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06/08/2020 às 07:10

Neurocirurgião diz que policiais fizeram 'segurança' de empresário na cena do crime

Médico relatou que apenas a cabeça de Isabele estava dentro da parte molhada do box do banheiro, todo o restante para fora e que não havia sangue ao redor do corpo da vítima.

Eduarda Fernandes e Alline Marques

Neurocirurgião diz que policiais fizeram 'segurança' de empresário na cena do crime

Isabele foi morta no dia 12 de julho com um tiro no rosto

Foto: Arquivo Pessoal

O depoimento do médico neurocirurgião Wilson Guimarães Novais, amigo da família de Isabele Guimarães Ramos - adolescente morta com um tiro na cabeça no condomínio Alphaville, em Cuiabá -, aponta dois pontos curioso do caso. O primeiro dele é que estranhou o fato de o local do crime estar “muito limpo”, “incompatível com algo tão grave”. O segundo é sobre a chegada de dois policiais à paisana que teriam agido como seguranças do empresário Marcelo Cestari, pai da adolescente apontada como responsável pelo disparo. 

Ao atual delegado do caso, Wagner Bassi Júnior, relatou que apenas a cabeça de Isabele estava dentro da parte molhada do box do banheiro, todo o restante para fora e que não havia sangue ao redor do corpo da vítima.

O depoimento foi prestado na manhã da última sexta-feira (31). O médico era sócio de Jony Soares Ramos, pai de Isabele, que morreu em junho de 2018, em um acidente na rodovia Emanuel Pinheiro, que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães. Antes disso, o conhecia há aproximadamente 19 anos e Patrícia, viúva de Jony e mãe de Isabele, há 17 anos.

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Ele afirmou que, apesar de ser amigo da família, não carrega nenhum sentimento passional em relação aos fatos. 

Ao delegado, contou que estava em casa na noite de 12 de julho, quando recebeu a primeira ligação da mãe de Isabele, por volta das 22h12. “Que a senhora Patrícia ligou desesperada, chorando muito e alterada emocionalmente; Que a senhora Patrícia solicitou ao declarante a sua presença; Que o declarante arrumou-se e, aproximadamente, 22h24min já se encontrava no local do fato”, diz trecho do depoimento do médico.

Ao chegar ao local, Wilson Novais constatou a presença do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas disse que ainda não havia policiais no condomínio. Ele conversou com um dos médicos do Samu e solicitou que ele lhe acompanhasse até a cena do crime. Chegando lá, atestou o óbito de Isabele.

“Que o declarante notou que a vítima estava com os olhos entreabertos, característica não natural de um cadáver, isto é, a vítima, possivelmente, se encontrava com os olhos abertos no momento do disparo; Que havia chamuscamento (resíduo de pólvora) no rosto da vítima e com respingos de sangue no rosto; Que apenas a cabeça da vítima encontrava-se dentro da área molhada do box do banheiro e o restante do corpo para fora; Que o declarante não viu sangue ao redor do corpo de Isabele, apenas dentro do box”, diz trecho do depoimento do médico amigo da família da vítima.

Novais ressalta que esse fato lhe chamou atenção, “pois sendo neurocirurgião, esperava-se que o ‘projétil’ deveria ter provocado muito mais sangue disperso no ambiente”. Outro fato narrado pelo médico foi que, ao adentrar o closet, todas as luzes estavam apagadas e havia apenas uma luz fraca no banheiro.

“Que toda essa visualização, no entender do declarante, era incompatível com algo tão grave que ocorreu. Que o declarante informa que onde a vítima levou o tiro é uma região bastante vascularizada, isto é, um sangramento de grande monta”, analisou.

Wilson Novais afirmou ter ficado poucos minutos dentro do banheiro, local do crime. Depois, “adentrou o local, após alguns segundos, um cidadão apavorado que se identificou como advogado da família Cestari”.

Para o médico, “o ambiente estava muito limpo para uma situação tão grave, pois, para o declarante que está habituado a receber pacientes com tiros no crânio, o ambiente era para estar com muito mais sangue, em função da pressão que as artérias, veias, jogam o sangue para fora”. Nesta linha, destacou também que “o ambiente estava muito arrumado, o que n é normal em situações com lesões na cabeça”.

Ele ainda encontrou Patrícia na cena do crime e pediu que ela descesse. No piso inferior, encontrou policiais militares que subiram ao local do crime para isolar a área.

Também na parte de baixo da casa, Wilson Novais viu Marcelo Cestari, a esposa e o filho do casal. Do lado de fora da casa estavam dois tios de Isabele e disse a eles: “Algo muito estranho aconteceu aqui. A Isabele está morta por um tiro no crânio e não há arma no local do crime”.

Neste momento, Marcelo Cestari saiu da casa e foi logo indagado pelos familiares da vítima sobre a arma, não sabendo ele responder. O médico também narra que, neste ponto, ocorreu uma discussão entre Marcelo e os amigos e familiares de Isabele. “No entanto, Marcelo Cestari era evasivo, não fornecendo as respostas requeridas e mostrava-se bastante nervoso e agia com certa empáfia”.

Na sala de depoimento, o delegado do caso mostrou a foto de um policial e o médico reconheceu como sendo um dos homens descritos acima.

Após as saída do Samu e o local ser isolado, o neurocirurgião lembra que “chegaram dois indivíduos à paisana, saindo de um veículo Citroen C-4, sedan, cor chumbo e adentraram a casa”. Mais tarde, Wilson ficou sabendo que tratava-se de um veículo não caracterizado da polícia e os dois homens seriam policiais civis “e que estavam atuando como segurança do Marcelo Cestari, em função da postura intimidadora que se colocaram, tendo um deles ficado em frente à residência com postura incompatível com o ocorrido, intimidadora, com os braços cruzados e olhando de forma arrogante e fumando cigarro eletrônico”.

Esses policiais à paisana chegaram antes da Polícia Civil e da Politec, de acordo com o depoimento do médico. Wilson diz, por fim, que após todos irem embora, Marcelo Cestari foi preso por porte ilegal de arma e o restante da família se recolheu e apagou as luzes.
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