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Notícias / Agro e Economia

26/08/2020 às 14:15

Exportações de soja podem parar indústrias e causar ‘corrida ao ouro’ no Brasil

Apesar da produção ter sido recorde, a demanda interna e principalmente internacional, foi superior ao montante produzido no Brasil

Edyeverson Hilario

Exportações de soja podem parar indústrias e causar ‘corrida ao ouro’ no Brasil

Foto: Reuters/Paulo Whitaker/Direitos Reservados

O grande volume das exportações de soja do Brasil deve resultar em, no mínimo, um forte ajuste nos estoques da oleaginosa durante este segundo semestre. Ocorre que, apesar do país registrar recorde na produção do cereal, os envios do grão para o exterior também foram acima da série histórica. Com isso, há grande probabilidade de indústrias de processamento de soja paralisarem suas atividades por falta de matéria prima, uma vez que os estoques estão baixos e a demanda internacional pela oleaginosa segue aquecida.
 
A produção brasileira de soja neste ano foi de 125,5 milhões de toneladas, volume que marcou um novo recorde de produção do cereal. Esse montante somado aos 3,3 milhões de toneladas do estoque de passagem, ou seja, que não foi comercializado na última safra, resultou em um total de 128,8 milhões de toneladas de soja para serem comercializados pelo país, durante o ano.
 
Desses, 77,7 milhões de toneladas devem ser exportadas até o final deste mês, segundo levantamento feito pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Sendo assim, restariam apenas 51,1 milhões de toneladas do cereal para serem comercializados. É importante frisar que a estimativa de consumo interno é de 44,6 milhões de toneladas de soja para atender a demanda das indústrias durante o ano.
 
Se confirmada essas estimativas, o país terá em torno de 6,5 milhões de toneladas da oleaginosa para ser comercializada. Quantidade que pode gerar uma espécie de “corrida ao ouro”, já que a próxima safra deve começar a ser colhida em dezembro, isso se as condições de plantios, desenvolvimento da safra e colheita ocorrerem de forma perfeita. Até lá, teremos pelo menos três meses de muita concorrência entre as indústrias que não fizeram suas compras para a manutenção das atividades até o fim do ano.
 
Para fazer coro com os dados compilados, em setembro do ano passado o Brasil exportou 5,8 milhões de toneladas de soja, volume que no período ainda foi 1,1% inferior ao visto em 2018. Se esse mesmo montante for repetido no próximo mês, o país terá menos de 1 milhão de toneladas da oleaginosa para atender o mercado interno e internacional. O que justifica uma possível “corrida ao ouro”, já que o preço da oleaginosa pode ter uma valorização jamais vista.
 
Nesse aspecto é importante frisar que as indústrias de pequeno e médio porte, as quais não têm capacidade de comprar soja para o ano todo, são as que mais devem sofrer com essa situação. Pois, não terão condições financeiras de competir com as grandes indústrias ou até mesmo com a China.
 
Caso não ocorra a falta de abastecimento, é bem provável que o país fique sem estoque de passagem, ou seja, não tenha soja disponível para ser comercializada enquanto a próxima safra for colhida, o que é considerado um processo perigoso. Isso porque qualquer problema que ocorra no ano que vem, pode resultar na falta de soja para o ano. Risco que pode atingir principalmente Mato Grosso, já que 50,5% da soja futura foram negociadas. O que pode refletir em todo o Brasil, já que o Estado é o maior produtor do grão no país.
 
Apesar dos dados evidenciarem um possível colapso no abastecimento da soja, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) diz que “está segura de que a produção nacional de soja será suficiente para atender a demanda interna de processamento da indústria e externa pela exportação de grãos até o final do ano”.
 
Já o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), fala que nenhuma das indústrias do estado reportou a possibilidade de terem que parar em algum momento do segundo semestre, mas assumiu que há um estreitamento nos estoques do Brasil.
 
De acordo com o gestor de Inteligência de Mercado do Imea, Cleiton Gauer, ao contrário do que os números sinalizam, o Instituto projeta um aumento no esmagamento do grão até o fim do ano. Ele ainda observou que “é normal haver uma redução [na oferta de soja], principalmente nesse momento, por conta da própria entressafra”. Disse ainda que é comum as empresas se organizarem com relação aos estoques para esse período. Por isso, é provável que todas já tenham comprado o suficiente para terminar o ano. “A não ser que algumas tenha esperado pegar oportunidades de mercado nesse período e não compraram”, justifica.
 
Gauer também frisou: “Uma coisa é certa: pensando em nível Brasil, vamos ter os estoques bem ajustados, sim, olhando todo o cenário que a gente vê por aí”, finaliza.
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