Facebook e Instagram do projeto.
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