Cuiabá, quinta-feira, 25/04/2024
04:58:51
informe o texto

Notícias / Polícia

12/08/2020 às 07:00

Morte de Isabele completa um mês: entenda as contradições e a linha do tempo do caso

Para entender melhor o caso, o Leiagora reuniu as principais informações, criou uma linha do tempo, e elencou as contradições.

Alline Marques e Eduarda Fernandes

Morte de Isabele completa um mês: entenda as contradições e a linha do tempo do caso

Foto: Arquivo Pessoal

A morte de Isabele Guimarães Ramos, de 14 anos, completa um mês nesta quarta-feira (12) e o caso ainda tem muito mais perguntas do que respostas. São diversas contradições. O assunto é o mais comentado nos grupos de whats e em rodas de conversas, chamou atenção da população e ganhou destaque nas manchetes dos veículos de comunicação tanto de Mato Grosso, quanto nacional.

Boa parte desta comoção com relação ao caso está ligado, claro, ao fato de envolver duas adolescentes, uma tragédia em condomínio de luxo, ainda tem a polêmica relacionada ao acesso de armas a menores de idade, mas também tem muito mais haver com as contradições que envolvem essa tragédia, que acabaram sendo evidenciada ainda mais com a divulgação do laudo da balística que foi finalizado nessa terça-feira (11). 

O que era para ser um jantar entre amigos e um momento de distração entre adolescentes, transformou numa tragédia envolvendo duas famílias. De um lado está Patricia Guimarães, mãe de Isabele, que pede por justiça, questiona as versões e alegações dadas pela família da amiga que assumiu o disparo contra Isabele. Do outro a família Cestari que deixou a casa alegando abalo emocional. Vale ressaltar ainda que além da jovem de 14 anos que seria responsável pelo tiro, outros três adolescentes, irmãos dela, se viram envolvidos em tudo isso, presenciaram uma cena que jovem nenhum deveria ter que assistir.  

Para entender melhor o caso, o Leiagora reuniu as principais informações do caso, criou uma linha do tempo, e elencou as contradições. 

Para começar, vamos entender a linha do tempo

14h - Isabele vai à casa da amiga 
15h - chega o namorado com as armas 
20h43 - Patrícia liga para Isabele pedindo para ela ir embora
21h00 - jantar é servido na casa dos Cestari
21h59:48s - sai o namorado
22h01:47s - mãe sai para chamar a Patricia 
22h01 - namorado passa na guarita do condominio
22h02 - Marcelo liga pro Samu
22h03 - Irmã mais velha da investigada liga para Samu
22h12 - Patrícia liga para Wilson Novais
22h24 - chega médico Wilson Novais
22h30 - Ciosp é acionado

Também é preciso entender quem estava na casa naquele 12 de julho

No total, tinham nove pessoas na casa. São eles: os pais, Marcelo e Gaby cestari, os quatro irmãos, os dois namorados das irmãs gêmeas, e Isabele. Após ser chamada pela mãe, às 20h43, Isabele pede para ficar para a janta, pois havia planejado fazer uma torta de limão com uma das amigas. A comida é servida por volta das 21h, conforme relato de Gaby Cestari.  

Afinal, que horas Isabele foi morta? 

Este é um dos questionamentos elencado pelo médico Wilson Novaes, amigo da família de Isabele, mas também por muitas pessoas que estão acompanhando o caso. 

Marcelo e Gaby afirmam que o disparo ocorreu por volta das 22h, logo após o namorado da filha que assumiu a autoria do tiro deixar a casa. Ele deixou as duas armas que havia levado devido ao medo de blitz. 

Contudo, no depoimento do 2º Tenente Policial Militar Felipe Luiz Pedroso da Silva, ele afirma que foi para o condomínio por volta das 22h30, hora que o Ciosp foi acionado, e ao questionar o médico do Samu sobre a hora da morte foi informado que “devido ao estado da pálpebra teria ocorrido há menos de duas horas". O que faz com que a morte possa ter ocorrido por volta das 20h30 / 21h. 

Tiro acidental x execução e uma arma descarregada

A adolescente que assumiu a autoria do disparou relatou à polícia que o tiro teria ocorrido acidentalmente quando o case com as armas teria caído e ela tentou equilibrar a arma sobre a caixa. Ela admite que poderia ter disparado involuntariamente a arma.

Só que aqui começa o grande X da questão. Logo após o fato, as versões apresentadas chamaram atenção e o assunto rendeu nos grupos de whatsapp, agora, 30 dias depois, este ainda é um fato complicador no caso. Isto porque, o laudo da balística descarta totalmente a tese de tiro acidental. 

Outro fato que complicou a defesa da adolescente é o fato de que tanto o namorado, quanto a mãe dela, alegam que a arma estava descarregada. Gaby Cestari chega inclusive relatar que tanto ela, quanto o marido testaram a pistola. Marcelo chegou, inclusive, fazer um disparo de teste e a arma estava sem bala na câmara. 

Sendo assim, vale trazer trechos do laudo da balística: "no ato do disparo, o agente agressor posicionou-se frontalmente em relação à vítima, sustentou a arma a uma altura de 1,44 m do piso com alinhamento horizontal e a uma distância entre 20 e 30 cm da face da vítima". Em resumo, foi um tiro em linha reta à curta distância. 

Outro ponto relevante do laudo: "a arma de fogo, da forma que foi recebida, somente se mostrou capaz de realizar disparo e produzir tiro estando carregada (cartucho de munição inserido na câmara de carregamento do cano), engatilhada, destravada e mediante o acionamento do gatilho".

Esta conclusão do laudo é feita após vários testes, com simulações em várias circustâncias, o que ao final descarta totalmente a versão apresentada pela adolescente.

A ligação para o Samu: queda ou tiro, senhor?

A ligação para o Samu foi feita às 22h02 e por cerca de 10 minutos Marcelo se mantém na linha com o médico e a todo momento tenta negar que Isabele foi vítima de um tiro. Ele tenta sustentar que foi uma queda. A defesa alega que a família não tinha informado sobre o tiro, somente depois, ainda durante a ligação alguém fala para ele. O que chama a atenção é que a filha mais velha liga um minuto depois, às 22h03, para o Samu relatando tiro. 

O médico ainda questiona Marcelo novamente: "é queda ou tiro, senhor?". "É queda, é queda!", responde o empresário. Um tempo depois, o médico volta a falar que recebeu outra ligação falando que era tiro, mas ainda assim Marcelo tenta refutar a ideia, mas depois admite: "pois é, agora que a menina está falando". 

Outro fato que se questiona é se Marcelo não seria capaz de ver que o ferimento no rosto de Isabele se tratava de tiro e não de queda. Isto porque ele estaria próximo ao corpo para fazer massagem cardíaca e também checar o pulso da jovem. O tiro acertou o nariz e saiu na nuca.

Qual era a cena do crime ? 

A cena do crime é outra parte bastante contraditória entre os depoimentos que foram lidos pela equipe de reportagem do Leiagora. A limpeza do banheiro e a ausência da arma no local, são alguns dos pontos questionados. Além disso, a mãe de Isabele, Patrícia Helen Guimarães Ramos, relata que, ao ver a filha no chão “se abaixou, virou a cabeça dela e viu que havia parte do cérebro exposta e notou que a filha já estava morta”. 

Por outro lado, o médico Manoel Garibaldi, que mora no mesmo condomínio e foi chamado pela família Cestari, ao ser questionado no depoimento, disse que “não viu massa encefálica no box do banheiro, somente sangue”. Ele também relata isso ao médico do Samu que está no telefone com Marcelo. 

Sobre o sangue, o empresário, na ligação ao Samu, diz que tem “uns dois litros de sangue no chão”. Já o médico neurocirurgião Wilson Guimarães Novais, amigo da família de Isabele, estranhou a limpeza do local. 

Além disso, Wilson, Patricia, e Garibaldi mencionam que só a cabeça de Isabele estava dentro do box e o restante do corpo para fora. 

Troca de roupa e desencontros

Logo após o crime, Gaby Cestari diz ter mandado as três filhas para a casa de um vizinho, namorado de uma das adolescentes, que também estava na residência no momento do crime. Lá, a suposta autora do disparo e sua irmã gêmea trocaram de roupa. O motivo da troca não foi revelado nos depoimentos, nem mesmo qual era o estado das roupas, se havia sangue ou não, se foram lavadas ou não.

Essas peças foram encontradas na sala da vizinha no dia seguinte pela mãe do garoto. A mulher entregou as roupas à polícia somente nove dias após o caso e em depoimento disse não ter falado com o filho sobre o assunto devido à orientação da psicóloga. 

Antes de sair da casa, a suposta autora do disparo disse, em depoimento, ter visto a mãe de Isabele chegar em sua residência. Patrícia, por sua vez, informou que a menina não estava no local quando chegou e nem falou com ela após o acontecido.

Ciosp é acionado somente 30 minutos depois e PM é barrada na portaria

A morte de Isabele, segundo depoimentos da família Cestari, ocorreu por volta das 22h. O Samu foi acionado às 22h02, mas o Ciosp somente em torno de 22h30, o que fez com a polícia chegasse mais de meia hora após a morte da garota.

Ainda durante e ligação com o Samu, o próprio médico do serviço de urgência diz que acionará a polícia, mas não se sabe ainda quem de fato ligou para o 190. 

Outro ponto, é que o policial que atendeu a ocorrência relatou, em depoimento, que os porteiros do condomínio informaram que Marcelo Cestaria estava exigindo um mandado judicial para que a polícia entrasse, o que dificultou o acesso dos policiais à residência. 

Intensa movimentação na casa, policiais 'amigos' no local, isolamento parcial da casa e armas escondidas

A mãe de Isabele e o médico Wilson Novais relataram a presença de muitas pessoas estranhas na residência dos Cestari. Wilson cita, inclusive, que dois policiais à paisana teriam agido como seguranças do empresário Marcelo Cestari. Patrícia, por sua vez, relatou que após receber a constatação do Samu de que Isabele estava morta, “sentou na frente da casa do local dos fatos e viu uma grande movimentação de pessoas, inclusive pessoas que não eram do condomínio”, momento em que viu chegar um carro cantando pneu, de onde saíram dois indivíduos “bastante agitados” e “prepotentes”. 

O carro seria inclusive de uso da Polícia Civil. Os dois policiais seriam amigos do empresário Marcelo Cestari, pai da jovem que teria atirado na amiga. Por meio de nota, a Polícia Civil afirmou que os policiais já foram removidos das unidades em que estavam lotados “por conveniência da administração pública”.  Eles atuavam na Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) e na Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (Deletran). A Corregedoria da Polícia Civil os investiga.

Outro policial na cena é o presidente da Federação de Tiros, Fernando Raphael Ferreira de Oliveira, que é 3º sargento PM e estava de serviço na noite do caso, tendo usado inclusive uma viatura para ir até o condomínio. O Comando Geral da Polícia Militar pediu investigação sobre a ida dele na residência de Marcelo. 

Em todos os depoimentos fica claro que somente a parte de cima da casa foi isolada, porém, era livre o acesso na residência. Fernando teria inclusive subido para orientar Marcelo com relação à documentação da arma, o que mostra que o isolamento também não era eficaz. 

Outra curiosidade é que quando o Samu chegou as armas de Marcelo estariam sobre a mesa da casa, mas Gaby teria escondido. Além disso, um tio de Isabele chegou a discutir com o empresário questionando sobre a arma de onde teria saído do disparo, que só foi entregue ao final ao delegado da Delegacia de Homicídio, Olimpio da Cunha Fernandes. 

Reunião com delegado 

Um dos policiais militares que esteve na residência na noite do crime, relatou que o delegado anteriormente responsável pelo caso, Olímpio da Cunha, se reuniu com o empresário Marcelo Cestari e com o seu advogado Rodrigo Pouso, logo depois do acidente. Segundo ele, após a chegada da Polícia Civil, Olímpio se reuniu com a família e o advogado para conversar enquanto aguardava a chegada da Politec.

Este também foi o policiais que disse ter notado que o corpo de Isabele foi “ajeitado”. Neste ponto, o depoimento conflita com a versão do médico cirurgião vascular, Manoel Garibaldi Cavalcanti Cavalcanti Mello Filho, que atestou a morte da adolescente e chegou pouco antes do Samu na residência. Garibaldi disse que não viu sinais de arrastamento do corpo.

Valor da fiança 

Um ponto que gerou polêmica neste caso foi o valor arbitrado em fiança para Marcelo Cestari, que saiu preso do condomínio no dia do crime por posse irregular de arma de fogo. Foi solto após pagar R$ 1 mil. A pedido do Ministério Público Estadual, o juiz João Bosco Soares da Silva, da 10ª Vara Criminal de Cuiabá, elevou o valor para R$ 209 mil.

Marcelo Cestari então alegou dificuldades econômicas devido à pandemia e conseguiu reduzir o valor para R$ 52 mil em duas parcelas. Em seguida, o MPE apresentou um recurso estrito na Justiça com o objetivo de aumentar o valor para 100 salários mínimos, o equivalente a mais de R$ 104,5 mil. Isto porque, o empresário gastou, somente no período de pandemia, R$ 45 mil em armas. Na ação consta, que ele tem os bens avaliados em R$ 10 milhões, dentre eles, uma Lamborghini e um avião. 

Perícia complementar 

Cinco dias após a tragédia, a polícia retornou à casa da Família Cestari para realizar uma perícia complementar na casa. Além disso, celulares foram apreendidos e também imagens das câmeras de vigilância da casa e do condomínio foram recolhidas. Nesta operação, os peritos usaram luminol, um reagente ao sangue, para verificar se o corpo foi arrastado ou se houve alteração na cena do crime. Também foram feitos os testes da balística para traçar a trajetória do tiro, distância e altura. 
Clique aqui, entre na comunidade de WhatsApp do Leiagora e receba notícias em tempo real.

Siga-nos no Twitter e acompanhe as notícias em primeira mão.


 

0 comentários

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do site. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
Sitevip Internet